Escassez de bicicletas é pedra no caminho das Gira para fora de Lisboa

Vereador da Mobilidade diz que a culpa é da fabricante Órbita, que não comenta. Expansão para concelhos limítrofes e "contas de família" estão em estudo.

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Muitas docas têm sentido a falta das bicicletas SEBASTIAO ALMEIDA
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Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade de Lisboa RUI GAUDÊNCIO

Num momento em que a primeira fase da rede de bicicletas partilhadas de Lisboa já devia estar implementada, em que a segunda fase devia estar a arrancar e em que cresce a pressão das associações do sector para que as bicicletas não fiquem de fora da estratégia de mobilidade da área metropolitana, o sistema Gira enfrenta a sua primeira crise séria – há uma escassez de bicicletas nas docas.

“Neste momento temos 74 estações e 700 bicicletas contratadas com a Órbita [fabricante de bicicletas]. Mas nós não compramos bicicletas, nós contratamos 700 bicicletas disponíveis – 1000 ou 1500, são as que forem precisas para estarem 700 disponíveis”, explica o vereador da Mobilidade de Lisboa, Miguel Gaspar. Neste momento, há cerca de metade.

“Compete à Órbita garantir a disponibilidade e isso tem falhado. Quem tem de mudar alguma coisa para garantir a disponibilidade é mesmo a Órbita. Não estamos satisfeitos com o ponto de situação actual do sistema e a EMEL está a fazer tudo ao seu alcance, dentro da gestão deste contrato, para melhorar”, afirma o autarca, acrescentando que o contrato com a Órbita pode vir a ser cancelado – mas “é um cenário último e limite”.

O PÚBLICO colocou questões à Órbita, mas a empresa respondeu como tem feito a outros meios de comunicação: “Consideramos que atendendo ao que se tem passado, e embora não concordando, não é este o momento para tornar pública a nossa posição, pelo que oportunamente a comunicaremos.”

“É um projecto recente, novo para todas as partes, por isso desvalorizo muito o que tem acontecido de negativo”, diz Filipe Beja, membro do Conselho Nacional de Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável (CNADS), bem como da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB). Ainda assim, reconhece que “é muito penalizador para os novos utilizadores” haver escassez de veículos.

“Se não houvesse estes problemas, estaríamos a discutir para onde é que o sistema se pode expandir”, comenta, sublinhando a necessidade de “haver mais estações e mais bicicletas” dentro da cidade, alertando que os concelhos vizinhos não podem ficar de fora. “Este tipo de sistema devia ser visto no global da área metropolitana. Quando se fala do passe de 40 euros, que inclui todos os transportes, não concebo que não inclua as bicicletas. Não incluir as Gira seria um tiro nos pés para os decisores políticos”, avisa Filipe Beja.

Para Miguel Gaspar, faz sentido a expansão para fora de Lisboa. Aliás, a primeira fase das Gira prevê a instalação de uma grande doca em Algés, já no concelho de Oeiras. “Há o desejo de Odivelas e Amadora ter também um sistema, porque não ser o mesmo? As bicicletas não conhecem fronteiras administrativas”, diz o eleito. “Eu gostava muito, e acho plausível, que algures em Novembro a situação esteja normalizada e que nos permita, até ao final do ano, garantir boa parte do que nos falta do sistema, se não tudo”, afirma.

A pensar no futuro, o vereador anuncia que a EMEL está a trabalhar na criação de “contas de família, que nos permite reduzir o limite de idade para que a pessoa responsável pelo menor possa dizer ‘sim senhor, eu autorizo’.”

O orçamento municipal para 2019 reservou 12,3 milhões de euros para a construção de ciclovias, das quais as mais relevantes são a ligação entre o planalto central e as Olaias, entre a Praça de Espanha e Sete Rios, na Av. Combatentes, na Av. Índia, na R. Conde de Almoster, na Estrada da Luz e na Alameda das Linhas de Torres. “Entre o ovo e a galinha, claramente temos de apostar no ovo para que a galinha possa nascer. As ciclovias é por onde tudo começa”, diz Miguel Gaspar.

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