Diário de Notícias abandona edição papel à semana e só estará nas bancas aos domingos

Directora-executiva do jornal garante que o DN "vai recuperar a identidade do DN" com esta transição digital. E garante que não vai dispensar pessoas.

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A directora executiva do Diário de Notícias (DN), Catarina Carvalho, afirmou nesta quinta-feira que o novo projecto do jornal, que passa a digital de segunda a sábado e manterá apenas uma edição ao domingo em papel, a partir de 1 de Julho, "vai recuperar a identidade" do título.

"Não. Não vamos ter o jornal a passar a semanário”, sustenta aquela responsável. “O DN vai ser mais diário do que nunca foi, ou seja, vai ter é uma transição digital que é aquilo que existe hoje em dia no mundo todo. Vai ter uma edição diária online, uma edição ao minuto ou ao segundo online e uma edição em papel que sai ao domingo", afirmou Catarina Carvalho, em entrevista à Lusa.

"Estamos longe da ideia de que os jornais são só em papel", sublinhou a jornalista, salientando que o título impresso será diferente do actual.

"Eu acho que este projecto vai recuperar a identidade do DN. A identidade que já estava a ser recuperada, é preciso dizê-lo", prosseguiu, admitindo que "existiu algum corte nos últimos tempos, mas nos últimos anos a identidade" do Diário de Notícias "voltou a ser recuperada".  O DN voltou a ser "um jornal sério, conservador, sem ofender as pessoas e com bastante atenção àquilo que são os pólos de decisão do país, passou ali uma fase complexa".

A jornalista rejeita a ideia de que a equipa de que faz parte seja a salvadora do jornal centenário. "Nós não estamos a fazer nada de extraordinário, nós estamos a pôr um jornal que tem 153 anos e vai fazer 154 naquilo que é hoje em dia a informação do mundo. Não somos, de todo, os salvadores do jornal", destacou.

Sobre o novo projecto, Catarina Carvalho garantiu que a marca DN “não vai ter nenhuma alteração, o logótipo permanece o mesmo. É abandonado o DN e é abraçado o logo total e vai ser Diário de Notícias, como foi no primeiro dia", sendo que "vai ter um grafismo novo”, no digital e no papel.

Cadernos mensais

Ao domingo o jornal vai ter um formato berliner, entre 48 e 56 páginas, incluindo o caderno dois do jornal denominado 1864 [ano da criação do DN) e o Dinheiro Vivo (marca económica do grupo).

Catarina Carvalho insistiu na ideia de que o DN não vai ficar reduzido a um semanário, apontando que "essa ideia só é possível para pessoas que pensam no papel em primeiro lugar", mas como os números indicam, a marca é lida "em primeiro lugar no online".

Aliás, o que o DN está a fazer é o mesmo que acontece em muitos outros títulos internacionais, como o Telegraph ou o Gazeta do Povo, exemplificou a directora executiva.

"O que estamos a fazer é a pôr o digital em primeiro lugar" por várias razões, entre elas "porque a redacção precisa desta transição para trabalhar de outra forma", uma vez que "esteve focada numa coisa que não é aquilo que o consumidor pretende", disse.

Ou seja, "uma edição em papel todos os dias é o jornal do dia anterior", quando os consumidores utilizam todas as plataformas disponíveis para aceder à informação actualizada online.

"O DN vai ter uma edição diária digital que não é uma mera newsletter, vai ter uma capa associada com o objectivo de dar uma certa curadoria ao leitor daquilo que é importante nesse dia, mas que lhe chega onde quer estar", prosseguiu.

"Aquilo que estamos a fazer" é "uma transição digital radical", insistiu.

O DN vai ter uma revista diferente em cada domingo e que fica em banca nesse mês: uma dedicada ao luxo e consumo, a Ócio; outra sobre a vida, família e saúde, a Life; a de viagens, a Evasões 360, e a de tecnologias, DN Insider, sendo que também haverá lugar para uma revista especial de mulheres, que será Delas.pt, e ainda vai ter uma revista especial de Verão.

O caderno 1864 vai ser dedicado apenas a um tema, e vai incluir reportagens e também abordagens diferentes.

O novo DN pretende "ir para além de quem manda no país e chegar àquilo que interessa ao grande público e às pessoas, sem deixar de dizer aos decisores e àqueles que mandam o que é que lhes interessa saber do mundo e da vida, o poder do jornal não ser refém dos interesses", apontou.

Na área dos comentadores políticos, Catarina Carvalho disse que o DN vai ter pessoas novas, com visão diferente das coisas, com a novidade de ter duas a três mulheres nesta área.

Aposta na lusofonia

A lusofonia e o local são duas áreas em que o novo DN também vai apostar, tendo já parcerias nomeadamente do Plataforma de Macau.

"Mas é muito difícil fazer lusofonia em Portugal por causa dos jornalistas, as pessoas que vivem nos jornais e que vivem dentro das redacções prestam muito pouca atenção àquilo que se passa nos nossos parceiros fundamentais", considerou.

Com o novo projecto, "vamos mostrar o que é Portugal, vamos mostrar o que é a vida, vamos revelar essas questões de que ninguém fala. Obviamente temos uma secção muito forte de política que vai tentar mostrar também quais são os bastidores dessa política, mas não vamos fazer ficção política", sublinhou.

Sem dispensar trabalhadores

O lançamento acontece no início do período das férias dos portugueses, altura em que as pessoas prestam mais atenção às notícias, afirma. 

O novo projecto não vai implicar redução de pessoas, garantiu ainda, admitindo que alguns profissionais possam transitar para outros meios do grupo ou "para áreas ligeiramente diferentes".

O DN vai fazer todo o projecto com "as pessoas que existem neste momento na redacção, sendo que as contratações ainda não estão fechadas. As nossas últimas estatísticas diziam [que existiam] 55 pessoas, a essas pessoas juntam-se uma série de colaboradores que temos e que queremos continuar a ter", afirmou Catarina Carvalho.

Questionada sobre a possível dispensa de pessoas, garantiu: "Não vai haver redução de pessoas."

"Uma das vantagens de trabalhar num grupo grande como este e com tantas áreas e tanta necessidade de rever os recursos humanos é que muitas dessas pessoas podem transitar entre vários órgãos do grupo, que foi o que aconteceu até agora, mas também fazer a formação e transição para áreas ligeiramente diferentes", acrescentou.

Já sobre investimentos e receitas de banca e de publicidade esperadas no digital ou no papel, a directora executiva não quis falar, sublinhando que esses números cabem à administração da Global Media, dona do jornal. E relativamente a metas de leitores também não, afirmando apenas: "Nós queremos crescer, mas não estamos a pôr metas quantitativas nesse crescimento porque todas as que pusemos até agora foram goradas para cima, crescemos sempre muito mais."

Edição digital vai ter uma parte fechada a pagantes 

Uma coisa garantiu, apesar de admitir que as audiências não estão muito disponíveis para pagar, é que parte dos conteúdos da edição diária digital será paga. "Quem quer ter informação importante terá de pagar por ela", afirmou, mas não para já. Na fase inicial do projecto online os conteúdos serão gratuitos.

Defendeu que "quem quer ter informação importante terá de pagar por ela. As pessoas têm de perceber que se querem jornalismo bom, investigativo e (...) se querem que o jornalismo contribua para a democracia esse é um papel pelo qual têm de pagar, porque se não for assim não há quem pague. Não vão ser as fundações, que também têm os seus interesses, que pagam. Além de que a forma mais democrática de ter informação que interessa aos leitores é serem eles a pagarem-na”.

Esse foi o modelo do papel, recordou, "e por isso funcionou tantos anos (...). Depois da Internet as pessoas esqueceram-se que isto era um negócio e que as pessoas tinham de ser pagas para fazer a informação. Por isso, o regresso ao pagamento pelos leitores é para mim, e do ponto de vista daquilo que é o estudo do jornalismo, a forma mais democrática de fazer jornalismo".

Os conteúdos que virão mais tarde a ser pagos, segundo a directora executiva, serão conteúdos específicos do DN - manchete e três a quatro conteúdos importantes - alguns conteúdos multimédia, bem como newsletters premium em áreas como a cultura e Lisboa.

Quando questionada se houve estudos de mercado que estiveram na base da decisão de levar por diante este novo projecto de ter uma edição diária online e outra semanal em papel, a directora executiva respondeu: "Houve consultores a trabalhar connosco nessa decisão e houve estudos financeiros, não houve propriamente um estudo de mercado puro e duro. Até porque, na imprensa, os estudos de mercado são o nosso dia-a-dia", lembrando que os media têm outras ferramentas para avaliar bem o tipo de mercado que tem e o tipo de leitores.

Mas fez questão de referir que algumas das decisões sobre o novo projecto já estavam tomadas antes da chegada da actual direcção do jornal, que foi convidada em Abril último para o dirigir, e a da edição diária digital foi uma delas. "A decisão de deixar o papel no dia-a-dia e de ter uma edição electrónica já estava tomada. Mas foi reajustada pela nova direcção", afirmou.

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