Leeuwarden: encerramento ou renascimento?

Como vai Leeuwarden, Capital Europeia da Cultura de 2018, celebrar a cultura no futuro? Será capaz de continuar a atrair visitantes e investimento de fora?

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Os Gigantes do Royal de Luxe A-Ria/Pixabay

O fim de Novembro marcou o encerramento oficial de Leeuwarden, na Holanda, como Capital Europeia da Cultura de 2018 (LF2018). Ou melhor, a reabertura: a intenção é continuar a celebrar a cultura em 2019 e por ai além.
 
Já há mais de 30 anos que todos os anos uma ou mais cidades europeias abrigam o título de Capital Europeia da Cultura. Este evento foi criado em 1985 com o propósito de celebrar a riqueza e a diversidade cultural da Europa, estimulando em simultâneo o sentimento de pertença ao Velho Continente. Indirectamente, é também um impulso a novas energias na cultura de uma cidade, aumentando a capacidade do sector, tentando assim elevar o seu perfil internacional. Em 2018, duas cidades receberam o título: Leeuwarden, na Holanda, e Valetta, em Malta. Recordemos que em 1994 foi Lisboa a Capital Europeia da Cultura, em 2001 foi o Porto e em 2012 Guimarães. 
 
Leeuwarden é a capital da província da Frísia, uma das três províncias do Norte dos Países Baixos. Tal como em algumas zonas do interior de Portugal, a Frísia enfrenta vários desafios socioeconómicos, incluindo o envelhecimento e diminuição da população, ombro a ombro com um crescimento económico muito mais fraco do que o das áreas centrais da Holanda. Pode-se dizer que a Frísia começou a utilizar a cultura como forma de fomentar o desenvolvimento sócio-económico já nos anos 80, quando novos festivais foram criados, atraindo até aos dias de hoje milhares de espectadores. Com o título de Capital Europeia da Cultura, a Frísia ambicionou benefícios sócio-económicos a uma maior escala. Como se podia ler no programa submetido à Comissão Europeia: “O nosso objectivo é focar na participação do cidadão em todos os eventos do nosso programa.”

Com um orçamento de cerca de 70 milhões (quase três vezes mais do que o de Guimarães em 2012), o LF2018 albergou eventos como:

  • Batatas selvagens: tudo sobre a arte de fazer, comer e distribuir batatas com projectos de arte como poesia a serem trocados entre Leeuwarden e Valetta (Malta), as duas cidades que detêm o título, em sacos de batatas comercializados para o entretenimento do consumidor;
     
  • Os Gigantes de Royal de Luxe: esta companhia mundialmente famosa actuou em Leeuwarden, tendo a cidade como palco, e centenas de milhares de visitantes para assistir ao espectáculo em movimento.
     
  • De Stormruiter: um épico evento teatral com 120 cavalos frísios no centro das atenções, que esgotou a bilheteira durante um mês inteiro.

Um legado mais controverso foram as 11 fontes, colocadas em cada uma das 11 cidades da Frísia, muitas encomendadas a artistas estrangeiros. Alguns não ficaram satisfeitos com essa imposição de arte forasteira. Um artista local, Henk de Boer, até desenvolveu a fonte financiada por crowdfunding em protesto e inspirada na expressão holandesa Jan Lul, o bobo que acaba por ser excluído. O conceito-chave do LW2018 — Iepen Mienskip ("Comunidade Aberta" na língua frísia) — afinal pode ter suas limitações.

Como foi passear e visitar Leeuwarden durante estes dias? Havia muita coisa a acontecer na cidade: o LUNA, o festival de média a iluminar a cidade à noite, e o Explore the North, um festival que fez de Leeuwarden um centro de música e estórias, com sede numa grande estufa, ponto de encontro perfeito para a audiência do festival e para transeuntes. Além disso, várias exposições em curso estavam à disposição do visitante, como as grandes instalações de poesia visual em Tresoar, o centro histórico e de idiomas da Frísia. Foi uma pena, porém, que a exposição na cave só tenha sido curada em frísio e holandês — faz alguém duvidar se visitantes estrangeiros não deveriam visitar e aprender sobre a Frísia.

Tendo a Frísia a sua própria língua, a celebração das línguas podia ser sentida por toda a cidade de Leeuwarden, incluindo lugares inesperados como paredes e ciclovias. Foi muito impressionante poder entrar em contacto com cerca de sete mil idiomas no centro de visitantes do Oldehoofsterkerkhof. Estava frio e uma questão permaneceu sempre pendurada na neblina: como vai Leeuwarden continuar a celebrar a cultura no futuro? Será capaz de continuar a atrair visitantes e investimento de fora?

Nem sempre isso acontece. No Porto, logo a seguir ao título em 2001, a oferta cultural sofreu um declínio considerável, enquanto Guimarães parece manter o entusiasmo, embora ainda seja cedo para conclusões a longo prazo. Quanto a Leeuwarden, só o futuro tem a resposta. Dito isto, até Março, pode-se viajar de volta a histórias de amor na Idade de Ouro com a recém-inaugurada Rembrandt e Saskia exibida no Museu da Frísia. Assim, uma bela razão para ir ate à Holanda e visitar Leeuwarden este Inverno.

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