“Chucky” Lozano, um extremo que se diverte a assustar os outros

Decisivo na caminhada do PSV rumo ao título, Hirving é cada vez mais uma peça imprescindível no "onze" do México.

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Reuters/MAXIM SHEMETOV

Depois daquele golo, daquele remate que arrancou a Alemanha pela raiz no jogo de estreia do Grupo F no Mundial, vieram os elogios. Caíram uns atrás dos outros, como se de pinos de bowling se tratasse. Do seleccionador do México à imprensa nacional e internacional, Hirving Lozano foi recolhendo os louros de uma exibição que garantiu à “Tricolor” um triunfo surpreendente e o elevou, a ele, a um novo patamar na hierarquia de talento do futebol mexicano.

Hirving Rodrigo Lozano Bahena tem 22 anos e está a um jogo apenas de atingir as 30 internacionalizações A. Pai de dois filhos, é tido como uma pessoa equilibrada e dedicada à família, um retrato que contrasta com a fama de truculento que lhe é atribuída dentro de campo. O extremo que ajudou o PSV a sagrar- -se campeão da Holanda, na última época, enquadra o temperamento mais efervescente no contexto de emoções que germinam no relvado: “Isso faz parte do futebol e há muitos jogadores piores do que eu”.

De facto, há. E Hirving “Chucky” Lozano (já lá vamos à alcunha) tem demasiados predicados para nos circunscrevermos a um traço de carácter. Os mais óbvios: é determinado, é veloz em condução, é versátil e imprevisível com a bola nos pés. “Eu julgo que, desde que se mudou para Eindhoven, subiu para outro nível. É uma promessa inacreditável”, assinalou Juan Carlos Osorio, o seleccionador mexicano, na ressaca do 1-0 imposto à campeã do mundo.

Há uns meses, já depois de garantida a qualificação para o Mundial, Osorio referira-se a Lozano como “um jogador com um presente extraordinário e um futuro promissor”. Algo que foi conquistando aos poucos e à custa de muito sacrifício pessoal, como confirmou o pai do jogador, entre lágrimas, numa entrevista que deu a um canal de televisão mexicano.

“Foi muito difícil para nós, mas não fomos nós que o convencemos. Eu perguntei-lhe:’ Queres ficar?’ E ele disse-me: ‘Sim, quero ficar’. Pois bem, a decisão é tua”, contou, a respeito do momento em que Hirving, aos dez anos de idade, decidiu mudar-se para a academia do Pachuca, longe da Cidade do México, onde morava com a família.

Ele, que tinha começado a jogar aos seis anos, deu nas vistas num torneio com uma equipa da zona de Pedregal e recebeu uma proposta para ficar. Em casa deixava os pais e quatro irmãos, um dos quais Mauricio, com quem partilhava longos jogos de futebol num recinto improvisado dentro de portas. Desse estádio imaginário até aos grandes palcos passou pouco mais de uma década. Com 18 anos, mais concretamente a 18 de Fevereiro de 2014, Hirving foi lançado na alta-roda, pela mão do treinador Enrique Meza. Foi num jogo do torneio Clausura, diante do Club América, no imponente Estádio Azteca. E o desfecho parecia saído de um livro de fábulas.

“Chucky” saiu do banco aos 84 minutos para render Jürgen Damm e só precisou de cinco minutos para se mostrar, apontando o golo do triunfo. Estava talhado para grandes voos e a confirmação chegaria vezes sem conta, em diferentes contextos, como naquela que foi a sua estreia na Liga dos Campeões da Concacaf 2014-15: marcou aos 26’ na goleada sobre o Real España.

Pela equipa principal do Pachuca haveria de cumprir quatro temporadas (120 jogos e 32 golos), durante as quais se estreou também pela selecção do México — aconteceu diante do Senegal, num encontro particular, em Fevereiro de 2016. De então para cá, tornou-se num habitué nas convocatórias e num trunfo importante na manobra ofensiva da equipa, graças à sua velocidade e a uma especial capacidade para promover diagonais interiores.

“O ritmo dele, a capacidade de enfrentar os adversários fazem-me acreditar que pode ir muito longe”, antevê Osorio, já depois de o extremo ter acumulado nove assistências e 17 golos nos 29 jogos que marcaram a sua época de estreia na Europa. “Chucky” veio para ficar e para perpetuar uma alcunha que nasceu no autocarro do Pachuca, quando nos escalões de formação decidiu esconder-se debaixo dos bancos para assustar os colegas. Agora, tem por missão assustar os defesas adversários. E está a cumprir o papel.

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