Brasil: um governo com um superministro e muitos generais

Ainda não se conhece a totalidade da composição do próximo executivo brasileiro, mas já se sabe que vai contar com um “superministro” ou com três generais.

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Reuters/PILAR OLIVARES

Jair Bolsonaro vai reunir-se na terça-feira, na sua casa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com os principais aliados e colaboradores para alinhar a composição do futuro Governo do Brasil. Não se conhecem ainda todos os nomes da equipa, mas alguns dos homens fortes do Presidente eleito têm lugar reservado no executivo – que Bolsonaro disse querer reduzir dos actuais 29 ministérios para 15.

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Jair Bolsonaro vai reunir-se na terça-feira, na sua casa na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, com os principais aliados e colaboradores para alinhar a composição do futuro Governo do Brasil. Não se conhecem ainda todos os nomes da equipa, mas alguns dos homens fortes do Presidente eleito têm lugar reservado no executivo – que Bolsonaro disse querer reduzir dos actuais 29 ministérios para 15.

Entre militares e civis, alguns destes ministeriáveis acompanharam de perto a campanha de Jair Bolsonaro e também a sua carreira política, iniciada há quase 30 anos.

Na próxima semana, o Presidente eleito vai para Brasília para dar início ao processo de transição, estando marcada uma reunião com o Presidente, Michel Temer. Bolsonaro toma posse a 1 de Janeiro de 2019.

Paulo Guedes, o “superministro”

O economista de 69 anos é quem vai ditar o plano económico-financeiro do Governo Bolsonaro. Terá, por isso, a seu cargo a pasta das Finanças, da Economia e do Planeamento da Indústria e Comércio.

Durante a campanha, Guedes defendeu uma política a favor dos mercados e afastou Bolsonaro da luta contra as privatizações e a favor do papel do Estado na economia, o que foi defendido pelo Presidente eleito quando era deputado federal.

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Logo após a divulgação dos resultados que deram a vitória de Bolsonaro, Guedes voltou a frisar garantias que havia dado anteriormente, afirmando que é possível chegar a um défice zero logo no primeiro ano de governação e alcançar um superavit, o que foi conseguido pela última vez em 2013, durante a presidência de Dilma Rousseff.

Porém, o economista disse que a primeira grande prioridade vai ser a reforma da Previdência (Segurança Social), necessária para cumprir um objectivo mais abrangente que é o de acabar com privilégios.

“Vamos ter de reduzir privilégios e desperdícios. Esse é o foco do programa económico. Também vamos fazer os marcos regulatórios na área de infra-estrutura, porque o Brasil precisa de investimentos em infra-estrutura. O custo para o Brasil é alto por falta de segurança jurídica, de marco regulatório adequado.”

A poucas semanas da segunda volta das presidenciais, soube-se que o Ministério Público está a investigar Paulo Guedes por suspeita de fraude com fundos de pensões estatais.

Gustavo Bebianno, o “apaixonado” 

O líder do Partido Social Liberal (extrema-direita, partido de Bolsonaro) nunca escondeu a profunda admiração que tem pelo Presidente eleito. Chegou há pouco tempo ao seu círculo próximo.

“Poucas pessoas conhecem o coração de Jair Bolsonaro e a sua capacidade de enfrentar desafios, e a sua resiliência”, disse em Julho, durante a cerimónia de lançamento da candidatura presidencial. “Na convivência do dia-a-dia, a minha admiração só se fez aumentar. Hoje posso dizer que sou, de forma hetero, apaixonado por Jair Bolsonaro.”

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Advogado de 54 anos, Gustavo Bebianno começou a aproximar-se de Bolsonaro a partir de 2015. Dois anos depois passou a assessorar o então deputado de forma voluntária. Sem qualquer experiência, foi parte activa na negociação, que começou em Janeiro deste ano, para a entrada de Bolsonaro no PSL. O seu papel valeu-lhe o convite para chefiar a formação, substituindo Luciano Bivar, fundador do partido. Agora, espera-se que o advogado devolva a liderança a Bivar para se ocupar do Ministério da Justiça.

Foi nesta posição de proximidade que conduziu a campanha de Bolsonaro, assumindo um lugar de destaque depois de o candidato ter sido esfaqueado em campanha. Esteve sempre perto do candidato durante a sua recuperação, organizando-lhe a agenda e tratando de toda a logística. Admitiu que nem sequer gosta de política. 

Onyx Lorenzoni, o braço-direito

Este veterinário de 64 anos vai no quinto mandato como deputado federal, tendo sido reeleito para o cargo nestas eleições. O seu percurso no Congresso brasileiro foi marcado pelo combate ao Partido dos Trabalhadores (PT, esquerda), lutando pela  destituição de Dilma Rousseff.

Pode estar a um passo de se tornar chefe da Casa Civil do Presidente, considerado um dos ministérios mais importantes do Governo – será, assim, o braço direito de Bolsonaro.

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Lorenzoni ganhou protagonismo ao apresentar, em 2016, um pacote legislativo chamado “Dez Medidas contra a Corrupção”. Acabou por ser criticado por ter feito alterações ao texto final da proposta à revelia dos deputados – e o pacote foi barrado no Senado.

Defendeu sempre a candidatura presidencial de Bolsonaro, tendo começado a ajudar nos preparativos para a campanha em 2017. Desde essa altura que o veterinário começou a encetar contactos para construir a base de apoio parlamentar a um futuro governo de Bolosnaro. Mas com isso Lorenzoni contrariou a orientação do seu partido, os Democratas, quando apoiaram Geraldo Alckmin (PSDB) na primeira volta das eleições.

Em 2017, em entrevista ao portal Congresso em Foco e apesar de garantir que o “respeitava –, disse que Bolsonaro era “um pouco radical” e que tinha “umas ideias” de que discordava.

General Hamilton Mourão, o “desbocado”

Era o segundo elemento da candidatura de Jair Bolsonaro e foi eleito vice-presidente do Brasil. Este general reformado de 65 é conhecido por não ser moderado nas palavras, mais ainda do que Bolsonaro.

Essa característica fez com que fosse desautorizado mais do que uma vez durante a campanha pelo candidato à presidência. Primeiro, quando aludiu a um possível “autogolpe” do Presidente, caso a “anarquia” tomasse conta do Brasil; depois, quando disse que uma nova Constituição não deveria ser criada por deputados mas por “notáveis”; por fim, quando criticou a existência do 13.º mês.

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Em 2017, Mourão sugeriu a realização de um golpe militar.

O general foi a quarta opção de Bolsonaro, depois de ter tentando, em vão, negociar com outros três elementos – o favorito do Presidente eleito para vice era o senador e pastor evangélico Magno Malta, por quem Bolsonaro nutre grande admiração. Apesar de não ter aceitado o convite, Malta foi presença assídua durante a campanha.

General Heleno, o militar respeitado

É mais um militar que está a caminho do Governo de Bolsonaro. Augusto Heleno, general reformado de 70 anos, deverá ser ministro da Defesa. É conhecido como conciliador.

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Nos últimos tempos, foi conselheiro do comandante-chefe do Exército, Edardo Villas Bôas.

Foi o primeiro comandante da missão de paz da ONU no Haiti e é altamente respeitado nas Forças Armadas. Antes, em 2007, assumiu o Comando Militar da Amazónia, um dos cargos mais respeitados do Exército. Foi afastado em 2013, durante o Governo de Dilma Rousseff, depois de chamar “caótica” à política de Lula da Silva para os povos indígenas.

Heleno também foi considerado para ser candidato a vice-presidente. Mas as negociações falharam porque, explicou Heleno, isso não servia aos interesses eleitorais do seu partido, o Partido Republicano Progressista (PRP). Em Julho anunciou a saída do PRP para colaborar na campanha de Bolsonaro.

General Oswaldo Ferreira, a possível dor de cabeça

Assim que entrou na reserva militar em Abril deste ano, o general Oswaldo Ferreira, de 64 anos, foi convidado por Bolsonaro para integrar a sua equipa de campanha como responsável pelo programa das infra-estrutras. É, por isso, candidato a assumir esta pasta.

Sendo engenheiro de formação, fez queixas sobre a fiscalização ambiental nas construções, tendo afirmado, durante a campanha, que, no seu tempo, “não havia Ministério Público nem Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para encher o saco”.

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Por ser um defensor do desenvolvimentismo assente numa politica económica baseada no crescimento da produção industrial e das infra-estrutras, com a participação do Estado, a imprensa brasileira prevê que a relação entre o general e Paulo Guedes poderá vir a ser de colisão.

General Aléssio Souto, favorito para a Educação

O general na reserva desde 2011 foi o responsável pela elaboração dos programas da educação, tecnologia e ciência da candidatura de Bolsonaro. Perfila-se, desta maneira, para assumir a pasta da Educação.

É, de entre os militares conhecidos que vão compor o Governo, o mais afastado das lideranças militares brasileiras ainda no activo.

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Tem exposto as suas propostas para o sistema educativo, entre elas uma revisão da bibliografia, defendendo que os alunos estão demasiado expostos a uma determinada ideologia e a conteúdo “impróprio”.

O general diz que, em relação à ditadura militar, deve haver um debate “à luz da liberdade” e que os professores devem dar o contexto completo desse regime, afirmando, por exemplo, que houve “mortes de ambos os lados”. “A escola não tem de influenciar para uma direcção ideológica”, disse em Outubro.

Propôs que as escolas ensinem a teoria da evolução de Charles Darwin em paralelo com o criacionismo (teoria de que Deus criou o homem).