Alterações climáticas vão mudar cor do oceano

Mudanças no clima afectam os microorganismos vegetais do oceano, o que tem impacto na cor da água. A cor do oceano é assim uma assinatura das alterações do clima.

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Proliferação de algas na costa norueguesa vista pelo satélite Landsat 8 em 2017 Mike Carlowicz/Kathryn Hansen

As alterações climáticas estão a provocar mudanças significativas no fitoplâncton (microorganismos vegetais) que vive no oceano, o que irá fazer mudar a cor da água nas próximas décadas, diz um estudo divulgado esta segunda-feira.

As cores azuis e verdes serão mais intensas na superfície do oceano, indica o estudo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), segundo o qual os satélites deverão detectar essas mudanças de tonalidade, alertando para transformações em larga escala nos ecossistemas marinhos.

Num artigo publicado na revista Nature Communications, os investigadores explicam que desenvolveram um modelo global que simula o crescimento e a interacção das diferentes espécies de fitoplâncton, e como a mistura de espécies em vários locais vai mudar à medida que as temperaturas aumentam.

Os responsáveis também simularam a forma como o fitoplâncton, constituído por algas microscópicas, absorve e reflecte a luz, e como a cor do oceano muda à medida que o aquecimento global afecta a composição das comunidades de algas, que constituem a base da cadeia alimentar.

Os investigadores fizeram projecções do modelo até ao fim do século XXI e descobriram que, em 2100, mais de metade do oceano mudará de cor devido às alterações climáticas. As regiões mais azuis, como os subtrópicos, vão ficar ainda mais azuis, sinal de menor quantidade de fitoplâncton (e vida em geral). Regiões mais verdes, como as que estão próximo dos pólos, podem ficar ainda mais verdes, em resultado de um aumento da massa vegetal microscópica.

Stephanie Dutkiewicz, do Departamento de Ciências Terrestres, Atmosféricas e Planetárias do MIT, principal autora do estudo, afirma que o modelo sugere que as mudanças não serão tão grandes que se vejam facilmente a olho nu mas que irão afectar a cadeia alimentar que o fitoplâncton sustenta.

A cor do oceano depende de como a luz do Sol interage com o que está na água. As moléculas da água absorvem quase toda a luz do Sol excepto a parte azul do espectro, que é reflectida de volta. Por isso, regiões do oceano relativamente áridas aparecem, vistas do espaço, com azuis mais profundos.

No caso de haver organismos na água, eles podem absorver e reflectir diferentes comprimentos de luz. O fitoplâncton contém clorofila, um pigmento que absorve especialmente a parte azul da luz do Sol para produzir carbono para a fotossíntese. Como absorve menos luz verde, essa luz é reflectida, dando às regiões ricas em algas um tom esverdeado.

Stephanie Dutkiewicz diz que a clorofila não reflecte necessariamente os sensíveis sinais de mudanças climáticas e que variações podem ser devido também a variabilidades naturais. Mas adianta que através de satélites é possível fazer medições que reflictam reais sinais de mudança. As alterações climáticas, garante, já estão a mudar a composição do fitoplâncton e, por extensão, a cor do oceano.

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