Cartas ao director

Guerra à guerra

Estava eu entretido a ler no PÚBLICO de anteontem a notícia relacionada com o assassínio do jornalista saudita quando, a linhas tantas, se dizia que a administração americana está empenhada num “ajustamento” da liderança árabe aos factos de modo a não ficar em causa uma venda, pelos EUA, de material de guerra no valor de cerca de 95 mil milhões de euros. E, de repente, lembrei-me que, justamente no PÚBLICO, tinha estado a apreciar os números do Orçamento português, cuja receita e despesa se cifra em cerca de… 90 mil milhões de euros.

Ao primeiro embate, é o choque, brutal: uma corrente adjudicação de armas, uma, é mais que o valor da totalidade de recursos financeiros que um país como Portugal gasta num ano em escolas e hospitais, polícias e universidades, pensões, salários e tribunais, enfim, tudo. Depois do choque, a firme convicção de que um dos combates do futuro será pela desmilitarização gradual e pela diminuição drástica das despesas militares nos países democráticos e no Ocidente em geral, que hipocritamente continuam a armar e perpetuar ditaduras predadoras e sanguinárias. A luta contra o aquecimento global deverá incluir, também, um pacifismo radical que trave os anacronismos da indústria militar, da guerra e da agressão entre elites militares que, a pretexto de outros anacronismos como soberanias, nacionalismos e identidades, têm devastado milhões de humanos.

João Carlos Lopes, Torres Novas

Remodelação
O primeiro-ministro resolveu aproveitar a remodelação governamental para alterar a estrutura orgânica do governo. Nesta alteração surge a criação da Secretaria de Estado de Valorização do Interior. Muito se tem comentado sobre esta inovação, mais parecendo que o desertificado interior se vai transmutar com esta solução. Seguramente que vai ser mais um gabinete com o secretário de Estado mais os assessores, os assessores dos assessores, os directores e seus assessores e os funcionários recrutados ou não. É, com certeza, mais uma despesa cujos efeitos serão ou não visíveis, independente do mérito que esses serviços irão ter.

Desde há muitos anos que a questão do Interior é falada e têm sido criados diversos organismos com a ideia de mudança de rumo do Interior, no sentido do desenvolvimento, repovoamento, etc.. Todos os esforços empreendidos até ao presente, parece não terem tido qualquer benefício para alterar a actual situação. Quanto à actual situação, a maior certeza que há, é que não há certezas para a inversão da desertificação do Interior. Há medidas concretas que poderão começar a reverter esta situação como a regionalização que faz parte da Constituição da República e que, por responsabilidade do voto referendário maioritário contra, não foi avante. Não considerando a regionalização a panaceia para inverter esta situação, é seguramente um dos esteios fundamentais para a descentralização, desconcentração e desenvolvimento do Interior.
Mário Pires Miguel, Reboleira

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