Do andebol ao futebol, investigação alarga-se e pode chegar à cúpula do clube

Notícias precipitaram buscas da Polícia Judiciária, que já investigava o caso há mais de dois meses.

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V. Guimarães-Sporting, um dos jogos sob suspeita HUGO DELGADO/EPA

Como uma bola de neve, o caso denominado Cashball, que envolve suspeitas de actos de corrupção activa protagonizados por elementos do Sporting, está a crescer e a ganhar contornos cada vez mais graves. Depois das denúncias de viciação de resultados no campeonato de andebol 2016-17, surgem dados que apontam para um alargamento do esquema ao futebol. Os quatro detidos — André Geraldes, Gonçalo Rodrigues, João Gonçalves e Paulo Dias — passaram esta noite no estabelecimento prisional anexo às instalações da Polícia Judiciária (PJ), no Porto, e serão hoje ouvidos por um juiz do Tribunal de Instrução Criminal, que poderá decretar as repectivas medidas de coacção.

A operação de buscas levada ontem a cabo na SAD do Sporting, em Lisboa, foi “apressada” pelas notícias vindas a público sobre o alegado esquema de suborno de árbitros de andebol. A denúncia, apurou o PÚBLICO, já estava a ser investigada pelas autoridades há mais de dois meses e o perigo de destruição de prova levou a uma acção mais rápida do que estaria previsto, tendo sido recolhidos vários elementos válidos para a investigação. No total, foram 40 os elementos da PJ destacados para uma dezena de buscas domiciliárias e no clube.

Para além dos quatro elementos detidos, dois pertencentes à estrutura do clube e dois empresários de futebol, há mais suspeitos na calha — entre os quais se contarão árbitros contactados para beneficiarem o clube na caminhada rumo ao título —, estando as autoridades a averiguar se as ramificações deste alegado esquema de corrupção chegam ao topo da hierarquia e se abrangem também membros da direcção do Sporting.

Face aos últimos acontecimentos, precipitados pelas declarações de Paulo Silva ao Correio da Manhã, em que o empresário desvenda o alegado modus operandi e os valores pagos aos árbitros da Liga de andebol (entre os 1500 e os 2000 euros, em média), o Sporting emitiu ontem um curto comunicado no qual garante que “confia na justiça” e que “prestará toda a colaboração necessária ao apuramento da verdade”.

Mas as suspeitas não se prendem apenas com o campeonato passado de andebol, ainda que as diligências em curso se centrem especialmente nesta denúncia em concreto. Sob a mira da PJ estarão também jogos de futebol do Sporting na presente temporada e a alegada tentativa de corromper jogadores adversários para facilitarem a vida aos “leões” no relvado — suspeitas sustentadas pelo áudio de conversas mantidas por Paulo Silva com alguns dos demais detidos na Operação Cashball.

Esta nuvem de suspeição motivou reacções dos mais diversos quadrantes, a começar pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP). “A exemplo daquilo que ocorreu, em situações análogas, nas três últimas épocas desportivas, este organismo ir-se-á constituir assistente no processo judicial instaurado”, assinalou a direcção do organismo, garantindo que não compactuará “com a impunidade daqueles que, de forma leviana, coloquem em causa a integridade das competições profissionais de futebol”.

Com o Vitória de Guimarães a ser apontado, pela imprensa desportiva, como um dos emblemas visados neste suposto esquema de aliciamento de jogadores, a direcção do clube minhoto mostrou “surpresa e estupefacção”. “O Vitória Sport Clube repudia, de forma veemente, a prática de qualquer acto que prejudique a verdade desportiva e extrairá as devidas consequências junto de qualquer agente desportivo que se venha a demonstrar ter praticado tais actos”, refere uma nota assinada pelo presidente, Júlio Mendes.

À boleia destas suspeitas, Benfica e FC Porto mantiveram o registo de troca de acusações que pautou toda a época desportiva. Os “encarnados” criticaram “a omissão e o silêncio de todas as autoridades sobre o grave crime de roubo da correspondência privada” do clube — e “uma aliança de opacos contornos entre os rivais” —, enquanto os “dragões” reafirmaram que “o caso dos e-mails é de toda a evidência péssimo para o desporto português, pelos indícios criminosos que os conteúdos desses e-mails contêm”.

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