Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita

A verdade, acredito, é que não existe uma fórmula perfeita para lidar com as pessoas. Existe, sim, o tal ajuste constante ao meio em que vamos aterrando ao longo da nossa vida.

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Gaelle Marcel/Unsplash

“Eu avisei!”, “Segue os meus conselhos que eu sei como as coisas funcionam”, “Ouve o que eu te digo, vais ver que tenho razão”: na maioria das vezes, ouvimos isto e acreditamos que a intenção é a melhor. Contudo, no geral, o ser humano tem tendência para achar que detém fórmulas mágicas para lidar com aquele problema só porque, em tempos, teve que o resolver. Chega até a cegar com a necessidade de tentar fazer tudo à sua maneira, recusando a ideia de que podem existir outras soluções.

A meu ver, é importante que se ganhe alguma consciência da forma como nós (e os outros) nos comportamos nos vários contextos. Que se tenha abertura para compreender que tem que haver uma adaptação, não só da nossa parte, como também de todos aqueles com quem lidamos diariamente.

Com a correria do dia-a-dia, poucas vezes paramos para pensar na razão que levou a que o nosso colega reagisse daquela forma, para tentar descortinar se quem convive connosco aprendeu, de facto, a aceitar os nossos defeitos e raramente estamos atentos à forma como nos adaptamos e reagimos aos vários “confrontos”.

A verdade, acredito, é que não existe uma fórmula perfeita para lidar com as pessoas. Existe, sim, o tal ajuste constante ao meio em que vamos aterrando ao longo da nossa vida. Um ajuste que acaba por nos ser muitas vezes exigido pois, de outra forma, andaríamos sempre aos tabefes e encontrões na tentativa de provar qual de nós tem sempre razão. Parece-me importante estar aberto à mudança, seja qual for a circunstância.

Porque, de facto, quando aceitamos que temos que nos adaptar aos diferentes contextos e pessoas tudo se torna mais fácil. Começamos a perceber que uma discussão tem sempre dois lados, que uma história nunca tem uma só versão e, acima de tudo, que somos todos diferentes.

O problema surge quando essa flexibilidade parte unicamente de nós e algumas pessoas com quem lidamos nos deixam na mão, exigindo tudo a troco de nada. Torna-se difícil aceitar que a mudança (que tanto esforço requer) surge a solo, sem o acompanhamento tão necessário das restantes vozes, ou que não surge de todo.

Se, para além disso, ainda concluirmos que o preço da mesma é demasiado elevado e que não estamos (ainda) dispostos a pagá-lo, então o melhor mesmo é repensar a forma como encaramos alguns assuntos.

E nesse momento restam-nos duas hipóteses: ou aceitamos que existe uma carência de vontade para a mudança e aprendemos a viver com isso, ou metemos a viola no saco e conformamo-nos que o caminho não será por ali, reconhecendo que há coisas e pessoas que dificilmente vamos conseguir mudar.

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