PSD unido, para variar, na defesa do regresso de Miguel Macedo à vida política

O recurso já admitido pelo MP pode impedir Macedo de regressar a tempo de integrar as listas para as legislativas.

Foto
Miguel Macedo foi absolvido de todos os crimes de que estava acusado LUSA/TIAGO PETINGA

A absolvição de Miguel Macedo de um crime de prevaricação e três de tráfico de influências no âmbito do processo dos vistos gold, devolveu o PSD a uma inusitada unidade. Influentes personalidades e dirigentes do partido, à margem das guerras internas, querem e desejam o regresso à vida política e partidária do ex-ministro da Administração Interna de Pedro Passos Coelho.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A absolvição de Miguel Macedo de um crime de prevaricação e três de tráfico de influências no âmbito do processo dos vistos gold, devolveu o PSD a uma inusitada unidade. Influentes personalidades e dirigentes do partido, à margem das guerras internas, querem e desejam o regresso à vida política e partidária do ex-ministro da Administração Interna de Pedro Passos Coelho.

“Miguel Macedo não perdeu nenhum talento político e, portanto, tem todas as condições para dar o seu contributo à política, assim ele queira”, disse este sábado ao PÚBLICO Manuel Castro Almeida. Este "vice" de Rui Rio acabado de regressar de Angola, embora ainda sem ter falado com o presidente do PSD nem com o próprio Macedo, foi peremptório. O “assim ele queira” só pode ser interpretado como total disponibilidade. Na verdade, o partido espera por ele.

“Sou muito amigo e há muitos anos de Miguel Macedo, esperava esta sentença, estava convencido de que ele não tinha cometido nenhum crime”, destaca Castro Almeida. A certeza da inocência é também afirmada por Paula Teixeira da Cruz que, ao PÚBLICO, faz questão de reiterar essa convicção mais de uma vez.

“Faço uma declaração de interesses, sou amiga dele há 30 anos, mas nunca o vi utilizar qualquer cargo político em proveito próprio”, salienta a ex-colega, com a pasta da Justiça, no executivo de Passos Coelho. “Eu desconfio é quando o político enriquece, aí há qualquer coisa de estranho”, prossegue. Não é esse o caso de Macedo, reafirma a deputada do PSD, uma das testemunhas ouvidas no tribunal. “Testemunhei presencialmente, sempre ao dispor de quem quisesse perguntar”, explica.

“Naturalmente que veria com bons olhos o seu regresso à vida política, o dr. Miguel Macedo é o que quiser em termos políticos”, assinala. “Não posso falar por um partido inteiro, mas gostava de o ver regressar às lides do PSD”.

Este desejo é partilhado pelo eurodeputado José Manuel Fernandes, presidente da distrital social-democrata de Braga, círculo pelo qual Macedo foi eleito deputado desde 1987. “Vejo o seu regresso à política activa como útil para o país e para o partido, até porque ele nunca deveria ter saído”, insiste.

O regresso à política, em ano de legislativas, remete, obviamente, para as listas de candidatos à Assembleia da República. Como cabeça de lista por Braga? “A escolha dos cabeças de lista é da responsabilidade do líder do partido, não vou fazer declarações que criem problemas ao líder e ao dr. Miguel Macedo”, refere.

Rui Rio manteve uma coerência discursiva face ao antigo ministro. “As suas acções sempre foram determinadas pelo interesse público”, testemunhou ao tribunal, em vídeoconferência, em 30 de Janeiro de 2018. “Nunca o achei capaz de utilizar um cargo público em benefício próprio”, reiterou esta sexta-feira num rápido tweett de felicitações pela sentença de absolvição.

O regresso de Macedo à vida partidária e a candidato a deputado permitia a recuperação por Rio de uma figura do Governo de Passos, conhecida pela sua capacidade de estabelecer pontes internas. Não só o PSD sarava as feridas abertas pela Operação Labirinto que levaram à demissão do antigo ministro em 16 de Novembro de 2014, como a direcção ganhava espaço de manobra. Para, paradoxalmente, utilizar uma malha mais apertada na escolha de outros candidatos para a bancada, sem ser acusada de antipassismo.

A absolvição de Miguel Macedo – “o tribunal deu resposta às canalhices que me fizeram”, desabafou o próprio -, dá ainda uma nova expressão às críticas de Rio à Justiça e, sobretudo, à acção do Ministério Público (MP), cuja acusação não foi considerada pelo colectivo presidido pelo juiz Francisco Henriques. “Este tribunal não faz fretes a ninguém”, assegurou.

Mas, à margem da vontade de Rui Rio ou da disponibilidade de Macedo, há uma condicionante. O recurso já admitido pelo MP pode ditar um calendário que impeça Macedo de regressar a tempo de integrar as listas para as legislativas de 6 de Outubro.