"Estrela" do Técnico suspeita de ciberataque ao Ministério Público

Coordenador do núcleo de integração e arquitectura de software da escola de engenheiros também é arguido de processo em que também há menores implicados.

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Charles Deluvio/Unsplash

Uma estrela da informática do Instituto Superior Técnico é suspeita de ter participado nos ciberataques que em 2014 expuseram dados pessoais de todos os magistrados do Ministério Público, como endereços de email e, em muitos casos, números de telemóvel.

Artur Ventura, que tem 33 anos e negou às autoridades estar implicado nestes crimes, foi constituído arguido juntamente com outras 22 pessoas, entre as quais se inclui o coordenador do núcleo de integração e arquitectura de software do Técnico, David Martinho. O autor do site Tugaleaks, Rui Cruz, também foi incriminado pelo Ministério Público.

Entre os piratas informáticos está ainda um rapaz que tinha apenas 15 anos quando participou num ciberataque ao site de Tony Carreira, nome artístico de António Antunes. Quem acedeu ao sítio do cantor naquela altura deparou-se com uma fotomontagem do artista com um saco de dinheiro na mão, e a seguinte mensagem: “Oh tone, pensavas que tínhamos esquecido de ti era? Corrupção nunca se esquece. Principalmente quando se copia músicos para se ganhar dinheiro não é. Nós somos anonymous, somos agora e sempre ao lado do povo. Não admitimos corrupção, espero que isto sirva de aviso. Nós somos anonymous, nós somos legião, nós não esquecemos, nós não perdoamos, esperem por nós”.

Quando a polícia revistou o quarto deste estudante, que mora em Águas de Moura, encontrou não apenas o equipamento informático com que levou a cabo as suas façanhas digitais mas também um urso de peluche. Devido à sua idade, o jovem é penalmente inimputável, pelo que não será julgado – o mesmo tendo sucedido com outro rapaz que tinha na altura 14 anos e habitava na Terrugem, em Sintra.

Nem a Polícia Judiciária escapou aos ciberataques de 2014, que incluíram ainda estabelecimentos de ensino, partidos políticos, as Águas de Portugal, o Conselho Superior da Magistratura e várias outras instituições.

“O Governo tem de ser mais transparente"

Tanto Artur Ventura como David Martinho, que chegaram a morar juntos quando eram apenas alunos do Técnico, foram acusados do crime de acesso ilegítimo.

Artur Ventura não é um desconhecido fora do meio académico: descobriu que o perfil de José Sócrates foi alterado na Wikipédia para eliminar referências à licenciatura na Universidade Independente e criou no Twitter um instrumento para permitir monitorizar as alterações nesta enciclopédia online feitas por anónimos que usam endereços electrónicos associados à Assembleia da República.

“O Governo tem de ser mais transparente. Trata-se de algo que também tem uma função de fiscalização de situações em que o Governo ou os deputados tentam alterar o que se passou na realidade”, justificou o jovem programador numa entrevista que deu em 2014.

Entre as várias funções que desempenhou como informático da escola dos engenheiros desde 2013, destaca-se o seu trabalho na gestão e desenvolvimento da FenixEdu, uma plataforma de informação académica open-source.

Quando foi interrogado pelas autoridades, Artur Ventura negou ter participado no ataque ao site da Procuradoria-Geral da República, mas admitiu ter acedido a ele para recolher informação destinada a tornar os seus conteúdos pesquisáveis por qualquer utilizador. Neste processo ter-se-á deparado com uma vulnerabilidade da página, que não terá, segundo disse, explorado. Contactado pelo PÚBLICO, o arguido remeteu qualquer esclarecimento para a sua advogada, com quem não conseguimos entrar em contacto. Também não foi possível obter qualquer reacção sobre este caso junto dos dirigentes do Instituto Superior Técnico.

Além do ataque ao Ministério Público, neste inquérito foram reunidos outros 25 processos. O responsável pela investigação foi o coordenador do gabinete de cibercrime da Procuradoria-Geral da República, que foi coadjuvado pela Polícia Judiciária.

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