Vieira teve um “feeling” e Rui Vitória fica

Demissão do treinador estava acertada na noite de terça-feira, mas a madrugada trouxe surpresas. Presidente acredita que o tempo lhe dará razão.

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LUSA/António Pedro Santos

No final da temporada 2012-13, a direcção do Benfica tinha decidido prescindir de Jorge Jesus depois de o técnico perder as finais da Liga Europa e da Taça de Portugal, para além de um campeonato que parecia encaminhado. Contra tudo e contra todos, Luís Filipe Vieira decidiu manter o treinador. Os êxitos que se seguiram deram-lhe razão. O presidente voltou agora a apostar sozinho na continuidade de Rui Vitória. Pelo menos até ao final desta temporada.

O líder “encarnado” não esteve com rodeios esta quarta-feira ao final da tarde, quando foi à sala de imprensa do Estádio da Luz confirmar o que já se adivinhava. Rui Vitória esteve praticamente despedido na noite de terça-feira, após uma reunião da direcção da Sociedade Anónima Desportiva (SAD, que controla o futebol do clube), mas, durante a madrugada, Luís Filipe Vieira pensou melhor e surpreendeu mais uma vez os seus pares.

“Foi uma decisão muito amadurecida durante a noite e que comuniquei às sete da manhã”, revelou, chamando a si a responsabilidade pela mesma e contrariando o que havia sido apalavrado na véspera durante a tal reunião nocturna da direcção.

O presidente teve um “feeling”. O mesmo que sentiu em relação a Jorge Jesus há cinco anos e meio. “Foi uma luz que me deu […]. Neste momento há um descontentamento generalizado entre os benfiquistas. Mas para aquilo que é importante no projecto do Benfica é importante que o Rui Vitória continue”, explicou.

Ladeado por Domingos Soares Oliveira, administrador-executivo da SAD, e por Rui Costa, director desportivo, Vieira admitiu divergências em relação à sua decisão unilateral, mas garantiu que a mesma está tomada e que os restantes responsáveis acabaram por aceitá-la.

“Fui eleito para tomar decisões e no dia em que o Benfica for comandado de fora para dentro estamos mal”, prosseguiu, afirmando não ser um “presidente resultadista” e lembrando que a estabilidade que tem mantido na equipa técnica na última década “já valeu 16 títulos”, seis dos quais conquistados pelo actual técnico.

Rui Vitória continua, assim, a encaixar no projecto do Benfica e Vieira reforçou esta opinião durante a conversa que manteve com o treinador no centro de estágio do Seixal. “Falei com Rui Vitória e disse-lhe o que é que eu pensava sobre o Benfica e se ele estava motivado face ao que tinha acontecido nos últimos dois dias.” A resposta foi positiva. “Vamos ver se o tempo me dará razão.”

Segundo o líder benfiquista, o treinador e o seu empresário apresentaram-lhe mesmo uma proposta que receberam de um clube estrangeiro, no qual iria ganhar cerca de “seis milhões de dólares ou euros por temporada”, oferta que recusaram. Por outro lado, Vieira também anunciou que o técnico lhe comunicou que prescindiria de qualquer indemnização no caso de abandonar o clube da Luz antes do final do seu contrato, que dura até 2020.

Em relação a um eventual pré-acordo com Jorge Jesus para o actual treinador dos sauditas do Al Hilal regressar ao Benfica, Vieira negou peremptoriamente a sua existência. “Falei com ele, mas nunca para vir para o Benfica.” Já em relação a outros nomes que foram avançados em diversos órgãos de comunicação social, admitiu que alguns foram falados na reunião de terça-feira. “Fui também contactado por outros que me deixaram surpreendido”, sublinhou.

Contra tudo e contra todos e aconteça o que acontecer, Vieira deixou uma certeza: “O Rui Vitória será o treinador até ao final da época garantidamente... A não ser que haja algum imprevisto.”

Malapata europeia

Com 20 pontos conquistados no campeonato em 30 possíveis, o Benfica ocupa o quarto lugar da classificação, a quatro pontos de distância do líder FC Porto. Um registo que até é melhor do que aquele que se verificava no mesmo período (10.ª jornada) na temporada de estreia de Rui Vitória na Luz (2015-16), quando acabou por conquistar o título.

Na altura ocupava também a quarta posição da tabela, com menos um ponto do que actualmente e a sete do primeiro lugar ocupado então pelo Sporting de Jorge Jesus.

A (enorme) diferença está nas prestações no palco dourado da Liga dos Campeões. Há três épocas, o técnico conduziu os “encarnados” aos quartos-de-final da prova, onde seria afastado precisamente pelos alemães do Bayern Munique. Um desaire por números bem mais dignos do que os actuais: derrota fora por 1-0 e empate caseiro a duas bolas.

No ano seguinte, 2016-17, em que conquistaria o tetracampeonato, o Benfica voltou a ultrapassar a fase de grupos da competição milionária, mas seria travado logo nos oitavos, mais uma vez por uma formação germânica, desta vez o Borussia de Dortmund. Os lisboetas venceram em casa, por 1-0, a partida da primeira mão, mas acabariam por ser também goleados na Alemanha, por 4-0.

Mas o verdadeiro desastre veio nas épocas seguintes, em que o conjunto benfiquista não ultrapassou a fase de grupos. Em 2017-18, a humilhação foi total, tendo perdido todo os jogos (destacando-se a goleada em Basileia por 5-0) e encerrando este infeliz capítulo europeu com o pior registo de sempre de uma equipa portuguesa na competição.

E se juntarmos os resultados do ano passado aos desta temporada, as contas são particularmente dramáticas. Em 11 jogos, a equipa alcançou apenas um triunfo e um empate, somando nove derrotas. Ou seja, em 33 pontos possíveis, amealhou quatro. Um cenário muito distante do ambicionado por Luís Filipe Vieira, que queria trazer o Benfica de novo à ribalta europeia.

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