Há uma nuvem taliban a pairar sobre o futuro dos jovens afegãos

Mohammad Jawed Momand Mohammad Ismail/Reuters
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Mohammad Jawed Momand Mohammad Ismail/Reuters

A guerra do Afeganistão, uma das mais longas dos Estados Unidos a par da do Vietname — sobre o início da qual não existe consenso —, parece querer precipitar-se para um desfecho, mas a que custo? A Reuters visitou o país com o objectivo de auscultar os corações dos jovens afegãos acerca daquilo que o futuro lhes reserva. Encontrou dúvida, medo, mas também algum optimismo. O regresso dos taliban ao governo do Afeganistão é a principal fonte de preocupação dos jovens. Porquê? Representantes do grupo taliban mantêm, há 17 anos, a tese de que o governo instaurado pelos Estados Unidos é imposto e não tem legitimidade para governar. Recusam-se, assim, a integrá-lo no processo negocial para a paz. Se Estados Unidos e taliban chegarem a um acordo, e se as forças norte-americanas abandonarem, de facto, o Afeganistão, o actual governo afegão poderá sair fragilizado pela retirada do apoio militar ocidental. Será esse o caminho para uma nova tomada de poder taliban?

Os jovens afegãos ouvidos pela Reuters — com idades entre os 16 e os 26, membros da geração Z — temem que a radicalização islâmica inerente à presença jihadista num futuro governo possa dar lugar a uma nova ordem em que a liberdade de expressão – política e religiosa – e os direitos das mulheres possam sair prejudicados. É nas cidades – em Cabul e noutras de grande dimensão – que a mudança se fará sentir de forma mais notória. Actualmente, é natural para os jovens “tocar numa banda”, “ser modelo” ou “ter um corte de cabelo mais arrojado”. É um tipo de liberdade que dão por garantida. “cresceram com ela”. O Afeganistão tem uma larga fatia de população jovem: mais de 60 % da sua população de 35 milhões tem menos de 25 anos.

A jovem de 16 anos Maram Atayee, residente em Cabul, teme ter de abandonar os estudos musicais, “caso eles [os taliban] regressem”. Espera que, caso as partes cheguem a acordo, “todas as pessoas tenham acesso à música e que os direitos das mulheres sejam protegidos”. Durante o regime taliban que governou no Afeganistão, o estudo da música e a prática de desportos foram, então, restringidos, e impostos castigos severos às infracções à lei islâmica. Segundo a Reuters, “mais recentemente, os taliban têm vindo a adoptar um tom mais moderado”. “Têm prometido proteger os direitos das mulheres e promover a educação das meninas, apelado ao apoio de grupos estrangeiros e mostrado intenção de manter boas relações internacionais.” Porém, existem dúvidas se essa postura não será apenas parte de uma estratégia para nova tomada de poder.

Hussain, cabeleireiro em Cabul, tem 19 anos e esperança no final do conflito: “Desejo que os taliban alterem a sua postura e que não se comportem como fizeram no passado.” Omar vende roupas numa loja da capital e acredita que o presidente Trump está errado. “O Afeganistão precisa de ajuda [para manter os taliban afastados do poder]”, disse. O jovem quer continuar a viver no seu país e anseia pelo fim da violência, mas teme que o abandono dos Estados Unidos permita aos taliban um assalto ao poder.

O penteado de Sultan Qasim Sayeedi, modelo de 18 anos, “faz virar muitas cabeças” nas ruas da capital afegã. Utiliza o Facebook, o YouTube e o Instagram para se manter a par das últimas novidades do mundo da moda. “Temos medo que os taliban nos impeçam de sermos livres”, confessa, apesar de se revelar desejoso de paz. “Acredito que se as tropas americanas forem embora, teremos paz. Queremos paz.”

Aos 20 anos, Maryam Ghulami acredita que a sua geração fará a diferença que a geração dos seus pais não foi capaz de gerar. Designer gráfica e programadora, aprendeu ambos os ofícios numa academia online e utiliza o YouTube para aprender novos truques. Crê que a mudança chegará ao Afeganistão através do conhecimento e da tecnologia —  a longo prazo, nada que uma ligação mais rápida à Internet não resolva. Para o artista Mahdi Zahak, 25 anos, “existe esperança na paz, mas só se os taliban aceitarem as conquistas do país dos últimos 17 anos e deixarem as pessoas desfrutar das suas vidas”. Já a lutadora de muay thai Kawsar Sherzad acredita que os troféus ganhos pelas atletas afegãs podem vir a impressionar os taliban, que acabarão por aceitar que estas pratiquem desportos.

“Centenas de milhares [de jovens] emigraram quando a maior parte das forças internacionais abandonou o país, em 2014”, descreve a Reuters. “Muitos arriscaram a vida em viagens perigosas, em busca de nova morada em países como a Turquia e diversos outros países europeus.” Poderá esta vaga migratória vir a repetir-se em 2019?

Farzad Aslami
Farzad Aslami Mohammad Ismail/Reuters
Zarghona Haidari
Zarghona Haidari Mohammad Ismail/Reuters
Omid Arman
Omid Arman Mohammad Ismail/Reuters
Maram Atayee
Maram Atayee Mohammad Ismail/Reuters
Nadim Quraishi
Nadim Quraishi Mohammad Ismail/Reuters
Hussain
Hussain Mohammad Ismail/Reuters
Mahdi Zahak
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Zainab Farahmand
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Sultan Qasim Sayeedi
Sultan Qasim Sayeedi Mohammad Ismail/Reuters
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Sohail Ataie
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Wasim Anwari
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