Abrunhosa regressa a Matosinhos para fazer história

Pedro Abrunhosa sobe ao palco com a Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música, Sábado, dia 28 de Julho, às 22h00. Um concerto inédito que promete revisitar os maiores êxitos do músico.

Foto
Abrunhosa irá tocar temas como "Tudo o que eu te dou" ou "Se eu fosse um dia o teu olhar" Arlindo Camacho

Ao ar livre, com entrada livre e liberdade criativa: liberdade para ouvir «Tudo o que eu te dou» e dizer «Toma conta de mim», como «Se eu fosse um dia o teu olhar», e dançar debaixo de uma Lua a brilhar. Estes e outros temas, verdadeiros hinos do repertório de Pedro Abrunhosa, irão criar uma atmosfera única no próximo Sábado à noite, numa proposta integrada no programa Verão na Casa, da Casa da Música e no Festival Matosinhos em Jazz. Matosinhos faz palco da sua Praça Guilhermina Suggia, num lugar não por acaso baptizado com o nome da maior e mais virtuosa violoncelista portuguesa de sempre. Se na noite de Sexta-feira a música se irá fundir entre as canções de Sérgio Godinho (É Terça-Feira, Com um Brilhozinho nos Olhos ou Cuidado com as Imitações, entre outros sucessos do cantautor) e os arranjos que Pedro Guedes trouxe a estas composições para o acompanhamento da Orquestra Jazz de Matosinhos, Sábado à noite será a vez de outra fusão. E é para este palco que o convite se faz para presenciar o resultado de uma experiência entre a pop-rock de pendor jazzístico, característica de Pedro Abrunhosa (com e sem os Bandemónio) e dos Comité Caviar – já lá iremos – com a clássica sinfonia.

Não se trata de tradução, como poderíamos traduzir um género musical num outro (?), mas por que não olhar para a música assim revisitada nas fronteiras do anacronismo (não só relativo ao pacto fechado entre instrumentos, como entre repertórios de tempos cronológicos diversos) e da famosa expressão que um dia o poeta Herberto Helder utilizou para dar título a um volume de poemas por ele traduzidos. Não lhe chamou um trabalho de tradução mas sim: «poemas mudados» para português. Nesta noite portuense, a música faz os ofícios da poesia, incluindo-a, como é da sua natureza, e promete apresentar então: pop-rock «mudada para sinfónica».

Tarefa que não é simples e que só pode ser levada a cabo por um trabalho de equipa. Se Pedro Abrunhosa é o homem do repertório e da voz em palco, Pedro Moreira, compositor e maestro, foi quem teve a responsabilidade dos arranjos e adaptação para a orquestra sinfónica. Terceiro elemento (sem ordem de prioridades) desta corrente de música, Baldur Brönnimann tem sob a sua batuta a responsabilidade de conduzir a orquestra.

Se o percurso de Pedro Abrunhosa já não se distingue do da música portuguesa popular, sobretudo desde o final dos anos 1990 – quem não se lembra dos temas do álbum de estreia que bateu recordes e trouxe para a rua verdadeiros slogans simultaneamente poéticos e políticos (Viagens)? –, vale a pena apresentar os nomes desta parceria que vai transformar a música que todos poderão cantar nesta noite de Verão.

Foto
Lionel Balteiro

Pedro Moreira junta-se a este projecto trazendo na bagagem toda uma vida ligada ao jazz, ao ensino e à criação de grupos como os Moreiras Jazztet ou, com o saxofonista Jorge Reis, o Ensemble de Saxofones do HCP. Liderou várias parcerias musicais em trabalhos com o trompetista Freddie Hubbard, com Benny Golson, Eddie Henderson ou Curtis Fuller. Assumiu também a direcção da Big Band do Hot Clube de Portugal e a do Ensemble Moderno do Conservatório Nacional de Lisboa. As parcerias com artistas estendem-se para lá do universo jazzístico e, no mundo da pop nacional, assinalam-se as colaborações com, além de Pedro Abrunhosa, Carlos do Carmo ou Rodrigo Leão.

Na direcção musical, está Baldur Brönnimann. Um dos maestros mais reconhecidos no panorama internacional da música contemporânea. Brönnimann desenvolveu colaborações com compositores de topo, como John Adams, Saariaho, Birtwistle, Chin, Lachenmann, Lindberg, Haas, entre outros. Uma das características que singulariza este maestro é a sua grande versatilidade, apresentando uma abordagem aberta à programação e à interpretação musical, que o leva a dividir o seu tempo entre as salas de concerto e os teatros de ópera, passando, sempre que possível, por actividades de âmbito educativo e comunitário. É maestro titular da Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música e da Basel Sinfonietta. Na Casa da Música, dirige programas onde combina, de uma forma inesperada, obras contemporâneas e desconhecidas com o repertório corrente. Eis mais uma oportunidade para assistir a um destes trabalhos.

Para os maiores fãs de Abrunhosa, fica uma derradeira nota sobre este concerto: em palco, com os Comité Caviar e a Orquestra Sinfónica do Porto, o homem com o diabo no corpo irá dar a conhecer duas novas canções que integrarão o seu próximo álbum, com edição prevista para Outubro.