Vila Franca de Xira insiste na pista de Alverca para complementar Portela

Autarcas e empresas do concelho de Vila Franca de Xira insistem na ideia de que a pista de Alverca é uma “excelente” solução para complementar o funcionamento do Aeroporto Humberto Delgado (Portela).

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Enric Vives-Rubio

O presidente da Câmara de Vila Franca e o presidente da Ogma-Indústria Aeronáutica de Portugal defendem que a pista de Alverca tem todas as condições para passar a receber os chamados “voos executivos” que hoje em dia se dirigem à Portela. Consideram que esta perspectiva não conflitua com os projectos do Governo para a pista do Montijo e o autarca de Vila Franca de Xira defende mesmo que Alverca pode acolher, igualmente, o tráfego militar feito actualmente para o chamado Aeroporto de Figo Maduro e a área de manutenção da TAP (também instalados na Portela), libertando assim espaços para o funcionamento do Aeroporto Humberto Delgado.

Alberto Mesquita, presidente da Câmara vila-franquense, disse ao PÚBLICO, que tem sensibilizado o Presidente da República e o primeiro-ministro para esta possibilidade, porque a pista de Alverca tem “excelentes condições” – dista menos de 20 quilómetros de Lisboa e tem boas acessibilidades rodoviárias e ferroviárias à capital – e “merece” ser melhor aproveitada. Até à década de 40, a pista de aviação construída entre Alverca e o Tejo funcionou mesmo como o primeiro aeroporto internacional de Lisboa. Na década de 50 foi substituída pelo aeroporto da Portela e progressivamente viu a sua actividade reduzida ao movimento da Ogma e do vizinho Depósito-Geral de Material da Força Aérea.

“Vamos continuar a insistir e não vamos desistir de reaproveitar o potencial que aquela pista tem para a área dos voos executivos e de ultra-leves. Para isso é preciso de uma vez por todas que o Estado permita que tenhamos ali, em Alverca, aquilo que chamamos um aeroporto geral”, explica Alberto Mesquita, preconizando um modelo de funcionamento em que a pista (actualmente gerida pela Força Aérea Portuguesa) pudesse continuar a receber voos militares e voos de aeronaves para a Ogma, mas alargasse a sua actividade aos chamados “executivos” – voos particulares em que empresários e outros procuram a região de Lisboa para viagens de curta duração.

O autarca vila-franquense considera que esta solução seria benéfica para os utentes e para a própria ANA, empresa que gere o Aeroporto Humberto Delgado. “Interessa à ANA porque o problema da ANA é a falta de espaço no Humberto Delgado. A ANA quer ter mais movimentos, para haver mais movimentos é preciso criar espaço para acolher e para estacionar mais aviões. Como é que é possível alguém que venha aqui fazer os seus negócios, que venha num voo executivo, chegue a Lisboa ao Aeroporto Humberto Delgado e, depois, demorar uma hora ou mais para sair do aeroporto? Isso não é possível”, sustenta Alberto Mesquita, que sabe que a administração da Ogma também tem desenvolvido diligências junto do Estado português a este respeito.

Marco Túlio Pellegrini, presidente da comissão executiva da Ogma, confirma isso mesmo, frisando que um dos segmentos de mercado que a Indústria Aeronáutica de Portugal (maior empresa portuguesa do ramo) pretende desenvolver é o da manutenção da aviação executiva. “A Ogma já faz manutenção de jactos executivos, mas faz a uma escala pequena e pode fazer muito mais”, sublinha o gestor de origem brasileira, frisando que outras das condições fundamentais é formar mais mão-de-obra qualificada para estas funções. Se o essencial dos voos executivos que procuram Lisboa fosse deslocado para a pista de Alverca, a Ogma ganharia mais condições para desenvolver esta área. E Marco Túlio Pellegrini defende que Portugal até poderia, nessas condições, aproveitar muito mais o segmento da remodelação/renovação destas aeronaves.

“Hoje fazemos pouco em Portugal, mas temos muita competência nestes elementos que compõem o interior de um jacto executivo. Poderá ser um novo negócio a ser explorado em Portugal, porque na aviação executiva o cliente acaba por trocar o interior do avião a cada cinco a oito anos. Mantém o avião, mas quer fazer uma actualização do mobiliário, do interior, da pintura e esse é um negócio que pode ser bem explorado em Portugal. Actualmente isso está sendo feito em França, na Alemanha, em Inglaterra, mas pode ser feito em Portugal e envolve valores muito significativos”, salienta Marco Túlio Pellegrini, vincando que a Ogma tem instalações e pessoal técnico para avançar também neste mercado.

“Não podemos procurar este mercado individualmente, mas podemos fazer a manutenção ou o refrescamento, a reactualização dos interiores. É um bom desafio e uma boa oportunidade para o futuro. Certamente existem bons designers em Portugal para este tipo de trabalho, mobiliário também, os vinhos portugueses são muito bons, a parte das loiças também. É todo um negócio que não tem sido explorado em Portugal e que pode ajudar muito a desenvolver a indústria portuguesa”, sugere o presidente da Ogma, frisando que os jactos executivos “não são um bem de luxo” mas “um elemento de aceleração de riqueza”, porque quem os utiliza “pretende ganhar tempo para fazer mais negócios”.

Muitas destas intervenções de renovação de aviões executivos podem atingir valores de 5 a 6 milhões de euros. “Muitos clientes viriam para cá, deixariam aqui o seu avião a ser actualizado e usariam os benefícios de estar em Lisboa. Os pilotos, o corpo técnico, os próprios empresários não teriam dúvidas em passar alguns dias em Portugal. Essa é toda uma indústria que traria muitos benefícios para a comunidade portuguesa, não tenho dúvidas disso”, conclui Marco Pellegrini.

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