O sabor internacional da Premier League é cada vez maior

Unai Emery foi apresentado como o novo treinador do Arsenal e será o 14.º técnico principal nascido fora das ilhas britânicas entre os 20 que estão no principal campeonato inglês.

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LUSA/FACUNDO ARRIZABALAGA

Há 22 anos, quando Arsène Wenger chegou ao Arsenal, o francês era apenas um de dois treinadores estrangeiros na Premier League inglesa – o outro era o holandês Ruud Gullit, que terminou a época 1996-97 como jogador-treinador do Chelsea. Passaram mais de duas décadas e os técnicos nascidos nas ilhas britânicas passaram a ser a minoria. Nesta quarta-feira, Unai Emery foi apresentado como o sucessor de Wenger no Arsenal e, com as 20 cadeiras da Premier League quase preenchidas (falta a do Everton, que deverá ser de Marco Silva, e deve haver uma troca de italianos no Chelsea, Conte por Sarri), fica ainda mais reforçado o sabor internacional de uma Liga que, há duas décadas, parecia muito fechada sobre si própria.

Com Emery nos “gunners”, passaram a ser quatro os treinadores espanhóis na Premier League, depois de Pep Guardiola (Manchester City), Rafa Benítez (Newcastle) e Javi Gracia (Watford), exactamente o mesmo número de treinadores ingleses – Eddie Howe (Bornemouth), Sean Dyche (Burnley), Neil Warnock (Cardiff) e Roy Hodgson (Crystal Palace) -, podendo ainda ser considerados treinadores “da casa” o irlandês Chris Hughton (Brighton) e o galês Mark Hughes (Southampton). Ou seja, 14 das 20 equipas que vão participar na Premier League em 2018-19 terão treinadores nascidos fora das ilhas britânicas, o número mais alto de sempre. E não esquecer que três serão portugueses: José Mourinho (Manchester United), Nuno Espírito Santo (Wolverhampton) e, quase de certeza, Marco Silva (Everton), sendo que Carlos Carvalhal, que não evitou a despromoção do Swansea, está a ser falado para tomar conta do Derby County, do Championship.

Isto não é surpresa nenhuma tendo em conta o sucesso recente de treinadores importados no principal campeonato inglês. Wenger foi o primeiro não britânico a ser campeão, em 1998, e, depois dele, só o escocês Alex Ferguson salvou a honra local. Para além dos nove títulos de Ferguson e dos três de Wenger, ganharam quatro italianos (Ancelotti, Mancini, Ranieri e Conte), três vezes o mesmo português (Mourinho), um chileno (Pellegrini) e um espanhol (Guardiola). E também não é nada surpreendente que apenas um treinador britânico (Brendan Rodgers) tenha sido propalado como possível sucessor de Wenger. Luis Enrique, Mikel Arteta ou Leonardo Jardim, diz a imprensa britânica, foram fortemente considerados antes da nomeação de Emery.

“Melhor equipa do mundo”

O que o Arsenal procurava era um treinador com um perfil internacional estabelecido (exactamente o contrário de Wenger quando chegou a Londres há 22 anos) e é o que tem em Emery, que já conquistou três vezes a Liga Europa com o Sevilha, para além de ter sido campeão de França, na época passada, com o PSG e de ter realizado boas épocas no Valência. O basco de 46 anos tem como objectivo imediato devolver ao Arsenal o estatuto de candidato ao título na Premier League e, a longo prazo, transformar os “gunners”, que foram apenas sextos esta época, na “melhor equipa do mundo”.

“O alvo é lutar pelo título, que é muito importante para o clube depois de dois anos fora da Liga dos Campeões, trabalhar para ser a melhor equipa da Premier League e do mundo”, declarou Emery, habituado a orçamentos ilimitados nas suas duas épocas em Paris, mas que terá de se contentar com “apenas” 50 milhões de libras para contratações. Terá de olhar para o que tem e recuperar um pouco a filosofia de outros tempos, aproveitar os jovens da academia, descobrir jogadores mais baratos e não andar a lutar por "Neymares" ou "Mbappés". “Esta é uma grande equipa, com grandes jogadores, acho que só precisamos de mudar pequenas coisas”, frisou.

Emery terá muito para fazer no Arsenal, a começar por devolver ao clube uma imagem ganhadora que se foi desvanecendo nos últimos anos de Wenger – o último título já foi em 2004 – e encurtar a distância para as equipas de Manchester, para o Liverpool de Jürgen Klopp e para o rival londrino Tottenham, de Pochettino. Tem alguns problemas defensivos (guarda-redes incluído) para resolver, mas conta com muitos jogadores de topo do meio-campo para a frente (Özil, Aubameyang, Lacazette, Ramsey, Wilshere, Mkhitaryan) e alguns jovens muito promissores (Bellerin, Iwobi, Miles, Maprovanos) para que o Arsenal volte a ser um protagonista maior da Premier League, para lhe devolver a identidade que tinha nos primeiros tempos de Wenger. “Queremos jogar com personalidade contra todas as equipas”, diz Emery. “Historicamente, esta é uma equipa que gosta de ter a bola e eu gosto disso.”

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