Cristiano goleou Trump e Putin

Os canais generalistas abriram com notícias de Turim. Helsínquia não entrava na abertura. O mundo das transferências passava à frente do mundo que trata da paz e da guerra.

No dia 16 de Julho, em Helsínquia, Trump e Putin, os dois Presidentes dos países com os maiores arsenais nucleares do mundo, realizaram uma cimeira cujo significado para o conjunto das relações internacionais teria de ser extraordinário. Todas as chancelarias ficaram de olhos e ouvidos atentos ao que se decidiria.

A verdade é que o mundo à hora nobre das notícias trocou-os pelo rei dos golos marcados, Cristiano Ronaldo.

Os canais generalistas abriram com notícias de Turim. Helsínquia não entrava na abertura. O mundo das transferências passava à frente do mundo que trata da paz e da guerra. O artilheiro mor uma vez mais acertou nas redes dos media. Foi um golaço. Ele apareceu a sorrir. Não lhe faltavam razões.

Saiu do Real Madrid por se achar injustiçado com Florentino Perez. Foi para a Juventus, a cujo dono pertence a Fiat. O clube de Agnelli pagou ao Real pela transferência 105 milhões de euros. Pelas quatro temporadas pagará a Cristiano 120 milhões.

Os adeptos da Juventus rebentaram de contentamento. Os do Real ficaram cabisbaixos, Ronaldo deu-lhes muitas vitórias.

Na Itália, onde o inimaginável acontece, como foi o caso da vitória do Cinco Estrelas e da Liga do Norte nas últimas eleições legislativas, ao que se logra apurar, o cálcio vai passar a ter uma dimensão planetária. É o que diz o setubalense José Mourinho. Os italianos, segundo os vários correspondentes, exultam com o nosso Cristiano. Não será para menos, ele já foi cinco vezes o melhor do mundo, quatro em Espanha, uma na Inglaterra; pode ser que na Itália conquiste a sexta e lhes suba o orgulho à cabeça. A desgraça vem dos sectários trabalhadores da Fiat, que não compreendem aquela jogada por não serem aumentados há nove anos.

O nosso mundo marimbou-se para a cimeira dos dois Presidentes e para as questões sérias que podem colocar o planeta à beira da desgraça total. O que conta são os mísseis, os pontapés de bicicleta e os arcos geometricamente curvados que num ápice se tornam indecifráveis para azar dos guarda-redes.

O que valem para o nosso mundo os dois Presidentes dos países mais poderosos em termos bélicos falarem conjuntamente, mesmo sendo inédito nos últimos anos?

Ronaldo ocupou o trono já não apenas de marcador de golos, mas também o trono das notícias, retirando o primeiro plano aos dois que foram a Helsínquia.

Ronaldo é uma espécie de rei do mundo, inatacável, musculado, poderoso, charmoso e capaz do que os outros não são em termos de geometria futebolística.

O nosso mundo sabe que Cristiano veio do nada e que, apesar disso, teve de pagar ao Fisco espanhol quase 19 milhões de euros por ter aceitado que aquela finta não valia.

Talvez, por isso, por ter vindo para o Sporting como se fosse um órfão, ninguém lhe leva a mal aquela finta, ele veio do nada, não estava à frente de um ministério ou de um município...

Este é o nosso mundo. Aquele em que os media se ajoelham diante do astro máximo do futebol dos nossos dias. Aquele em que a cimeira entre Trump e Putin é um acontecimento menor face à transferência do nosso Cristiano. Neste nosso mundo não podia faltar a jornalista da TVI a perguntar à mãe se ia para Turim. O mundo respirou de alívio. Dolores Aveiro não vai. Assim vai o mundo.

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