CR7 é "The Best"

No momento em que este artigo for publicado, faltarão poucas horas até ser conhecido o eventual castigo da UEFA a Cristiano Ronaldo a propósito da sua expulsão no jogo da Champions entre a Juventus e o Valência. Muito se falou e comentou sobre se foi ou não exagerada a amostragem pelo árbitro do cartão vermelho, mas independentemente da percepção de cada um, muitas vezes baseada nos sentimentos e emoções que Cristiano desperta em cada um de nós, eu gostava de fazer, como sempre, uma análise dos factos ocorridos com base nas leis de jogo.

Cristiano Ronaldo, no seu movimento de corrida e com o pé direito, pontapeou de forma imprudente o pé do seu adversário e este caiu de imediato. Achando que este estava a simular e a tentar ganhar uma falta, Ronaldo, com o braço, fez um gesto de puxar o cabelo - que nas imagens não se vê bem se concretizou ou não, por se tratar de uma fracção de segundo - mas manteve a mão sobre a cabeça.

O árbitro alemão nada ia fazer em termos disciplinares até que, por indicação e informação do seu árbitro de baliza (árbitro assistente adicional é o termo tecnicamente correcto), mostrou o cartão vermelho.

Ora, os árbitros quando expulsam alguém têm de mencionar de forma adequada e detalhada os motivos por que o fizeram, e para além de descreverem o que ocorreu têm de enquadrar tudo isso na expressão da lei 12, do guia universal, onde se enquadra esse cartão vermelho.

Por se tratar de um gesto sem estar a disputar a bola de forma directa, o enquadramento só pode ser na “Conduta Violenta”. Vamos então analisar o que diz a lei sobre isto: verifica-se conduta violenta quando um jogador usa ou tenta usar força excessiva ou brutalidade, neste caso específico, para com o adversário. E “força excessiva” significa que o jogador faz uso excessivo da força, colocando em perigo a segurança de um adversário, entenda-se num sentido mais geral e abrangente, que põe em risco a integridade física do seu adversário.

Ora, pela observação directa do lance, percebemos claramente que aquele gesto de Cristiano não só não lesionou o seu adversário como pela brevidade em que ocorreu e pela intensidade com que foi feito não foi excessivo, como não pôs em risco a segurança do seu adversário e muito menos foi agressivo ou brutal.

Mas, continuando na lei e ainda a propósito das expulsões e das condutas violentas, lemos também que, se no momento em que um jogador não estiver a disputar a bola, deliberadamente, atingir o seu adversário na cabeça ou na cara com a mão ou com o braço, será igualmente expulso a não ser, e passo a citar, “que o uso da força seja insignificante”. Ora, percebemos claramente que aquele momento rápido de talvez puxar o cabelo e da mão sobre a cabeça do adversário, em termos de força, não foi mesmo significante. Foi breve, simples, sem força, sem intensidade e sem consequência.

Por tudo isto, onde se enquadra então o que o CR7 fez, na realidade? Na mesma lei 12, e nos comportamentos antidesportivos, que são todos aqueles que por serem incorrectos e por desrespeitarem o adversário e, neste caso, indirectamente pela atitude, o próprio jogo, são penalizados com cartão amarelo.

Cristiano não agrediu, não deu um murro, nem uma cotovelada, nem um pontapé, foi apenas incorrecto, antidesportivo, pelo que o cartão correcto seria o amarelo e nunca o vermelho.

Conhecendo as instituições internacionais minimamente, não acredito na despenalização do cartão e sinto que vai mesmo haver uma suspensão, e digo isto, com a mesma base com que digo, de forma peremptória, que não compreendo como é que Cristiano não conquistou recentemente dois prémios, um da UEFA e outro da FIFA, para melhor jogador da Europa e do mundo.

Não vou falar, uma vez mais, de sentimentos ou percepções. Faço, como fiz na análise da sua expulsão - em que me baseei em factos e no caso concreto nas leis de jogo. Por isso, baseio-me apenas em números relativos ao período a que estes prémios dizem respeito: Cristiano marcou 54 golos, 44 ao serviço do Real Madrid, dos quais 15 foram na Liga dos Campeões, os outros 10 foram pela selecção nacional, dos quais quatro foram no Mundial. Pelo meio ganhou a Supertaça de Espanha, a Supertaça europeia, o Mundial de clubes e a Champions. Perto dele e destes números só mesmo Messi, com 45 golos, que foi Bota de Ouro, ganhou a Liga espanhola, a Taça do Rei e foi decisivo no apuramento para o Mundial ao serviço da Argentina com o hat-trick frente ao Equador. Resumindo e concluindo, melhor que Messi só Cristiano Ronaldo, perto do CR7 só Messi, e as tais instâncias internacionais que vão provavelmente suspender o jogador português conseguiram pôr de fora da votação o argentino e relegar para segundo plano Cristiano.

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