Um outro olhar

Ao verificar a forma de actuação das equipas de arbitragem na relação com o videoárbitro (VAR), verificamos que houve uma alteração com algum significado no modo de intervenção.

Ao analisar os jogos desta jornada, e ao verificar a forma de actuação das equipas de arbitragem na relação com o videoárbitro (VAR), concluo que houve uma alteração com algum significado no modo de intervenção, daí que o desafio seja olhar de forma diferente para os casos, não tanto pela perspectiva da decisão correcta ou errada, mas para verificarmos quer o grau de dificuldade dos lances, quer os indícios presentes em cada situação e que servem de base para a actuação e consequente decisão.

O que mudou mesmo foi que tivemos o VAR a intervir em diversas situações, quando em jornadas anteriores acabava por não solicitar a revisão no monitor por parte do árbitro. No jogo Santa Clara-FC Porto, ao minuto 21, há um lance de possível penálti de Marco Pereira (guarda-redes) sobre Herrera, mas como no início da jogada há uma carga nas costas de Brahimi sobre Patrick, o resto do lance acaba por ser anulado.

O VAR, bem, em vez de verificar apenas o penálti, que acabou por considerar, e o início da transição ofensiva, que foi a tal falta de Brahimi (e com isto abster-se de comunicar ao árbitro, o que em termos de produto final estaria certo mas iria levar a reclamações, pois passava a ideia de um penálti não assinalado e da não verificação do mesmo pelo VAR), solicitou a ida do árbitro ao monitor.

Revista a jogada, o árbitro recomeçou o jogo com livre directo a favor do Santa Clara e assim se passou uma imagem de verificação e de intervenção do VAR, “vendendo” claramente ao público em geral todo este processo. Ou seja, toda a forma de comunicar para o exterior foi assim entendida no estádio e em casa.

O mesmo sucedeu no minuto 57, quando o FC Porto fez o segundo golo. Uma vez mais, o VAR levou o árbitro a ir ao monitor para verificar se Soares tinha cometido infracção sobre Patrick e, concordemos ou não com a decisão final, esta pertenceu por inteiro ao árbitro do jogo, validando assim a utilidade do VAR, que cumpriu o seu papel. Ao chamar a atenção para um lance que não sendo de todo claro e óbvio, mas que teve importância extrema no resultado, evitou que a questão morresse na apreciação e análise solitária e exclusiva do VAR, validando a decisão final do árbitro.

Em Alvalade, no Sporting-Nacional, por diversas vezes houve a intervenção do VAR e a deslocação do árbitro ao monitor para constatar, ele próprio, se mantinha ou alterava a sua decisão inicial. Foram alguns os lances de análise, nomeadamente ao minuto 64, no possível penálti de Júlio César sobre Diaby que o árbitro não assinalou, e ao minuto 73, no eventual cartão vermelho a Vítor Gonçalves pelo toque com o pé na cabeça de Gudelj. Curiosamente, em ambos o árbitro não alterou a decisão inicial.

Nos outros casos, minuto 18, golo anulado ao Sporting por fora-de-jogo de Diaby, e nos penáltis assinalados aos minutos 35 (falta de Vítor Gonçalves sobre Bas Dost) e 85 (infracção de Kalindi sobre Bas Dost), o VAR limitou-se a verificar e validar as decisões iniciais quer do assistente, no fora-de-jogo, quer do árbitro nos penáltis.

No jogo Marítimo-Benfica, houve menos casos de jogo. O VAR interveio, obviamente, verificando os lances de acordo com o protocolo, mas não levou o árbitro a recorrer ao monitor. Houve, no meu entender, dois momentos importantes do jogo que poderiam ter, contudo, levado o árbitro a verificar essas ocorrências.

Aos 45+1', aquando do penálti de Amir sobre Jonas, pois há três momentos importantes nesse lance - se Jonas dominou a bola com o braço ou com o peito, se Amir tocou com o pé e depois com a mão no pé de Jonas e se o derrubou nessa acção, e se a acção disciplinar correcta era, como o árbitro mostrou, apenas o cartão amarelo; e aos 65', aquando da entrada de Fabrício sobre Gedson, no sentido de saber se era merecedora de algo mais que cartão amarelo.

Como sabemos, os penáltis e os cartões vermelhos directos fazem parte do protocolo e o VAR obviamente que verificou os lances e que os validou, ou por concordar com ambas as decisões, ou por achar que em nenhuma delas havia um erro claro e óbvio. Se o primeiro lance me parece me mais pacífico, já no segundo defendo que deveria ter ido ao monitor confirmá-lo.

Em resumo, há uma mudança e uma maior amplitude na intervenção do VAR e um aumento do recurso ao monitor. O que eu penso sobre isto? Gosto. Mas mais do que gostar, acho que torna mais válida e útil esta ferramenta, pois o que todos queremos é uma arbitragem com menos erros e sobretudo um futebol com menos polémica e com mais verdade desportiva. E um uso mais assertivo do VAR pode, e de que maneira, contribuir para isso mesmo.

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