UEFA levanta reservas sobre negócio milionário da FIFA

Em causa está a vontade de lançar dois novos torneios, aproveitando as bases do Mundial de clubes e da Taça das Confederações.

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Reuters/Thomas PeterLivepic

Os líderes do futebol europeu expressaram nesta quarta-feira “sérias reservas” sobre os planos da FIFA de avançar com duas novas competições internacionais capazes de gerarem 21,2 mil milhões de euros num período de 12 anos. A posição adoptada pelos membros do Conselho Estratégico do Futebol Profissional (PFSC na sigla original) da UEFA prova que Gianni Infantino, presidente do organismo que lidera a modalidade à escala global, terá francas dificuldades em obter um acordo antes do arranque o Mundial da Rússia, dentro de menos de um mês.

Em Março, Infantino tornou público que a FIFA tinha um prazo de 60 dias para obter luz verde para um investimento que garantia um retorno milionário. Com esse prazo a expirar no final desta semana, o organismo terá de fazer algo mais do que acenar com números para convencer muitos dos agentes do futebol.

Em cima da mesa está uma proposta não só para relançar o Mundial de Clubes como um torneio de 24 equipas, disputado de quatro em quatro anos, mas também para pôr em marcha uma Liga Global das Nações, disputada por mais de 200 países a cada dois anos. A passagem do papel para o terreno seria assegurada por uma agência criada para o efeito e que contaria com investidores sauditas, assumindo a FIFA 51% do capital dessa entidade.

“O PFSC expressa, de forma unânime, sérias reservas sobre o processo que rodeia o Mundial de Clubes da FIFA e a Liga Global das Nações e, em particular, sobre o timing inoportuno e a falta de informação concreta”, apontam os membros do conselho, em comunicado, sublinhando a “necessidade de um procedimento claro e definido, que respeite as estruturas existentes e que envolva todos os agentes”.

O próprio modus operandi de Infantino terá desagradado a alguns dirigentes europeus, já que o líder da FIFA optou por abordagens directas a alguns clubes, como o Barcelona, o Real Madrid ou o Manchester United, com o intuito de garantir um apoio de peso para um projecto que lhes garantirá milhões de euros.

“Não é este o papel do organismo que lidera o futebol mundial”, lamentou Lars-Christer Olsson, CEO do grupo das Ligas Europeias, que juntou dirigentes de clubes e sindicatos de jogadores numa reunião mantida nesta quarta-feira e que foi dirigida pelo presidente da UEFA, Aleksander Ceferin.

A intenção da FIFA é que as novas competições arranquem em 2021 e substituam o actual figurino de sete equipas no Mundial de Clubes e também a Taça das Confederações, que actualmente funciona como antecâmara do Mundial. Embora pouco tenha sido revelado sobre a operação de engenharia financeira que servirá de base aos torneios, os investidores ter-se-ão comprometido a gerar 1,7 mil milhões de euros de receitas por cada Liga das Nações e 2,5 mil milhões por cada Mundial de clubes, que seria disputado em Junho. Mesmo que possam abandonar o barco após quatro anos de compromisso.

Zvonimir Boban, um dos homens próximos de Infantino na FIFA, antevê que estas novas (ou reformuladas) competições poderão trazer “algo de belo” ao futebol, mas os receios na Europa são claros: a UEFA teme uma ameaça do Mundial de clubes à Liga dos Campeões, enquanto as Ligas Europeias suspeitam que os prémios previstos agravem ainda mais o fosso já existente entre os clubes nos diferentes campeonatos.

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