Artistas contestam atribuição de espaços em incubadora de Viseu

Colectivo de sete artistas ocupa Incubadora de Indústrias Criativas, mas há quem equacione os critérios de atribuição do espaço. Em carta aberta, agentes culturais acusam autarquia de Viseu de não estar a ser transparente.

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Martin Henrik

A instalação de sete artistas na Incubadora de Indústrias Criativas de Viseu está a ser contestada por outros agentes culturais que questionam os critérios da autarquia para a atribuição dos espaços. Em carta aberta dirigida ao presidente da Câmara, os agentes culturais sublinham que “em nome da transparência” deveria ter havido um concurso público.

Localizada no centro histórico, a autarquia assinou no início desta semana os protocolos com os artistas que ali vão ficar instalados, durante dois anos.  Design e ilustração, cinema e multimédia, teatro e música, turismo e património são as áreas dos sete artistas que vão habitar a incubadora e onde já está instalada a empresa EON Indústrias Criativas.

“Não houve concurso, não há qualquer espécie de transparência com esta situação. Há muitos artistas que gostariam de ter um espaço para trabalhar e menos despesas. Há uns beneficiados que não se sabe porque são beneficiados e não há nenhuma explicação sobre isso”, sustenta Duarte Belo, o fotógrafo para quem a decisão da autarquia cria uma diferenciação entre “artistas de primeira e artistas de segunda”.

Para os contestatários, o que a autarquia fez foi um “ajuste directo sem justificação”.

Na carta aberta que está a ser divulgada através das redes sociais, os agentes culturais que a subscrevem afirmam que, “como outras, a actividade cultural é fortemente concorrencial, por isso as distorções ao normal funcionamento das leis de mercado prejudicam enormemente todos os agentes excluídos”. “Há muitos artistas e outros agentes culturais com trabalho reconhecido, nalguns casos ao longo de décadas, que apesar da grande precariedade em que vivem, pagam as suas rendas e todas as suas contribuições fiscais e para a Segurança Social”, pode-se ainda ler na mesma mensagem.

“A Câmara quer dar o exemplo de transparência com o Viseu Cultura [programa de apoio municipal] e depois faz adjudicações sem critérios como neste caso”, sintetiza Duarte Belo.

Jorge Sobrado, vereador da Cultura, rejeita as acusações e sublinha que o município “não se rege por escolhas pessoais”.

“Foi o único projecto colectivo de incubação de actividades artísticas que nos chegou até à data perfeitamente definido e com uma programação documentalmente descrita e comprovada”, explica o autarca. Este, continua, “foi o factor que valorizámos na medida que potenciava trocas de competências artísticas em diversas disciplinas e cujo perfil encaixava como uma luva naquilo que é a vocação desta estrutura”.

Para o vereador, o critério foi “objectivo”. “Por um lado, valorizar um equipamento que estava numa situação de disponibilidade” e, por outro, “dar a oportunidade a quem não tem ou não encontrou ainda no mercado um espaço de acolhimento para potenciar actividades que do ponto de vista de gerar rendimento e emprego ainda não estão consolidadas”, refere.

Jorge Sobrado frisa ainda que desde que a incubadora abriu, há mais de três anos, esteve continuamente a receber candidaturas. “Até ao momento em que o município, por unanimidade, deliberou esta atribuição por um período que é limitado, a verdade é que nenhum outro projecto se apresentou”, disse, lembrando que “Viseu é dos poucos municípios do país que dispõe deste instrumento de apoio à incubação das actividades artísticas”. “Seria importante não converter algo que é muito positivo no seu contrário”, remata.

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