Dyego Sousa, o “bom malandro” que se fez goleador

É o melhor marcador do campeonato e está perto de bater o recorde da sua carreira de golos marcados numa época. Há 11 anos, nos juniores do Nacional, o seu talento já era evidente.

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Dyego Sousa leva sete golos marcados no campeonato LUSA/HUGO DELGADO

Cumpridos três meses da temporada 2018-19, Dyego Sousa já só está a um golo de igualar o melhor registo da sua carreira. O avançado do Sp. Braga atravessa um momento fulgurante, com 11 golos marcados em 14 partidas disputadas – sete em nove jogos do campeonato, o que lhe vale a liderança da tabela dos goleadores. O máximo que Dyego Sousa conseguiu numa época, em todas as competições, foram 12 golos (no ano passado pelo Sp. Braga e em 2015-16 ao serviço do Marítimo). Mas se mantiver a eficácia actual esse recorde será pulverizado.

A qualidade já era evidente quando Dyego Sousa teve a primeira experiência fora do Brasil. Em 2007-08, chegou à Madeira para alinhar nos juniores do Nacional. “Foi indicado por um empresário, não foi por observação directa. Era habitual recrutarmos fora da região para fazer uma equipa competitiva. Na altura foi a nossa mais-valia, marcou muitos golos no campeonato”, recordou o treinador adjunto dessa equipa de juniores do Nacional, Albano Oliveira, em conversa telefónica com o PÚBLICO.

Dyego era “um perfeito desconhecido”, admite Albano Oliveira, mas não tardou a impressionar: “A recepção já na altura era qualquer coisa de estrondoso. Tinha uma envergadura física e experiência competitiva acima da média”, acrescenta o ex-treinador adjunto do Nacional: “Costumo dizer que ele era um bom malandro, tinha um rendimento muito acima da média, mas um índice de trabalho aquém do que pretendíamos. A qualidade que tinha já fazia com que se sobrepusesse aos demais.”

“Por vezes trabalhava q.b., não era um jogador que chegasse ao treino e quisesse dar logo tudo para mostrar ao treinador. Era o treinador que tinha de reconhecer a qualidade dele. Eu tinha uma relação muito boa com ele. Os atletas que eram de fora da região residiam na Choupana. E eu, trabalhando a tempo inteiro, estava lá muito tempo com eles. No entanto, o Dyego era um jogador com um feitio peculiar. Sendo esse bom malandro, já sabia mais do que os outros”, recordou Albano Oliveira, notando que o ex-pupilo é hoje um jogador “muito diferente”. “Tem um foco diferente dentro de campo, está mais concentrado. Na altura criava muitas situações devido a um bom posicionamento, mas hoje em dia consegue rentabilizar mais. É um avançado extraordinário, melhorou muito na finalização.”

Sonho da selecção

Essa primeira experiência em Portugal assinalou o início de uma relação com o país que marcou Dyego Sousa. Apesar de ter regressado ao Brasil após essa época nos juniores do Nacional, o avançado voltou ao futebol português em 2010, para representar o Leixões. Seguiram-se Tondela e Portimonense, até dar o salto para o Marítimo, em 2014. E daí para o Sp. Braga, acumulando golos.

“No Brasil nunca tive muitas oportunidades, mas Portugal deu-me tudo. Depois de deixar de jogar, é quase certo que continuarei a viver cá”, admitia, em Outubro, numa entrevista ao portal Maisfutebol. “Sinto-me mais português do que brasileiro”, acrescentava Dyego Sousa, para justificar uma ambição que continua a acalentar: “É um sonho representar a selecção de Portugal, mas não é fácil. Não depende só de mim. Gostaria de ajudar, de contribuir para o bem deste país. Torço, vibro pela selecção portuguesa. Estou cá há dez anos, a minha esposa e a minha filha são portuguesas, temos a nossa vida toda cá.”

Aos 29 anos, o goleador nascido em São Luís do Maranhão vive o melhor momento da carreira. “Fiz um bom arranque de temporada, estou a marcar golos e a jogar. No passado sempre me lesionei bastante, com problemas musculares. Este ano está a correr tudo bem, sinto-me forte, preparado, maduro. Estou muito focado nos objectivos da equipa e acho que esta época será brilhante”, afirmava ao Maisfutebol.

Em Braga, Dyego Sousa encontrou o “clube ideal” para ultrapassar um momento negativo. O avançado foi suspenso por nove meses devido à agressão a um árbitro-assistente num jogo particular realizado com o Tondela, em Julho de 2016, quando ainda representava o Marítimo (a pena seria mais tarde reduzida para seis meses pelo Tribunal Arbitral do Desporto). “Um jogador com uma suspensão tão pesada, já com 27 anos, não era fácil. Não me passava pela cabeça chegar a este nível, ao Sp. Braga. Apostaram em mim num momento difícil e eu não posso decepcioná-los. A ninguém. Presidente, adeptos, colegas...”

“Nesse momento da suspensão caiu-me a ficha. Percebi que tinha de mudar a minha forma de ser e de estar”, acrescentou Dyego Sousa na mesma entrevista. “Levei na cabeça da minha esposa e dos meus pais. Parei para pensar e vi que não tinha razão. Tinha de controlar a minha ansiedade, o meu temperamento”, prossegue o avançado, notando que em Braga o trabalho com Abel Ferreira tem sido sempre fácil: “Tenho aprendido bastante. Sei perfeitamente que posso sair da equipa a qualquer momento, mesmo sendo o melhor marcador do campeonato. Com o Abel é assim, não há intocáveis.”

Dyego Sousa descobriu o seu talento goleador nos jogos que fazia com os amigos nas ruas de São Luís do Maranhão. “Eu até gostava de ser defesa nas peladas com os amigos. O problema é que a minha equipa fazia poucos golos e tive de tomar uma atitude”, recordava ao Maisfutebol, com uma gargalhada.

Já como profissional, as suas boas exibições não passam despercebidas. Até já houve uma abordagem do Benfica, na altura em que rumou ao Sp. Braga. “Houve uma proposta do Benfica, mas optei pelo Sp. Braga. No Benfica, vamos supor, teria concorrência maior. Jonas, Jiménez, Mitroglou, muitos jogadores... Que espaço teria? Pensei que seria mais um lá”, revelava, em Fevereiro, numa entrevista ao portal brasileiro UOL.

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