Manuel José aponta falta de mentalidade e de maturidade

Treinador sustenta que Portugal venceu de forma "inexplicável" frente a um adversário que só foi inferior na finalização.

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EPA/SERGEI CHIRIKOV

Ao contrário do que aconteceu ao longo dos anos, em que foi coleccionando sucessivas vitórias morais, dignas de rasgados elogios, Portugal parece cada vez mais próximo de se transformar numa equipa com um dom especial para salientar o seu lado mais cínico, sublimado por alguns resultados bem interessantes, como os que renderam a conquista do primeiro Campeonato da Europa, em 2016. Assim, depois do nervosismo latente na estreia, frente à prestigiada armada espanhola, que obrigou a sofrimento extra, a selecção nacional manteve-se igual a si própria, servindo mais 90 minutos de ansiedade aos portugueses, agora frente a Marrocos. No final, Fernando Santos não disse se mantinha a nota seis que atribuíra frente à Espanha. Referiu apenas que não percebeu o que se passou e que era preciso falar.

Manuel José, que em 2003 teve um acordo verbal com Gilberto Madaíl para suceder a António Oliveira, mas viu Luiz Felipe Scolari ocupar o cargo de seleccionador português, assistiu ao Portugal-Marrocos e detectou dois factores fundamentais para explicar a exibição sofrida e sofrível da equipa das quinas. “A mente comanda tudo. E o comportamento da selecção pode ter sido provocado pela obrigação de vencer”, refere em declarações ao PÚBLICO, admitindo que o subconsciente dos jogadores pesou.

“Do meio-campo para a frente, tirando o Moutinho e o Cristiano, temos uma equipa muito jovem, inibida, que acusou a responsabilidade”, sustenta Manuel José, certo de que pelo discurso de Fernando Santos “esse aspecto será corrigido”. “Com a Espanha passámos o tempo a vê-los jogar. A diferença é que o Cristiano estava em dia sim e fez três golos. Com Marrocos, mesmo tendo apontado o golo da vitória, vimos um chorrilho de passes e recepções errados”, aponta, sem esquecer os méritos do adversário.

“A nossa atitude competitiva contrastou claramente com a de Marrocos, que foi notável. Eles pressionaram a alta velocidade. Nós andámos sempre muito devagar, sem conseguir três passes seguidos. Nesse aspecto foi demasiado mau”, elenca, sustentando que nem o “futebol curto de João Mário resultou”.

Para Manuel José, Bernardo Silva ainda tentou contrariar a tendência, mas “a segunda bola defensiva caía sempre nos pés do adversário”, o que indiciava “o mau posicionamento” tornando “inexplicável” a forma como se ganhou frente a uma equipa “que dominou em todos os capítulos, excepto na finalização”.

Fernando Santos ainda lançou Gelson Martins e... “tudo piorou”. “Chegou a ser humilhante a forma como perdíamos a bola. Tirando a oportunidade do Gonçalo Guedes e os dois livres do Cristiano Ronaldo, não fomos uma vez à área de Marrocos. Isto era inimaginável”, confere o técnico, para quem há “muita coisa a fazer no plano mental, especialmente com o Irão, uma equipa paciente” e que se vencer o último jogo afasta Portugal do Mundial”.

Apesar dos indicadores pouco entusiasmantes, o técnico faz uma ressalva: “Portugal tem uma matriz e uma filosofia competitiva desde que o Fernando Santos assumiu a selecção. Se recuarmos algum tempo, Portugal teve gerações muito melhores, mas nunca conquistámos nada. Agora há uma solidez defensiva e muitos talentos ainda sem a maturidade indispensável a este nível. A diferença é que apesar de tudo, somos campeões da Europa, com resultados”, conclui.

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