Dar sustentabilidade ao voluntário através da diversão

E vocês têm algo que vos apaixona e que pudesse ser transformado numa ferramenta de intervenção social e voluntariado? Não hesitem. A vossa felicidade e a dos outros depende disso.

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Esta quarta-feira, 5 de Dezembro, assinala-se o Dia Internacional do Voluntariado. De acordo com os dados mais recentes, apenas um em cada dez portugueses com mais de 15 anos fez acções de voluntariado formal. Comparando com os restantes membros da União Europeia estamos nos últimos lugares, pois alguns países, como a Holanda, mais de metade da população já fez voluntariado.

As razões para este panorama podem ser várias: económicas, sociais e culturais. Em Portugal podemos simplesmente não considerar como acções de voluntariado algumas práticas de voluntariado por serem algo natural nas nossas relações sociais e culturais. O factor económico e de organização do trabalho pode justificar também essa redução, pois trabalham-se demasiadas horas em Portugal e os salários são baixos, deixando pouca margem de manobra para actividades extra-trabalho. Por outro lado, os vínculos familiares em Portugal são fortes, competindo pelo tempo e atenção, que já se torna difícil de conciliar com a vida profissional e escolar. Por fim, a percentagem de voluntários pode ser baixa devido à própria organização do voluntariado, que tende a ser insustentável.

Se apenas pouco mais de 10% da população portuguesa fez voluntariado, ainda menos será a percentagem que o faz regularmente. Essas actividades tendem a ter uma duração limitada e determinada no tempo. São poucos os casos de pessoas que mantêm a mesma actividade de voluntariado além dos três anos. Apesar de o voluntariado não dever de modo algum substituir actividades remuneradas e formais, continua a ser muito importante, especialmente pela capacitação de quem o assume, por desenvolver competências e por ter impactos sociais relevantes na comunidade. Por isso, importa perceber como se pode tornar o voluntariado mais sustentável, integrado na vida social, sem esgotar os voluntários e os projectos.

Uma das formas de dar sustentabilidade aos projectos de voluntariado passa por tornar as próprias actividades agradáveis, divertidas e relevantes para quem as faz. Se o voluntariado for sentido como uma obrigação desagradável, dificilmente se poderá manter e cativar mais pessoas. Podemos recorrer a jogos, a técnicas de gamificação (gamification) e de jogos sérios (serious games) para transformar as actividades e gerar outro tipo de impacto nas pessoas.

Em Leiria desenvolvemos isso através dos Boardgamers de Leiria, da associação Asteriscos. Utilizamos a nossa paixão por jogos de tabuleiro modernos para fazer vários projectos, onde existe amplo espaço para fazer voluntariado. Utilizamos os jogos de tabuleiro em visitas aos serviços de pediatria e psiquiatria do centro hospitalar de Leiria. Realizamos sessões de jogos com escolas de modo a abrir esses espaços a toda a comunidade escolar e local, tal como para poderem ser utilizados como ferramentas pedagógicas. Visitamos instituições de solidariedade social para demonstrar como podem usar os jogos como ludoterapia e atrair as famílias dos utentes para actividades inclusivas, intergeracionais e integradoras. São muitas as actividades e possibilidades. Mas só as temos conseguido fazer com sucesso porque nos divertimos a fazê-las. Temos uma paixão por estes jogos, o que muito facilita a sua aplicação a outros contextos.

E vocês têm algo que vos apaixona e que pudesse ser transformado numa ferramenta de intervenção social e voluntariado? Não hesitem. A vossa felicidade e a dos outros depende disso.

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