Depois da lua-de-mel, o Mónaco quer avançar para o divórcio

Equipa de Leonardo Jardim foi campeã de França há ano e meio, mas os dirigentes do emblema monegasco não se conformam com o mau início de época e estão prestes a despedir o português

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“Não me fui embora quando tudo corria bem”, lembrou Jardim, no passado fim-de-semana Reuters/ERIC GAILLARD

O divórcio não deverá passar desta semana, segundo a imprensa francesa: a ligação de Leonardo Jardim ao Mónaco terminará muito provavelmente nos próximos dias, dado o péssimo início de época que a equipa monegasca está a protagonizar (uma vitória em 12 jogos oficiais). Com cinco derrotas em nove jornadas da Liga francesa, o Mónaco ocupa o antepenúltimo lugar na classificação, a quatro pontos do grupo de equipas que tem imediatamente acima. A temporada tinha começado com a goleada sofrida frente ao Paris Saint-Germain (4-0), na Supertaça francesa, e na Liga dos Campeões os monegascos também perderam os dois jogos que já disputaram (com Atlético de Madrid e Borussia Dortmund).

“No clube desde 2014 e com contrato até 2020, Leonardo Jardim não deverá terminar a quinta época no Mónaco”, escrevia o diário desportivo francês L’Équipe. “Segundo diversas fontes, a análise feita pelo proprietário [do clube] Dimitri Rybolovlev e pelo vice-presidente Vadim Vasilyev levou-os a dispensar o técnico”, acrescentava o jornal. Ainda que não exista uma decisão oficial do clube, a imprensa já aponta um nome para suceder a Jardim: Thierry Henry, ex-internacional francês que cumpriu parte da formação e fez a estreia como sénior no Mónaco, e é actualmente adjunto de Roberto Martínez na selecção da Bélgica.

Campeão de França há um ano e meio, na terceira época no comando técnico do Mónaco, Leonardo Jardim deixará o clube mais como vítima do que réu. Numa sondagem no site da France Football, 61% (em mais de 1800 votantes) consideravam que o clube não tinha razão em querer separar-se do treinador nascido na Venezuela. Se Jardim é culpado de alguma coisa, é de não ter conseguido repetir pelo quinto ano consecutivo a receita que tão bons resultados tinha dado nas épocas anteriores: foi contratado para um projecto milionário que, poucas semanas depois, deu uma volta de 180 graus, invertendo drasticamente a estratégia. O Mónaco passou a ser um clube vendedor, apostando na promoção de talentos com margem de progressão.

Poucas semanas depois de chegar a Monte Carlo, Jardim viu sair James Rodríguez (Real Madrid) e Radamel Falcao (Manchester United). Era um sinal do que estava para vir: o Mónaco rapidamente foi da ilusão à desilusão e, a cada Verão, via partir os jogadores que mais se tinham destacado na época anterior. Em 2015 saíram Martial, Ferreira Carrasco, Kondogbia e Kurzawa. A seguir ao título, em 2017, foram vendidos Mbappé, Mendy e o português Bernardo Silva. Neste Verão foi a vez de João Moutinho, Fabinho e Lemar.

“Todos devemos reflectir”

“Em épocas anteriores, Jardim encontrou uma forma de atingir os objectivos do clube mesmo sem um grande investimento, mas esta época poderá não ter as ferramentas para repetir esse feito”, escreveram Adam White e Eric Devin numa análise publicada pelo The Guardian. “A ascensão brusca do Mónaco deveu-se em grande parte a uma liderança técnica, prospecção e administração ponderadas e astutas. Mas estão sob ameaça de uma queda dramática devido aos erros dessa mesma hierarquia”, acrescentavam os autores.

“Todos devemos reflectir. O futebol é um jogo colectivo. Não me fui embora quando tudo corria bem, por exemplo depois do título. Fiquei, sabendo que este ano seria difícil. Fiquei para continuar a trabalhar e a dar o meu melhor. Sou, como treinador, a pessoa responsável pela equipa. Quando os jogadores cometem erros, são também os meus erros”, dizia Jardim no fim-de-semana, após a derrota caseira com o Rennes.

Para os dirigentes do Mónaco, as costas do treinador serão suficientemente largas para assumir as responsabilidades por todos. Após quatro anos a valorizar talentos e a vê-los partir para as maiores equipas da Europa, como se estivesse numa linha de montagem, Jardim está perto da saída.

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