Há outro restauro que “deixa muito a desejar”: o Ecce Homo já tem um sucessor

Em Espanha, há outra peça de arte sacra que sofreu um restauro que está a dar que falar. Desta vez trata-se de uma escultura em madeira que ganhou novas cores.

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Do lado esquerdo, o produto do restauro. Do lado direito, o original DR

Parece que o restauro do Ecce Homo de Burgo, em Espanha, arranjou competição à altura. Desta vez trata-se de uma escultura de madeira de São Jorge, exposta na igreja com o mesmo nome, em Estella, região de Navarra, que está a correr a Internet pela fraca qualidade do restauro. O Presidente da Câmara de Estella já se pronunciou contra a intervenção, assim como a Agência Nacional de Restauradores de Espanha, que promete avançar com uma denúncia judicial contra os responsáveis pelas alterações.

As comparações começaram assim que surgiram as primeiras fotografias da intervenção a uma escultura de madeira policromática do século XVI, na igreja de São Jorge. Na escultura, o santo que dá nome à igreja luta metaforicamente contra o pecado, que toma a forma de um dragão. E agora ganhou novas cores.

A intervenção ficou a cargo da Karmacolor, empresa local de artes manuais, e foi pedida pela paróquia de Estella. À agência Efe, a arquidiocese de Pamplona assegurou que o pároco não pretendia restaurar a peça, apenas “melhorar um espaço que estava sujo”.

E nem a câmara nem o Governo sabiam dos planos. O presidente da Câmara, Koldo Leoz, disse à agência noticiosa espanhola que o restauro “deixou muito a desejar”. “Estamos a falar de uma obra de arte do século XVI, uma escultura policromática que precisa de muito trabalho no que toca aos materiais utilizados”, afirmou. E lamentou não ter sido consultado acerca do trabalho que colocou Estella nas notícias pelas piores razões: “Hoje, Estella não está nas notícias pela sua herança histórica, artística, arquitectónica ou cultural fantástica”, tweetou, na segunda-feira. Ao texto, juntou a imagem de um jornal local onde se lê em manchete: “O Ecce homo de Navarra”.

Já a Agência Nacional de Restauradores de Espanha classificou o trabalho como “um atentado contra o património”, cita o Diario de Navarra. Num comunicado enviado às redacções espanholas, a associação diz que a intervenção “manifesta uma pavorosa ausência de formação prévia requerida para fazer este tipo de intervenções”. Resguardando-se na lei espanhola – que regulamenta as actividades sobre o património – a Agência salienta que todas as alterações a obras de arte devem “ser executadas por pessoal especializado, com formação superior e sob controlo administrativo”.

Algo que, como confirma a conselheira da Cultura, Desporto e Juventude do Governo Regional de Navarra, Ana Herrera, não aconteceu. A responsável assegurou à agência Europa Press que já estão a ser analisadas as possíveis sanções. A sua posição é semelhante à da associação de profissionais: “O projecto de restauro devia ter sido apresentado às autoridades e devia ter-se esperado que fosse aprovado.”

Na Internet as comparações começaram a surgir. Alguns utilizadores estabelecem uma associação com o já famoso Ecce Homo, outros acham que a escultura ficou mais parecida com o Tintin de Hergé. 

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