Foodies indecisos ou cérebros bloqueados?

Todos os dias somos levados a tomar decisões. Quando as opções são demasiadas, podemos nem conseguir decidir e acabar na escolha mais instintiva — ou na nossa zona de conforto.

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Eaters Collective/Unsplash

Novo restaurante trendy aonde há tanto querias ir, foodie assumido com menu na mão, mil e uma escolhas, e entre as cebolas crocantes caramelizadas, quatro tipos de queijo, em bolo do caco ou não, de repente já estás a perguntar à pessoa do lado o que vai escolher. Soa-te familiar? Serás apenas o indeciso do grupo ou haverá algo mais? Os neurocientistas também quiseram saber.

Todos os dias somos levados a tomar decisões: desde a paragem no menu para escolher qual o prato que queremos ao zapping para escolher a próxima série, passando pelo simples champô que queremos experimentar. Quando as opções são demasiadas, podemos nem conseguir decidir e acabar na escolha mais instintiva — ou na nossa zona de conforto.

Mas qual a razão para ficarmos bloqueados? Num novo estudo, publicado na revista Nature Human Behaviour, investigadores analisaram mais detalhadamente a razão pela qual uma sobrecarga de escolha nos faz actuar desta forma.

Os participantes do estudo tinham que escolher uma imagem para colocar numa caneca personalizada e podiam ter seis, 12 ou 24 opções, sendo que enquanto faziam a sua escolha estavam ligados a um equipamento de ressonância magnética que permitia medir a actividade cerebral.

Os resultados revelaram actividade cerebral em duas regiões do cérebro: o córtex cingulado anterior, região onde avaliamos os prós e os contras, e no striatum, onde podemos determinar o valor que tem para nós. A actividade cerebral foi maior quando os participantes tinham 12 opções de escolha, em vez de seis ou 24, “o que nos pode indicar que esse seja o ponto ideal para uma boa tomada de decisão”, conclui Colin Camerer, autor do estudo. 

Já há quase 20 anos, na Califórnia, outros investigadores fizeram o mesmo mas com doces numa mercearia: a um grupo eram oferecidas 24 amostras, e a outro apenas seis. Também aqui já se verificava que, embora os compradores estivessem mais propensos para parar, quando tinham muita escolha acabavam por não levar nada. Quem nunca parou a olhar para a lista de um restaurante e acabou por ir ao do lado só para não ter que pensar mais?

No fundo, pode mesmo aplicar-se a expressão “mais olhos do que cérebro” pois, apesar de nos sentirmos mais livres quando temos muito por onde escolher e com sensação de controlo da situação, o nosso cérebro sente-se mais angustiado no momento da decisão.

Esta descoberta não é só importante na escolha de uma pizza ou de uma série, mas pode ter bastantes aplicações em tomadas de decisão a nível económico ou social. Na Suécia, por exemplo, verificou-se que, num sistema ao dispor dos cidadãos em que estes podiam transferir uma parte da sua reforma para fundos privados, com centenas de opções de fundos disponíveis, apenas 1% dos suecos tomava essa decisão activamente ao fim de uns anos.

No final do dia, segundo o autor, este tipo de estudo pode ajudar-nos a explorar e quantificar quais os custos mentais das tomadas de decisão e as consequências da desistência da decisão ou mesmo de decisões instintivas e possivelmente erradas.

Claro que tudo pode depender da personalidade e de quão decididos somos. Eu sou sempre a indecisa e fã do truque “Um dó li tá” — ou de dizer, simplesmente, a primeira opção que me vem à cabeça quando chega a hora decisiva do pedido.

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