Canadá estuda modelo português de descriminalização do consumo de drogas

Subdirector-geral do Serviço de Intervenção de Comportamentos Aditivos e nas Dependências está no Canadá a explicar o modelo português de descriminalização do consumo de droga. Na província do Ontário, nos últimos 15 anos, 1.250 pessoas morreram por overdose de opióides.

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Nuno Ferreira Santos

Algumas organizações canadianas estão a estudar o modelo português de sucesso da descriminalização do consumo de droga para que possa ser desenvolvido no país um modelo semelhante, disse à Lusa um responsável desta área.

O subdirector-geral do Serviço de Intervenção de Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), Manuel Cardoso, está no Canadá desde o dia 11 de Setembro a participar em duas conferências, explicando aos canadianos o modelo português.

"Estão a tentar promover o acompanhamento e a recuperação de toxicodependentes e quiseram que explicasse o modelo português para avaliarem a possibilidade de poderem propor ou pressionar o Estado canadiano a desenvolver um modelo próximo do português", afirmou Manuel Cardoso, em declarações à agência Lusa.

O Subdirector do SICAD falava na Casa do Alentejo de Toronto, na sexta-feira à noite, após um encontro com a comunidade portuguesa.

Antes, nos dias 13 e 14, participou na Conferência "Recovery Capital", juntamente com especialistas canadianos, tendo em vista a crise de opióides, nomeadamente do fentanil, drogas que estão a provar overdoses na América do Norte.

Na província do Ontário, nos últimos 15 anos, já perderam a vida devido a overdoses de opióides 1.250 pessoas, um aumento de 246%, segundo dados do Ministério da Saúde do Ontário.

Segundo o site da organização, nos primeiros três meses de 2018, já foram confirmados 59 óbitos, 303 em 2017, e em 2016 registaram-se 186 mortes.

Trabalho conjugado de prevenção, tratamento e reinserção

A introdução da lei em 2001 que descriminalizou a posse para consumo pessoal de drogas e promoveu medidas para a sensibilização dos consumidores, contribuindo para a redução da criminalidade e de casos de VIH entre toxicodependentes, tem particular interesse para o público canadiano.

"Para a população portuguesa foi um sucesso. A situação que tínhamos em 1997/98, antes da descriminalização, com aquilo que temos hoje não é comparável. Os ganhos são em toda a linha em quase todos os indicadores. Só pode ser considerado um modelo de sucesso", explicou.

O subdirector-geral do SICAD enalteceu ainda no modelo português como factor de sucesso "o trabalho conjugado entre a prevenção, o tratamento, a redução de riscos, a minimização de danos e a reinserção para que se possa chegar a bom porto".

No entanto, descriminalizar um modelo pode não ser suficiente, "não é a bala de prata", pois tem de haver "todo um conjunto de actividades e de intervenções que é indispensável" fazer.

O Canadá será o segundo país do mundo, após o Uruguai, a legalizar o consumo e o cultivo de cannabis a partir do próximo dia 17 de Outubro.

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