O dia em que Luisão deixou de ser o capitão e passou a símbolo

Brasileiro de 37 anos anunciou o final de uma carreira dedicada quase na totalidade ao Benfica. Foram 15 anos na Luz, onde se tornou no jogador com mais títulos conquistados pelos “encarnados”.

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Luisão num dos 538 jogos que fez ao serviço do Benfica
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Luisão num dos 538 jogos que fez ao serviço do Benfica LUSA/JOSE SENA GOULAO

Para se ter uma ideia da longevidade de Luisão no Benfica, comecemos por este dado. Chegou à Luz quando o presidente dos “encarnados” era Manuel Vilarinho no longínquo ano de 2003, durante a janela estival do mercado de transferências. Luís Filipe Vieira já era quem mandava no futebol das “águias”, mas era Vilarinho o presidente quando, a 23 de Agosto, então com 22 anos, estatuto de internacional brasileiro e campeão no Cruzeiro, era apresentado no Benfica. Em 15 anos, Luisão fez-se capitão, conquistou 20 títulos e jogou 538 jogos.

Nesta terça-feira ficou a certeza de que nenhum desses números irá crescer. Luisão falou do final da sua carreira como jogador, que começou no Juventus de São Paulo, prolongou-se para o Cruzeiro de Belo Horizonte e que teve década e meia na Luz. O agora ex-defesa central ainda tinha contrato até ao final da primeira temporada, mas o abandono da carreira competitiva acabou por ser acelerado pelos zero minutos de utilização na presente temporada. Depois de tantos anos a manter a concorrência à distância, Luisão finalmente “perdeu” a batalha com o tempo.

“O que me fez antecipar o final de carreira foi que a minha história foi escrita em 500 e tal jogos, o que me fez tomar a decisão é que a minha história já foi escrita, era a minha hora”, justificou o brasileiro durante uma cerimónia que decorreu no relvado da Luz, fechada ao público, mas com uma plateia onde estavam os seus pais, a sua mulher e duas filhas, os ex-colegas, antigas glórias do clube, e, claro, Luís Filipe Vieira, que até se enganou no número de jogos do brasileiro (rectificou pouco depois), mas que deixou bem presente na sua mensagem toda a admiração que sente pelo brasileiro.

“Recordo com nostalgia o dia em que conheci um rapaz franzino, mas enorme na alma e na entrega. Agora olho para um profissional que se despede feliz e orgulhoso. Muito obrigado pelo carácter, profissionalismo, liderança e amor ao Benfica. És o meu companheiro de viagem e tanto a minha como a tua estão longe de terminar”, disse o presidente “encarnado”, que ofereceu a Luisão uma capa emoldurada de uma edição do jornal do clube, com o brasileiro a dizer que queria fazer história na Luz. “E fizeste mesmo”, rematou Vieira, que, em tempos, disse que Luisão foi o “único sobrevivente do caos do Benfica”, referindo-se ao estado do clube há 15 anos.

Bons e maus momentos

Apontado ao cargo de director das relações internacionais do clube, Anderson Luís da Silva deixa os relvados como o segundo jogador que mais jogos fez pelo clube da Luz, apenas atrás de Nené. Mas foi quem mais jogos fez como capitão (414) e o que mais títulos ganhou (20). Só lhe faltou uma conquista internacional, uma lacuna que Luisão lamentou numa carreira de década e meia de Benfica com bons e maus momentos, em que foi líder, goleador quando era preciso, e professor no activo de dezenas de jovens defesas que foram passando pela Luz.

Quanto ao pior momento, Luisão falou de quando sentiu que os adeptos não estavam com a equipa: “O pior momento ao serviço do Benfica... É muito difícil quando eu aqui no campo percebi que não havia apoio da bancada e tomei a atitude de defender os meus companheiros. Houve jogos assim e acredito que o torcedor ficou chateado comigo.”

Sobre os melhores momentos, Luisão escolheu dois, um de conquista e outro de superação: “O famoso golo contra o Sporting que nos deu a possibilidade de titulo — sei que é um lance que continua a dar polémica e, pelas minhas filhas, não foi falta. E aquele momento em que quebrei o braço. Às vezes tinha muitas dúvidas e pensei que a minha carreira tinha morrido, mas a minha vida profissional renasceu, e foi um momento importante”, recordou o brasileiro de 37 anos no dia em que deixou de ser o capitão em campo e passou a ser um símbolo.

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