Um apaixonado pela bola e pela arte que nunca teve medo da palavra “bonito”

Uma colecção reunida ao longo da vida e ainda em construção. Uma colecção que acompanha a geografia profissional de um dos treinadores mais marcantes do futebol português, um “homem de classe” que agora tem aulas de desenho. Quase 150 das obras que Artur Jorge reuniu nos últimos 40 anos vão a leilão a 3 de Dezembro. É a segunda parte de um “jogo” que começou em Paris e admite prolongamento.

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Artur Jorge Enric Vives-Rubio

Conheceram-se há 46 anos, ela tinha na altura 18 e ele 26. Durante muito tempo foram-se cruzando em casa de amigos comuns e depois reencontraram-se, em Paris. Ela tinha viajado com alguns deles para visitar a Feira Internacional de Arte Contemporânea, onde ele já planeava fazer compras. Lena Teixeira estava divorciada e Artur Jorge, que vivia na cidade e treinava o Matra Racing, viúvo da sua segunda mulher, cada um com dois filhos. Nos 30 anos que já levam casados, Lena Teixeira deixou o Direito para acompanhar o marido, marcante treinador de futebol, o primeiro técnico português a ser campeão europeu de clubes, pelo FC Porto, na época 1986/87.

É ela que aqui fala da colecção de arte que ele reuniu, agora que 135 das suas obras se preparam para ir a leilão. Artur Jorge, sempre avesso a entrevistas, mesmo às que fogem ao desporto, não participa nesta conversa, mas também não pode ficar de fora – afinal, a colecção que tem vindo a construir reflecte o seu gosto e a sua personalidade, a forma peculiar como lida com a arte e com o mundo.

“O Jorge começou esta colecção sem mim e continua-a comigo, nas nossas casas, aqui e em todos os países onde já vivemos”, diz Lena Teixeira. “Sempre tivemos pintura e escultura e desenho por todo o lado em todas as nossas casas. E já foram tantas…” Vinte e duas em 30 anos. “Quando chegávamos a uma casa nova, o Jorge ficava ansioso, à espera dos caixotes com as nossas coisas. Assim que os tinha começava logo a pôr quadros nas paredes – era uma prioridade. E às vezes um desastre, porque ele não tem jeito nenhum com o berbequim. Eu que me preocupasse se o frigorífico estava a funcionar”, brinca. “Quando nos mudávamos, era tão natural levarmos pinturas e livros como roupa de cama ou toalhas de mesa.”

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Organização das obras que vão estar na exposição Colecção Artur Jorge — Segunda Parte (25 de Novembro a 2 de Dezembro), na Sociedade Nacional de Belas-Artes (SNBA), em Lisboa. No dia 3, os 135 lotes vão a leilão no mesmo local Daniel Rocha

Artur Jorge Braga de Melo Teixeira, 72 anos, teve o último emprego no futebol em 2007, num clube da terceira divisão francesa, depois de ter treinado 16 equipas em Portugal e no estrangeiro – Futebol Clube do Porto (três títulos nacionais e uma Taça dos Campeões Europeus), Benfica, Paris Saint-Germain (um título de campeão francês), os asiáticos Al-Nasr e Al-Hilal, o russo CSKA e o holandês Vitesse, bem como as selecções nacionais de Portugal, Suíça e Camarões. Neste périplo, a arte convivia sempre com um lote alargado de livros e de discos que fazia questão de levar para onde quer que fosse (Um Homem sem Qualidades, romance inacabado de Robert Musil, está entre os seus favoritos; a música clássica e o jazz de Bill Evans e de Chet Baker continuam a ser essenciais, às vezes para substituir a voz do jornalista que faz o relato de um qualquer jogo de futebol).

É precisamente este lado quotidiano do acervo que o antigo técnico reúne há já 40 anos que Hugo Dinis gosta de sublinhar. É o curador da exposição Colecção Artur Jorge – Segunda Parte (25 de Novembro a 2 de Dezembro), composta por 135 peças, quase todas de artistas portugueses, que serão leiloadas a 3 de Dezembro, na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), em Lisboa. “As obras desta colecção são para consumir e partilhar no dia-a-dia. São mais reveladoras da personalidade do coleccionador e do seu olhar curioso sobre o mundo do que de um percurso da arte que se fez no país nos últimos anos.”

Entre os artistas nacionais representados há obras de Julião Sarmento, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas, Pedro Cabrita Reis, Rui Chafes, Jorge Vieira, Joaquim Rodrigo, João Cutileiro, Almada Negreiros, Paiva & Gusmão, João Penalva e muitos outros. No lote de estrangeiros, pequeno, destaque para Joseph Beuys, Antoni Tàpies e Fernand Léger.

“Se na arte internacional ele aposta em nomes consagrados, nos portugueses é de uma enorme generosidade para com os jovens artistas”, diz Hugo Dinis, chamando a atenção para nomes como Rui Chafes ou João Penalva, que estão representados na colecção com obras dos “primeiros momentos” e outras mais tardias. Quanto à dupla Paiva & Gusmão, “surpreendentes nesta colecção dada a sua linguagem muitíssimo contemporânea”, Artur Jorge interessa-se por ela também como “mecenas”: “Ele e a Lena compraram filmes do Pedro Paiva e do João Maria Gusmão para oferecer à Tate Modern.”

A 3 de Dezembro irão à praça uma pequena aguarela da dupla (2002) e Pot Smaller Than Pot (2010), uma “peça em que se inverte a relação de peso e leveza da escultura, mantendo-lhe o plinto clássico”.

Amadeo e Pomar

Entre os lotes que deverão merecer mais atenção nesta Colecção Artur Jorge – Segunda Parte — “segunda” porque, em Dezembro de 2010, um conjunto de 100 peças do acervo do antigo treinador, composto quase em exclusivo por artistas internacionais (Jean-Michel Basquiat, Marc Chagall, Wassily Kandinsky, Yves Klein, Sol Lewitt, Jackson Pollock, Andy Warhol ou Joan Miró) foi leiloado pela Christie’s, em Paris — estão obras de dois homens que têm lugar de destaque na história da arte em Portugal e que morreram com 100 anos de intervalo: Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) e Júlio Pomar (1926-2018).

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Três dos seis desenhos de Amadeo de Souza-Cardoso que vão a leilão

Do pintor modernista que viveu sempre dividido entre Paris e Manhufe serão expostos, e depois leiloados, seis desenhos que pertenceram ao arquitecto José Sommer Ribeiro e que até aqui estavam em depósito no Museu do Chiado, com uma base de licitação de 30 mil euros cada. Tratam-se de estudos preparatórios que são verdadeiras “preciosidades”, diz o curador. “Os Amadeos são uma raridade no mercado porque a produção é pequena e a sua obra há muito que estabilizou em coleccionadores privados e museus. E estes seis desenhos são muito bons.”

De Pomar, que chamou a si a tarefa de criar o neo-realismo na pintura e depois foi muito além dele, como disse recentemente ao PÚBLICO a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, os visitantes da SNBA poderão ver Deux Mètres (1977-78), uma assemblage de 100X100cm com uma base de licitação de 80 mil euros, a mais alta neste leilão, onde haverá lotes a começar nos 250 (dois pequenos desenhos de Mário Botas).

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Júlio Pomar (1926-2018) Deux Mètres, colagem, pintura acrílica e objectos sobre tela. Assinado e datado de 1977-78

“Este Pomar é uma obra de grande liberdade e erotismo”, diz Hugo Dinis, apontando para aquele quadrado em que salta à vista a superfície rude, coberta de sarapilheira, um metro articulado, e duas figuras: “Pomar, avesso ao abstraccionismo, representa aqui um casal numa posição sexual explícita.” Ele que vai para Paris no começo dos anos 1960 e era claramente um homem de esquerda parece neste Deux Mètres, como em tantas outras vezes, “mais interessado no movimento dos corpos no que no das ideias”.

Pinturas do português Joaquim Rodrigo (1912-1997), do húngaro Arpad Szenes (1897-1985) ou do catalão Antoni Tàpies (1923-2012), assim como Pflanholz, Wirtschaftswerte, um semeador com uma ponta de metal montado sobre um painel, do alemão Joseph Beuys (1921-1986) serão também leiloados.

“Todas estas peças têm uma história. É a minha história”, dizia Artur Jorge ao PÚBLICO em 2010, na antecipação da “Primeira Parte” parisiense, cujos lotes foram avaliados em dois milhões de euros. A estimativa do leiloeiro da Aqueduto, empresa encarregue da venda lisboeta, ronda agora os 900 mil euros.

Defendendo que este é um dos melhores conjuntos de pintura do século XX apresentado ao público em Portugal nos últimos vinte anos, José Pedro Rosa resume: “O que tem de sedutor esta colecção, entre outras coisas, é o seu fio condutor, que é o gosto de Artur Jorge”, diz, apontando para as pinturas e desenhos encostadas à parede no armazém da Aqueduto. “Tudo o que aqui está tem um B.I. Sabemos de onde vêm todas as peças, por onde passaram.” E conseguimos imaginá-las a fazer parte de uma casa de família, na sala de jantar ou no quarto dos filhos onde agora já dormem netos, acrescenta o comissário desta exposição-leilão. “São obras que têm uma dimensão doméstica, compradas para invadir espaços vazios, mas sem uma intenção decorativa.”

Lena Teixeira admite que há no marido um lado um pouco “barroco” no que ao horror ao vazio diz respeito. “Para o Jorge, enquanto houver um buraquinho, há espaço para mais um quadrinho. Quando os nossos filhos eram pequenos [o casal teve dois, João, hoje com 23 anos, e Francisca, que morreu em 2013, aos 22], adorava andar com eles ao colo pela casa, e fazia-lhes visitas guiadas como se aquilo fosse um museu. E a Francisca e o João ficavam deliciados.”

Um homem de classe”

Foi provavelmente o interesse de Artur Jorge pela arte e pelas letras – formou-se em Filologia Germânica num curso que começou em Coimbra e viria a terminar em Lisboa, e escreveu muita poesia (o seu livro Vértice da Água saiu em 1983) – que levou outro treinador português, José Mourinho, hoje ao serviço do Manchester United, a chamar-lhe “o primeiro treinador estudante” do futebol nacional nas cinco linhas que assina no catálogo do leilão.

“Quisemos que esta exposição fosse uma homenagem aos artistas, ao coleccionismo e ao outro lado do meu marido, que é mais intimista, lá de casa, e que não tem a ver com o futebol. Por isso resolvi pedir a amigos e familiares que escrevessem pequeninos apontamentos sobre ele”, explica Lena Teixeira. “Como o Jorge tinha um grande respeito pelo Félix Mourinho [1938-2017], resolvi pedir umas linhas ao filho, que foi muito amável.”

É José Mourinho quem lembra que Artur Jorge fica para a história como o primeiro técnico português campeão europeu, mas também, e acima de tudo, como “o primeiro em que a cultura e a formação académica foram ponto de partida para uma carreira que inspirou muitos”. Resumindo em seguida: “Um homem de classe que marcou uma classe.”

O escultor João Cutileiro, que tal como o escritor José Manuel Mendes assina um brevíssimo texto no catálogo, é o único artista que faz parte do restrito núcleo de amigos do coleccionador. De tal forma, diz Lena Teixeira, que na casa que a família tem no Algarve há aquilo a que todos chamam “o quarto do João”.

Foi precisamente no Algarve, numa galeria em Almancil, em Junho de 1990, que os dois se conheceram. Artur Jorge já tinha comprado várias peças de Cutileiro de exposições anteriores e o artista sabia disso. “Fui ter com ele, conversámos e acabámos por ficar amigos. Até hoje. Caí-lhe na bandeja.”

É Cutileiro quem fala da “‘incongruência’ dos gostos” como o “bechamel” de Artur Jorge. E por que razão usa o escultor este molho como metáfora? Simples: “Às vezes ouvimos um coleccionador dizer que não compra esta ou aquela peça porque não liga bem com outra que tem lá em casa; ora isso foi coisa que nunca preocupou o Jorge — ele é o bechamel que liga tudo.”

Na casa do Algarve, com um grande espaço exterior onde não faltam peças de Cutileiro ou Vasco Araújo, estava também Sismo (1984), uma obra de Julião Sarmento composta por quatro pequenas telas e comprada em Madrid. “Esta está aqui, mas lá em casa ficaram outras. O Julião Sarmento é um dos preferidos do meu marido e foi com ele que o Jorge começou a comprar grandes formatos.” A colecção chegou a ter várias obras deste artista português que, diz Lena Teixeira, Artur Jorge nunca fez questão de conhecer pessoalmente. “Há muitos coleccionadores que querem conhecer os artistas, que pedem isso aos galeristas. Com o Jorge foi sempre o contrário, houve sempre um enorme recato. Por pudor, por timidez… O Jorge sempre teve pouca vontade de ver e de ser visto. Que me lembre, nunca fomos a uma vernissage… Temos o privilégio de os galeristas nos convidarem para ver as exposições antes de elas abrirem.”

A personalidade reservada de Artur Jorge fez também com que, depois de uma vida dedicada ao futebol, só há três ou quatro anos tivesse assumido que torce pelo Futebol Clube do Porto, lembra. “O Jorge gosta muito de palavras mas prefere os gestos.”

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Leonel Moura (1948) Yes, técnica mista sobre tela. Assinada e datada de 1988 (no verso)

Talvez por isso tenha oferecido à mulher Arbre à tiroirs (1941), um peculiar móvel em madeira da autoria do surrealista francês Marcel Jean, para arrumar os muitos lenços que Lena Teixeira gosta de usar, e que irá agora a leilão. “A colecção está cheia de gestos destes. E de coisas que são para usar na nossa casa. Estas peças estão vivas”, diz Lena Teixeira, como está viva a casa onde mora uma família que é feita de várias famílias. “Um dos sonhos que eu partilho com o Jorge é o de fazer casas, casas felizes e harmoniosas.”

A casa, acrescenta, é o “coração da família”, por isso está tão presente nas escolhas que Artur Jorge faz. Para ele, a arte é uma comodidade doméstica, algo que faz parte da vida para a tornar melhor.

Comprar o que é “bonito”

Sem qualquer responsabilidade pública, a colecção de um privado é orientada pelo gosto e pela oportunidade, diz Hugo Dinis. Alguns coleccionadores centram-se numa temática ou num punhado de artistas, procuram aconselhar-se junto de profissionais (galeristas, curadores) e preocupam-se com o valor de mercado que determinada peça poderá ganhar porque a vêem, também, como um investimento. No caso de Artur Jorge, assegura a sua mulher, nunca foi assim.

“O Jorge sempre comprou o que sentiu que tinha de comprar. É claro que falava com os nossos amigos, alguns deles coleccionadores e galeristas, mas nunca teve ninguém a dizer-lhe ‘compra isto que vai valorizar-se’ ou ‘compra aquilo que é raro aparecer no mercado’. Isso é o tipo de argumentação que nunca levaria o Jorge a comprar um quadro ou uma escultura. Ele compra o que o emociona, de alguma maneira.” Por ser inquietante, desafiador ou simplesmente “bonito”.

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Artur Jorge em 2009 Daniel Rocha

Também por isso, diz, chegou a comprar portas e janelas de madeira na Arábia Saudita, esculturas africanas ou tapetes orientais sem qualquer valor nos mercados de rua. “Nunca discute o que lhe pede um galerista por uma obra, nem pergunta quanto custou determinada peça que vai trocar com um amigo.”

Resume no texto que escreveu para o catálogo Madalena Galamba, filha de Lena Teixeira que acompanhou o casal em boa parte do percurso profissional de Artur Jorge e que, quando adolescente, costumava dormir com um quadro de Julião Sarmento por cima da cabeça, que a colecção do antigo treinador de futebol é, antes de mais, “a busca de uma harmonia, que a sua sensibilidade única, lúcida e generosa, persegue e compõe”. Uma “busca” que, explica o comissário, é feita de escolhas muito directas, do fascínio pelo objecto.

Pedro Teixeira, 48 anos, o filho mais velho do treinador, tem pena de não ter “absorvido de forma mais constante” o gosto do pai pelas artes, mas lembra-se bem das suas saídas para ir “ver coisas” no tempo que passavam juntos e das idas ao cinema: “Devo ter sido das poucas crianças de seis anos que via duas sessões seguidas, e às vezes de filmes que nem sequer eram para a minha idade”, diz, falando da omnipresença dos livros e da música na vida do antigo treinador. “Depois, na adolescência, eu e a minha irmã Catarina [filhos do primeiro casamento do técnico] começámos a jantar com ele um dia por semana. E aí falava-se muito do que estava a acontecer nas nossas vidas, mesmo com o pai sendo sempre uma pessoa reservada, que pensa muito para além do que diz.”

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Lena Teixeira e Pedro Teixeira, o filho mais velho de Artur Jorge Daniel Rocha

Com o trabalho como treinador a obrigá-lo a viver fora do país, e com o facto de Pedro Teixeira ter feito o mestrado e o doutoramento na área da saúde e do desporto nos Estados Unidos, houve períodos em que os encontros de ambos por vezes tardavam. “Também víamos futebol e boxe juntos. Não eram só gostos eruditos. A arte para o pai é uma coisa da intimidade, mas que passa para o resto. Se calhar é por causa desse fascínio pela beleza que o leva a comprar pintura e escultura que o meu pai gosta de usar a palavra ‘bonito’ no futebol”, coisa que era muito “estranha” nos anos 80, em que todos só falavam de táctica.

É a sensibilidade para a beleza, a generosidade e o interesse genuíno pela arte que José Mário Brandão salienta no amigo. Conheceram-se nos tempos em que Artur Jorge comandava o Paris Saint-Germain (no início dos anos 1990) e o galerista guarda “memórias deliciosas” dos jantares parisienses de ambos. “O Jorge era como uma rock star naquela altura. Os desconhecidos abordavam-no para o cumprimentar, os empregados dos restaurantes pediam-lhe autógrafos e ele acedia. Recebia toda aquela atenção com muita humildade.”

Na altura, os sucessos desportivos com o clube, combinados com a personalidade do antigo treinador, sempre discreto e preferencialmente distante dos jornais e das televisões, levavam a que os franceses lhe chamassem “rei Artur”. Assim mesmo, elevado ao estatuto de lenda, comandando 11 “cavaleiros” nos relvados e com toda a reserva de mistério a que as figuras mitificadas têm direito.

“Discreto sim, mas nunca arrogante”, diz José Mário Brandão. “Ele é um homem extraordinariamente delicado, uma pessoa ‘bonita’ no sentido que os espanhóis dão a esta palavra que o Jorge não tem medo de usar. É bonito por dentro.”

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Joaquim Rodrigo (1912-1996) Évora-Barcelona II, acrílico sobre platex. Assinado e datado de 1988 (no verso)

Comparando o seu estilo de coleccionar ao de José Lima, empresário de calçado de São João da Madeira que reuniu com a mulher um dos maiores acervos privados portugueses, Brandão chama-lhe “romântico”: “A colecção do Jorge é feita com muita afectividade, o que é raro acontecer. Não há ali a preocupação de investir — compra o que o comove, é um dos últimos coleccionadores românticos.”

Um romantismo que se revela, também, na forma apaixonada como sempre olha para as coisas, diz Lena Teixeira, recordando as noites que se estendiam pela madrugada em que Artur Jorge lhe lia poemas de Herberto Helder e “as mais lindas cartas de amor” que dele recebia, escritas a lápis. 

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