Família conduziu Marco Trungelliti à segunda ronda de Roland Garros

O tenista argentino chegou ao torneio do Grand Slam francês in-extremis.

Foto
Trungelliti Reuters/CHRISTIAN HARTMANN

Ainda não tinha entrado no discreto court 9, para disputar a primeira eliminatória e já Marco Trungelliti era o protagonista de uma das melhores histórias desta edição do Torneio de Roland Garros. E, desde a véspera, quando se soube que o argentino de 28 anos estava a caminho, de carro, desde Barcelona, numa corrida contra o tempo, para assinar a folha de presença e ser repescado da fase de qualificação, de onde tinha sido eliminado na quinta-feira.

Com muitos tenistas na lista de suplentes melhor posicionados no ranking, Trungelliti, 190.º mundial, não acreditou nas suas possibilidades de ser repescado e preferiu regressar à cidade onde se radicou há alguns meses, tendo chegado na manhã de sábado. O argentino só tinha planos para passar o fim-de-semana com a família, que estava de visita a Barcelona, esquecer o torneio francês e pensar na competição seguinte.

Mas as desistências sucederam-se e muitos jogadores já tinham deixado Paris, como  Prajnesh Gunneswaran (175.º), que o precedia na lista de “lucky losers”. O indiano já estava em Itália, preparado para disputar, esta semana, o Challenger de Veneza.

Na segunda-feira, foi a vez de Nick Kyrgios anunciar a sua desistência e, de repente, Trungelliti viu-se como a primeira opção para ocupar o lugar deixado vago pelo australiano.

Os planos de passarem o dia na praia foram rapidamente alterados. “Apenas meia-hora para fazer a mala, arrumar a bagagem e partir”, contou. Com medo de cancelamento de voos e greve nos comboios, o argentino optou por viajar num carro alugado, conduzido pelo irmão Andre e com a mãe Susi e a avó, Lela, de 88 anos, no banco de trás. Pelo caminho, foram publicando no Twitter fotos a testemunhar a aventura; uma viagem de mil quilómetros, feita em cerca de nove horas.

Trungelliti chegou a Paris perto da meia-noite de domingo, descansou e, ontem de manhã, antes das 10 horas, assinou a folha e foi para o court 9. Aquele que era um dos encontros mais aguardados da primeira eliminatória do Torneio de Roland Garros, entre Kyrgios e o mal-amado compatriota Bernard Tomic (206.º), tomou novos motivos de interesse.

Estavam garantidos 20 mil euros, metade do prémio destinado a quem perde na ronda inaugural – um jogador que anuncie a sua desistência depois do sorteio realizado, divide o respectivo prémio com “lucky loser” segundo as novas regras, que visam acabar com os abandonos de jogadores lesionados, que entram no court nas rondas iniciais apenas para garantir um chorudo cheque.

Kyrgios (23.º) foi o oitavo a comunicar a desistência e dar lugar a Trungelliti, vencedor de Pedro Sousa na segunda ronda do qualifying. “Voltei a Barcelona, comi um churrasco, tomei um cafezito e íamos para a praia, com a minha avó que me veio visitar. Mas avisaram-me que tinha entrado em Paris e cá estou”, explicou o tenista que, este ano, em 14 torneios realizados – entre os quais o future de Carcavelos, em Maio – tinha angariado 30 mil euros.

Três horas depois de entrar no court 9, Trungelliti venceu Tomic, também oriundo da fase de qualificação, por 6-4, 5-7, 6-4 e 6-4. A avó, que nunca vê o neto jogar, foi a última a aplaudir. “Ela não sabe o que é ténis, nem sabe a pontuação. Disse-me que só se apercebeu que eu ganhara, quando viu toda a gente de pé”, contou o tenista, antes de reunir-se com a família. Quando o fez, já a avó e o irmão tinham dado entrevistas a contar a odisseia.

Trungelliti já tinha boas memórias de Paris, quando, em 2016, derrotou Mario Cilic, a sua única vitória da carreira sobre um "top-10". No ano seguinte, voltou a passar a ronda inicial. “Nunca tive uma conferência de imprensa com tanta gente, nem quando defrontei Cilic, há dois anos”, ironizou.

Agora vai tentar, frente ao italiano Marco Cecchinato, uma inédita presença na terceira eliminatória do major francês. “Nas duas últimas vezes, perdi na segunda ronda, por isso tenho que ir mais além. Sei que esta é uma oportunidade”, frisou Trungelliti, que já garantiu 99 mil euros; um quinto dos seus ganhos totais.

Mais tarde, a chuva confirmou as previsões pessimistas para esta semana, em Paris, e parou a jornada. Um dos seis encontros interrompidos foi o que opõe Joao Sousa (49.º) ao argentino Guido Pella (78.º), que vence, por 6-2, 6-3, 2-3.

Mais tranquilo está Rafael Nadal. O líder do ranking e principal candidato à conquista de um 11.º título em Roland Garros, vence o italiano Simone Bolelli (129.º), por 6-4, 6-3, 0-3.

 

Sugerir correcção
Comentar