O que falta, mesmo, às mães é um verdadeiro sindicato

Seja como for, onde esta carência de direitos laborais se torna gritante é - pasme-se! - nas férias.

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LUSA/LUÍS FORRA

As mães saudáveis falam, como se sabe, pelos cotovelos. E quando não é preciso, elevam o tom dos agudos e arrasam nos decibéis. Mas, sempre que aquilo que está à discussão são “reivindicações laborais”, falta-lhes qualquer coisa de “frente comum sindical” e os verdadeiros usufrutuários do seu ímpeto laboral nunca as levam a sério. Porque, chegadas à altura de reivindicarem um contrato colectivo que as enquadre e proteja, um horário laboral que preveja o desgaste rápido que a função de mãe acaba por ter, um horário rígido de trabalho e um esquema de folgas rotativas ou de férias proporcionais ao “tempo de serviço”, o que é que as mães fazem? Ora entram por pequenos protestos caseiros do género: “Eu gostava era de ter 5 minutos só para mim!” (que exagera no pretérito). Ora avançam com manifestações inflamadas como: “Qualquer dia tiro férias de mãe e vocês vão ver!” (que abusa no futuro). Sem nada de greves, de entrevistas no “Jornal das 8” nem, sequer, pedidos de audiência à Presidência da República. E o resultado, qual é? Aquele que se sabe: “Népias”, como dizem os filhos. As mães continuam, por um lado, nos seus ímpetos de: “A luta continua!”. E os filhos - qual “grande capital” - a viver à conta do seu trabalho, injustamente retribuído, e sem consideração quase nenhuma por tanto desabafo.

Seja como for, onde esta carência de direitos laborais se torna gritante é - pasme-se! - nas férias. O dia começa com a criançada, ao contrário daquilo que se passa no tempo das aulas, a bater-lhe na cara e a dizer: “Mãe, estou acodado!”. Ou com um: “Tenho fome”. Ou: “Quero ver bonecos!” E continua com uma briga pelo controle do comando da televisão, com alguém a protestar “Quando era comigo já tinha levado um estalo”, acompanhado por uma porta a bater. E prossegue com: “Não quero pão. Quero iogurte!”. E “eu não vos disse que só podem ir lá para fora só depois do protector solar?”. E, quando se está pronta para fugir de casa, e ir tomar um café sem crianças e ler o jornal, há sempre uma ânsia por “fake news” quando um dos filhos surge, a correr, com mais um episódio da saga: “Ó mãe!?…”, agora, com o episódio: “O mano vomitou”. E, depois, há a ida para a praia, com a geleira, os brinquedos, os chapéus e etc. E os horários dos raios ultra-violeta que arrasam com qualquer perspectiva romântica dumas férias sem direito a relógio. E os senhores das bolas de Berlim que só trazem más ideias. E as pessoas do toldo do lado que cochicham por causa da algazarra no nosso. E os amigos dos filhos que tomam de assalto o metro quadrado de areia que uma mãe julgava só seu. E o regresso a casa, o almoço e as sestas. E, depois, a praia, outra vez, e os mesmos “filmes”. E: “A mana atirou-me areia para os olhos!”. E os calafrios porque, de repente, se perdeu de vista uma das crianças. E, depois, há mais dois amigos dos filhos que pedem para dormir lá em casa, “só esta noite”. E os banhos, claro. E “Quem é não sacudiu a areia?”, gritada várias vezes ao dia. E as mordidelas das melgas, pois.

Reconheço que: “Eu gostava era de ter 5 minutos só para mim!” tem - as mães que me desculpem - o seu quê de “demagogiazinha” muito parecida com aquela que se vai observando nalguns políticos (doutros países, claro!). Afinal, quem pode ser feliz com 5 minutos só para si?!… Mas “qualquer dia tiro férias de mãe e vocês vão ver!” também só as deslustra. Ainda se fosse uma greve de zelo!… Agora, ameaçar com um abandono da função!… O que falta, mesmo, às mães é um verdadeiro sindicato. E faltam férias, claro. E não se fala mais nisso.

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