Afiliação entre hospitais: um contributo para a qualidade dos serviços de saúde

Como diz um provérbio africano, se queres ir depressa vai sozinho, mas se queres ir longe vai com outros. O Serviço Nacional de Saúde tem que ir cada vez mais longe e a afiliação dos hospitais pode dar um excelente contributo para isso.

O desenvolvimento científico e a inovação tecnológica abrem cada vez mais oportunidades para melhorar a qualidade da prestação dos cuidados de saúde. Essa qualidade traduz-se num aumento da esperança média de vida e do bem-estar dos utentes. Quanto mais qualidade de serviço proporcionamos, mais qualidade de serviço esperam os nossos cidadãos – numa espiral exigente, mas profundamente desafiante e estimulante para os sistemas de saúde em geral e para o Serviço Nacional de Saúde em particular.

Neste novo contexto de progresso acelerado das técnicas e das tecnologias, a oportunidade de responder cada vez mais e melhor às necessidades das pessoas, resolvendo os seus problemas concretos e assegurando, ao mesmo tempo, a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde, tem uma chave. Essa chave é a cooperação e a articulação entre serviços, entre cuidados e entre instituições.

A afiliação entre hospitais é um processo de duplo ganho, visando extrair de cada unidade do sistema o melhor que ela lhe pode dar, promovendo simultaneamente a valorização de todos os envolvidos na rede.

Tal como a imagino e proponho, a afiliação é mais do que uma ligação meramente funcional e muitas vezes circunstancial entre duas unidades ou dois serviços de um hospital. Afiliar incorpora a ideia de ligação duradoura e de pertença emocional a um sistema de resposta mais eficaz e gratificante. Afiliar é escolher ser parte de um grupo, beneficiando todos do trabalho e da partilha.

O processo voluntário de afiliação e de constituição dos grupos de resposta é extremamente positivo em si mesmo, tendo em conta que gera parcerias para o futuro. Ao dinamizar um processo de afiliação entre hospitais, mesmo que ele não seja alicerçado num histórico de cooperação, é criada a intenção de um futuro comum. Estas dinâmicas são fundamentais. Induzem os hospitais a juntarem-se para desenharem e construírem respostas que antecipam necessidades, permitindo fazer mais coisas e mais duradouras do que as que cada um deles faria sozinho.

A atratividade implícita deste modelo é a sua facilidade de implementação e benefício gerado. Ao mesmo tempo que permite ir para além de uma mera articulação, dado que há uma coresponsabilização cruzada pelo sucesso das respostas, este modelo não tem as implicações traumáticas geralmente associadas a processos de fusão de serviços.

Se falarmos de afiliação clínica, constatamos que esta permite a co-promoção de serviços clínicos, promove a troca de referências mutuamente benéficas e permite a partilha dos custos dos investimentos em recursos onerosos como os recursos humanos e os equipamentos. São vários os exemplos internacionais, como a AllSpire Health Partners ou a Stratus Healthcare, onde este processo está implementado com sucesso.

O processo de afiliação tem etimologicamente uma inspiração na ideia de grupo. A afiliação, nesta perspetiva, visa consolidar ligações duradouras e estáveis sem limitar a personalidade e a identidade de cada um. Garante a individualidade e a sinergia dada pela segurança associada à pertença ao grupo.

A afiliação dos hospitais é uma oportunidade para criar um espaço de suporte e também de partilha de responsabilidades e recursos, constituindo por isso mais uma oportunidade que um limite. É um espaço de crescimento para as instituições, em conjunto, darem respostas melhores do que as dariam sozinhas.

Entre 2016 e 2018 foram estabelecidos alguns protocolos de afiliação entre várias instituições hospitalares do SNS, que englobam diversas unidades e áreas distintas. A título de exemplo, o Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO) e o Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) têm um acordo específico na área da urologia, em que os médicos desta segunda unidade se deslocam com os seus doentes à primeira para a realização de tratamentos de litotrícia.

O CHBM tem ainda um protocolo de cooperação com o Hospital Garcia de Orta, tendo este passado a realizar um meio complementar de diagnóstico para os doentes com neoplasia do reto, o que permitiu melhorar a resposta dada a estas pessoas. O Centro Hospitalar Lisboa Norte tem também vários projetos de afiliação, nomeadamente na área da Psiquiatria, com o Centro Hospitalar do Oeste.

A inovação e a mudança não põem em causa a história e memória das instituições hospitalares e dos serviços. Pelo contrário, sustentam a sua continuidade num processo de melhoria contínua. 

Como diz um provérbio africano, se queres ir depressa vai sozinho, mas se queres ir longe vai com outros. O Serviço Nacional de Saúde tem que ir cada vez mais longe e a afiliação dos hospitais pode dar um excelente contributo para isso.

A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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