Refrear a euforia para travar a "fúria" portista

Patrick do Canto prefere defrontar os titulares, pois teme a "raiva" e desejo de vencer dos suplentes que podem jogar a carreira no Monte da Forca.

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Patrick do Canto, treinador do Vila Real Adriano Miranda

Quando chegou a Vila Real, em Junho, Patrick Amghar do Canto assumiu a vontade de ser campeão, destacando o rigor, trabalho e dedicação como traves mestras de uma campanha que reservou uma surpresa na Taça de Portugal ao novo treinador dos transmontanos. Uma oportunidade que não tenciona desperdiçar, mesmo reconhecendo que o FC Porto é superior em todos os aspectos do jogo e poderá ainda revelar-se mais complicado caso Sérgio Conceição aproveite o ensejo para testar alguns reforços pouco vistos.

Aos 41 anos, Patrick do Canto recupera o palco que Álvaro Magalhães lhe proporcionou no Desp. Chaves, para estabelecer algumas comparações. "Estes jogos são mais uma oportunidade para se lembrarem que existimos, mas a tarefa é muito dura. Temos uma equipa jovem, com bons valores, mas que nestas ocasiões é preciso chamar à terra. Normalmente, tenho que motivar os jogadores. Com o FC Porto é preciso moderar a euforia, até porque como o adversário é superior técnica, táctica e fisicamente, só temos hipóteses se estivermos focados e totalmente concentrados no jogo. Caso contrário sofremos as consequências", alerta Patrick, preocupado com as segundas linhas do "dragão".

"Pode parecer um contra-senso, mas esse cenário não nos favorece. Os titulares do FC Porto não têm muito mais a provar. Já todos sabemos do que são capazes. Já para os novos, esta pode ser a oportunidade por que tanto anseiam. Esses são os que têm mais a perder. O clube, os adeptos e a crítica estão à espera de os ver em acção e, se quiserem vingar, terão que dar o máximo pois o julgamento é impiedoso. A carreira está em jogo em muitos casos e isso faz deles jogadores ainda mais ferozes, verdadeiros touros enraivecidos", diz Patrick do Canto, com algum conhecimento de causa.

Da carreira de futebolista, construída a partir do sector defensivo em emblemas como o Desp. Chaves, Santa Marta, Alijoense, Régua, guarda muito do know-how que o ajuda a encarar a realidade actual. "Tenho o Álvaro Magalhães no coração. Numa altura em que poucos apostavam em jovens, ele viu algo em mim e colocou-me a titular num jogo com o Rio Ave, no dia 25 de Janeiro de 1998. Nos cinco anos de Desp. Chaves concluí o curso de Educação Física e quando o treinador saiu, não houve sequência e acabei por dedicar-me ao ensino, colocando a carreira de futebolista em plano secundário. O Vila Real tem uma equipa de jovens e estudantes e percebo bem essa realidade", estabelece um paralelo, recordando um episódio que poderá comparar-se ao que os jogadores do Vila Real estão prestes a enfrentar.

"O Benfica jogava em Chaves e, junto ao nosso balneário, apareceu o presidente Vale e Azevedo, com a águia. Quando subiram ao relvado aconteceu algo de indescritível, com o estádio em êxtase", recorda, ainda atónito, mas certo de que o FC Porto poderá provocar algo do género em Vila Real, o que o obriga a manter os jogadores mais focados do que nunca, especialmente por serem maioritariamente da terra, em claro contraste com a realidade anterior, em que era normal surgirem sete nigerianos no "onze" do Vila Real.

"Os nossos jogadores não são inferiores em qualidade técnica e ajudam a trazer a cidade ao futebol, pois há as famílias e os amigos. Mas fisicamente há diferenças. Os africanos são mais fortes e neste campeonato isso pode ser decisivo. A única preocupação a ter, já que há cada vez mais casos destes, é rever as regras e os limites de estrangeiros para defender a formação. Enquanto treinador, tenho que me adaptar".

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