Alenquer quer hotel em fábrica têxtil centenária

Antiga Chemina ardeu em 1999 e está em ruínas. Oposição queria que o edifício fosse reabilitado para usufruto da população face ao investimento que a câmara fará na envolvente

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A Câmara de Alenquer decidiu, esta segunda-feira, lançar uma hasta pública para alienar o que resta da antiga Chemina, uma fábrica de lanifícios situada no centro da vila que a autarquia quer, agora, ver transformada numa unidade hoteleira. A iniciativa foi, todavia, contestada por vereadores da coligação liderada pelo PSD e da CDU, que consideram que o imóvel devia se reabilitado para fins públicos. A maioria camarária socialista diz ter conhecimento do interesse de um investidor na instalação ali de um hotel e considera que essa opção será muito mais vantajosa para a dinamização da vila sede de concelho.

A hasta pública agora aprovada prevê um preço-base de venda do extenso edifício de 1,1 milhões de euros e que os eventuais interessados fiquem obrigados a construir uma unidade hoteleira, mantendo as características arquitectónicas da fachada da antiga fábrica. Obriga, também, o vencedor da hasta pública a ceder regularmente o auditório do hotel para eventos da Câmara.

A Fábrica de Lanifícios Tejo, também conhecida por Chemina, foi inaugurada em 1889. Já na década de 70 do século passado entrou em acelerada decadência e fechou no iniciou da década de 90, deixando os cerca de 30 funcionários que restavam no desemprego. Já em 1994, a Câmara de Alenquer decidiu adquirir o velho imóvel industrial, alegando que pretendia assegurar a sua salvaguarda como valor do património concelhio e adaptá-lo para a instalação de um museu e de outras valências culturais.

Mas, já em 1999, o edifício sofreu um incêndio de grandes dimensões, que consumiu o telhado e todo o seu interior, assentes em estruturas de madeira, e fragilizou a extensa fachada virada para o rio de Alenquer. Nos últimos 20 anos várias possibilidades de reaproveitamento foram ventiladas, mas nenhuma avançou. Uma primeira hasta pública para venda lançada na década passada também não despertou o interesse de nenhum concorrente.

Agora, o executivo camarário entende que há novas perspectivas para o espaço e garante que foi contactado por um investidor interessado em instalar ali uma unidade hoteleira. “Esta hasta pública pretende sensibilizar o mercado e ver se haverá interessados em construir esta unidade hoteleira, que pensamos que pode ajudar a dinamizar o centro de Alenquer. O objectivo é acelerar a requalificação do edifício, porque nunca poderá ser requalificado com apoios do Centro 2020 (fundos comunitários), porque não é considerado espaço público”, sustentou Pedro Folgado, presidente da Câmara de Alenquer, estimando que a reabilitação do imóvel custe 4 a 5 milhões de euros. No entender do autarca do PS, a construção do hotel na antiga Chemina virá, também, responder a uma questão colocada frequentemente, que é o facto de Alenquer não ter nenhuma unidade hoteleira.

Ernesto Ferreira, vereador da CDU, não concorda com esta proposta e recordou que a Câmara sempre foi dizendo ao longo dos anos que a antiga Chemina deveria ser recuperada para valências que servissem a população local. “Entendemos que a hasta pública é um erro e, ainda por cima, a Câmara vai ter que suportar a requalificação de todos aqueles espaços envolventes. O que seria desejável é que a Câmara apresentasse uma candidatura a fundos comunitários para transformar aquele espaço para actividades do domínio público”, defendeu o eleito da coligação liderada pelo PCP, sugerindo a instalação ali do Museu Municipal e de outros equipamentos culturais.

Já Frederico Rogeiro, vereador da coligação liderada pelo PSD, estranha que o programa Centro 2020 não contemple projectos de reabilitação de edificado e quis saber o que é que a Câmara vai fazer aos 2, 1 milhões de euros que tinha orçamentados para 2019 para intervir no espaço da Chemina.

“Acho inadmissível vir a gastar 2, 1 milhões de euros nos espaços envolventes da Chemina. Não vão certamente gastar 2,1 milhões num parque de estacionamento”, criticou, preconizando uma consolidação estrutural do que resta da fábrica” e o seu reaproveitamento faseado para fins públicos. Pedro Folgado explicou que os 2,1 milhões de euros poderão ser canalizados para outras obras, mas que foram orçamentados tendo em vista uma estabilização da extensa fachada e o arranjo dos espaços públicos envolventes.

“Fiquei muito surpreendido com esta intenção. A Câmara já tem a Chemina há 25 anos, o incêndio já foi há 19 e durante 25 anos nunca encontraram uma solução. Sempre pensei que, depois de estarem contratualizados os fundos comunitários, a Câmara apresentasse um projecto de requalificação, onde poderia ter parceiros. Que garantias tem a Câmara de que vai ter um investidor que vai cumprir aquilo que está aqui previsto?”, questionou Frederico Rogeiro, contestando a alienação do imóvel e a intenção da Câmara de suportar todo o arranjo da zona envolvente.

Pedro Folgado garantiu que “não há aqui nada por detrás disto” e que a Câmara pretende, apenas, apurar se haverá investidores que se apresentem à hasta pública para concretizar esta instalação de um hotel na vila sede de concelho. “Se houver interessados, depois de alienarmos o imóvel, quando apresentarem o pedido de licenciamento é que será trabalhado o projecto para aquele imóvel. Não há aqui um negócio, há uma intenção de um investidor de, eventualmente, fazer ali um hotel. Mas para isso temos que abrir uma hasta pública e alienar o imóvel”, rematou o presidente da Câmara, assegurando que uma das condições fundamentais será a manutenção da traça da fachada da antiga Chemina.

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