O aterro dos políticos cheira mal

Seremos nós, cidadãos, os responsáveis pelo total descrédito da classe política?

Ficou demonstrado, caso alguém ainda tivesse dúvidas, que a classe política tem uma péssima relação com o seu poder em gerar dinheiro.

Para analisarem os montantes não devidos, mas pagos, aos deputados ditos não residentes em Lisboa, embora aí residentes de facto, suas excelências, os senhores deputados da Nação, reuniram-se à porta fechada para ajuizarem em causa própria.

Para modificarem a lei do financiamento dos partidos políticos, estes representantes políticos também já se tinham reunido em segredo, à porta fechada. Daí resultou uma nova lei que, contrariamente à anterior, não impõe qualquer limite aos apoios financeiros que os partidos políticos recebem em campanha eleitoral.

Como ficou agora demonstrado com o caso do ex-ministro da Economia, Manuel Pinho, as dádivas das grandes empresas aos partidos e seus representantes não são puros actos benévolos de cidadania.

Estas pseudo “dádivas filantrópicas” das grandes empresas aos partidos e aos seus representantes têm conduzido a buracos financeiros na economia portuguesa e ao “desaparecimento” de muitos milhares de milhões de euros que, todos nós, incrédulos contribuintes, temos vindo a pagar.

Os mesmos representantes políticos que há dezenas de anos são cúmplices deste contexto legal da porta giratória entre o interesse público e o interesse privado apresentam-se agora ao país como donzelas ofendidas.

A quem pretendem convencer? Aos próprios militantes e amigos da sinecura ministerial que sobrevivem à custa dos favores partidários?

Como pretendem pedir o nosso voto na defesa do Estado de direito, da democracia representativa e da cidadania activa? Metendo medo a todos nós com o fantasma do populismo e do nacionalismo?

Seremos nós, cidadãos, os responsáveis pelo total descrédito da classe política?

Haja bom senso para promover uma justiça célere e não continuar a carpir pela sua ausência.

Reformem-se as instituições começando por reformar as essenciais em democracia, as leis eleitorais e a independência da justiça e dos media.

E digam a verdade sobre a desigualdade salarial, sobre a discriminação nos lugares de poder de decisão, sobre a ausência de contratos para a investigação em ciência (onde a esmagadora maioria são mulheres). Talvez assim os mui publicitados milhões da UE para a inovação não vão novamente parar aos mesmos incompetentes e/ou corruptos.

Se existisse democracia e transparência de regras no interior dos partidos, seria então visível que mais de um terço dos actuais representantes usurpam os lugares políticos que ocupam.

Chegará um dia em que os jovens com empregos precários e sem futuro decidam, por sua vez e através do voto, precarizar os partidos políticos.

Sugerir correcção
Ler 1 comentários