Paulo Azevedo dá mais um passo na separação da gestão familiar da dos negócios do grupo

Efanor, a holding que controla o grupo, passa a ter, pela primeira vez, dois gestores externos à família, embora muito próximos.

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Cláudia e Paulo Azevedo herdaram o legado de um grupo multisectorial fundado pelo seu pai, Belmiro de Azevedo NELSON GARRIDO

Pode parecer confuso, mas as mudanças anunciadas na Sonae SGPS, que nos aspectos mais visíveis se vão traduzir pelo afastamento de Paulo Azevedo da gestão activa e a sua substituição pela irmã, Cláudia Azevedo, pretende separar, de forma clara, a gestão dos negócios da família Azevedo da dos negócios do grupo. “É um projecto para preparar os próximos 20 anos”, disse ao PÚBLICO um quadro superior do grupo, acrescentando que o novo modelo está mais ajustado às características que as diferentes holdings Sonae estão crescentemente a adoptar, “a de gestoras de participações”.

Por isso, mais importantes que as mudanças na gestão da Sonae SGPS são as alterações na Efanor. A morte do fundador do maior grupo privado português (proprietário do PÚBLICO), no final do ano passado, ditou a partilha da herança pelos três filhos. Segundo uma notícia da Visão, cada um ficou com 25,11% do capital, mais 10% a dividir pelos três, mas destinados aos respectivos filhos (netos de Belmiro), e 10% passaram para a Fundação Belmiro de Azevedo. Os restantes cerca de 4% serão acções próprias.

A Efanor detém participações maioritárias (de 51%), que serão indivisíveis, na Sonae SGPS, na Sonae Capital e na Sonae Indústria, holdings com negócios distintos e não consolidam contas entre si. Até agora, a Efanor confundia-se com a Sonae, como as duas holdings se confundiam com o empresário Belmiro de Azevedo.

Com as mudanças agora anunciadas - a maioria delas a implementar a partir do próximo ano - Paulo Azevedo assume um papel mais de estratego, de controlo superior do grupo. Em jeito de brincadeira, poderá dizer-se que a recente experiência aeronáutica de Paulo Azevedo, que está a frequentar um curso de piloto, o poderão ter influenciado a gerir os negócios “por cima”. Para além da recente paixão pela aviação, este modelo de gestão também deixará Paulo Azevedo um pouco mais livre para outros projectos que repetidamente gosta de destacar, como o tempo dedicado à família e a causas sociais.

Nessa linha, Paulo Azevedo deixa de ser co-CEO (presidente da comissão executiva, juntamente com Ângelo Paupério) da Sonae SGPS, e passa a administrador não executivo em representação da Efanor. E continuará a ser o chairman (presidente) das três Sonae.

Para a Efanor, Paulo Azevedo chamou reforços externos, o que acontece pela primeira vez na holding familiar. São dois homens fortes da era Belmiro de Azevedo, mas também dos seus 11 anos na gestão activa do grupo: Carlos Moreira da Silva, que pessoalmente detém o controlo do grupo vidreiro BA, e ainda está ligado à Sonae Indústria, e Ângelo Paupério, o “controlador” financeiro do grupo. Estes gestores são exteriores à família, mas simultaneamente muito próximos desta, e terão a missão de dar à Efanor uma gestão mais profissionalizada e mais independente dos interesses de cada um dos herdeiros.

Cláudia Azevedo garante “valores Sonae”

As novidades que surpreenderam o mercado foram discutidas durante meses no seio da família e restantes administradores da Sonae, a maioria deles independentes. Na corrida, segundo fonte próxima, estavam alguns nomes, mas a escolha do “board” recaiu sobre Cláudia Azevedo, “por ser consensualmente reconhecida a importância de manter os valores Sonae, que Cláudia Azevedo herdou do pai”. Embora o possa parecer, esta escolha não é contraditória com a estratégia de base de separar gestão familiar da dos negócios do grupo. É que Cláudia Azevedo, apesar da participação accionista da Efanor, não ocupa qualquer cargo nesta holding.

Sinal dos tempos, a expressão “o homem Sonae” tantas vezes repetida pelo fundador está agora um pouco desajustada. E ganha maior peso a expressão “mulher Sonae”.

Cláudia Azevedo “passou o teste”, dizia colaborador próximo, referindo ao seu desempenho como presidente executiva da Sonae Capital, a holding que concentra vários negócios, como o turismo, em processo de crescimento.

O salto é de gigante: deixa uma empresa com um volume de negócios 160 milhões de euros, para assumir outra que é uma multinacional, com uma facturação consolidada de 5,71 mil milhões de euros (em 2017).

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