E quando a escrita ganha voz?

O Vodafone Paredes de Coura regressa com sessões de leitura protagonizadas por nomes da cultura nacional na Praia Fluvial do Taboão. Chamam-se “Vozes na Escrita”.

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André Ferreira
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O Vodafone Paredes de Coura é um festival que tem mais para além de música. A 26ª edição realiza-se de dia 15 até 18 de Agosto mas engane-se quem pense que a experiência vive só de um cartaz fantástico — mesmo com nomes como Arcade Fire, Fleet Foxes e Skepta. A receita do festival (que atingiu recordes de público em 2017) resulta de um ambiente caloroso, de um público apreciador q.b. e de acções como as Vodafone Vozes da Escrita que convencem os festivaleiros a ouvir escrita de dia e música à noite.

O encontro está marcado para dois dias, às 13h, no palco Jazz na Relva da Praia Fluvial do Taboão. A actriz e encenadora Sara Carinhas e os músicos Manuela Azevedo e António Zambujo formam o trio de dia 16 de agosto. O escritor José Eduardo Agualusa e o músico Kalaf Epalanga são a dupla do dia 17 de agosto. À semelhança dos quatro anos anteriores, os convidados vão dar voz à escrita e apresentar duas sessões de leitura inéditas nas margens do rio Coura. O cenário ideal para uma mão de nomes consagrados da música, da literatura e do teatro encantar o público com as suas palavras.

“Tenho participado em sessões de leitura em países como França, Alemanha, Reino Unido, Holanda. Gosto muito. Nunca compreendi porque em Portugal ainda não se conseguiu instituir este tipo de espectáculo”, confessa José Eduardo Agualusa em entrevista ao Público. Mas com a bênção da Vodafone e o entusiasmo do público, as chamadas “Vozes da Escrita” regressam ao Vodafone Paredes de Coura. A ideia, essa, surgiu em 2015 com a participação dos escritores Matilde Campilho, Pedro Mexia, Carlos Vaz Marques e Rui Cardoso Martins. Nos anos seguintes, juntou os músicos Samuel Úria e Gisela João, Capicua e Adolfo Luxúria Canibal, Catarina e Tomás Wallenstein, Marta Ren e Miguel Guedes.

“É uma forma de aproximar leitores de outros leitores e leitores de escritores e de apresentar livros. Resulta muito bem”, explica o escritor que vai honrar a cultura angolana ao lado do amigo Kalaf Epalanga. “Kalaf tem um mundo, e é uma pessoa curiosa e muito determinada. Para mim é sempre um prazer estar com ele. Acho que nos iremos divertir.”

Aliás, a profunda amizade entre ambos não é segredo e irá, com certeza, reflectir-se na sessão de leitura de ambos. José Eduardo Agualusa, nome incontornável da literatura lusófona, chegou mesmo a apadrinhar a estreia de Kalaf como romancista no final de 2017, quando este lançou “Também os Brancos Sabem Dançar”. “O mais importante é acreditar que nem só de música vive o indivíduo. O Vodafone Vozes da Escrita acredita nesse princípio e sabe a importância de completar um programa musicalmente rico com outras expressões culturais que tornam a experiência de um festival de verão em algo inesquecível para todos os que nele participam”, diz Kalaf Espalanga.

Mas o que liga tanto a música à literatura? “Há uma coisa que os liga, que é a língua”, responde rapidamente António Zambujo ao Público. “No meu caso e com muito orgulho, a Língua Portuguesa”, acrescenta o cantor influenciado pelo cante alentejano e pelo fado que vai dar vida a estas sessões de leitura ao lado da vocalista dos Clã Manuela Azevedo e da actriz Sara Carinhas. Uma hora de partilha e cumplicidade onde pode entrar poesia, letras de canções, excertos de romances, crónicas, histórias e autores vários.

“Todos os momentos de partilha de literatura, música, beleza, pensamento, são preciosos e necessários”, defende Sara Carinhas que iniciou o seu percurso como actriz em 2003. “Os próprios teatros deveriam alimentar as leituras, a meu ver, de modo mais regular. Estas sessões são particularmente bonitas por juntarem artistas que se podem revisitar, criando um pequeno mundo paralelo ao ambiente de um Festival de música, num registo diferente, de ficção.”

Mas o “O Couraíso”, como lhe chamam os icónicos fãs, não fica por aqui. São várias as surpresas que prometem tornar o festival ainda mais especial: as Vodafone Music Sessions, a Biblioteca Digital Vodafone e o espaço Yorn Republics. Os passes gerais para o festival custam 100 euros, com campismo incluído (limitado ao espaço existente), e os bilhetes diários estão disponíveis pelo preço de 50€ — à excepção dos bilhetes para o dia 18 que já se encontram esgotados. Apresse-se para não perder uma experiência de quatro dias que ficará para sempre na memória.