Rui Costa: “Nunca quis ver as imagens do meu último jogo”

O antigo internacional português deu uma entrevista ao jornal A Bola, que a publicou no dia em que faz dez anos que Rui Costa deixou os relvados. O "maestro" falou sobre o quão difícil foi abandonar a carreira de jogador profissional.

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Rui Costa no último jogo da sua carreira, no Estádio da Luz, frente ao Vitória de Setúbal ENRIC VIVES-RUBIO

Rui Costa terminou a carreira de futebolista a 11 de Maio de 2008, precisamente há dez anos. A despedida emotiva deu-se no Estádio da Luz, frente ao Vitória de Setúbal e o “maestro” garante que o adeus aos revaldos foi um momento sensível, que prefere não rever: “Não o escondo... há pouco quando me lembrei do último dia a lágrima ainda veio aos olhos. E posso até dizer que nem gosto muito de rever as imagens desse último dia. Há muitos vídeos na internet, no Youtube, de reportagens da minha despedida que nunca as vejo. Na altura, logo no inicio, havia muita gente a querer mostrar-me as imagens e nunca as quis ver”, conta Rui Costa a A Bola, numa longa entrevista publicada esta sexta-feira pelo jornal desportivo.

O antigo capitão do Benfica esclareceu que a decisão de terminar a carreira, apesar de dolorosa — por conta da sua “paixão” pelo desporto-rei e o “vício do futebol” —, era inevitável por uma questão de profissionalismo e coerência, tanto para com ele próprio como para com o clube da Luz.

“É naquele momento [último jogo da carreira] que pensas duas e dizes: não, não pode ser, não vou deixar… e é um momento realmente muito, muito doloroso mesmo. Porque o vício do futebol que tinhas dentro de ti, a adrenalina que está no corpo e sentir-se que tudo acabou… Mas sentia que estava esgotado e que tinha de dizer chega e juntar uma coisa à outra: não podia ser incoerente comigo, não podia ser incoerente com o clube, estava na hora de acabar… e, para acabar, os meus adeptos e o meu clube deram-me aquilo que nunca sonhei.”

Rui Costa falou ainda da etapa que veio a seguir à de atleta profissional – a de director de futebol do Benfica. O antigo médio esclarece que foi uma transição complicada, por se tratar de “uma responsabilidade gigantesca”. Chegou a pensar que ainda podia dar o seu contributo à equipa dentro das quatro linhas: “Essa sensação, essa nostalgia, acabou por surgir mais tarde: numa altura em que a equipa estava bem, no primeiro ano como director, dei comigo a pensar: bolas, ainda podia estar ali no meio deles.”

O antigo internacional português sublinhou o orgulho pelo seu percurso na selecção portuguesa, realçando o privilégio de ter partilhado o balneário com três gerações na selecção das “quinas”: “Depois tenho a felicidade de ter feito parte de uma geração da selecção nacional que também marca muito o futebol português: ser campeão do mundo pelos sub-20, mas depois em termos profissionais apanhar aquela geração toda… aliás, bem visto apanho três gerações do futebol português”.

O actual dirigente benfiquista ainda teceu considerações sobre o futebol "moderno", e diz que até a posição que ocupava no terreno de jogo já não existe: "O povo adorava os '10'. Hoje esse estilo de futebol de rua perdeu-se. É tudo mecânico”.

Em relação ao que o futuro lhe reserva, Rui Costa reforça a paixão que sente pelo futebol mas deixa o seu destino em aberto: “Andei, ando e andarei sempre no futebol com paixão. O que reserva o futuro? Não sei”.

Rui Costa nasceu para o futebol no Damaia Ginásio Clube, despontou pelo Benfica, ganhou aclamação mundial em Itália, na Fiorentina e no AC Milan, e regressou para encerrar a sua carreira no clube do coração. Teve uma carreira de 18 anos como jogador profissional, arrecadou pelo caminho nove títulos colectivos, entre os quais um Campeonato do Mundo de sub-20, uma Liga dos Campões, um campeonato português e um campeonato italiano, três taças e uma supertaça de Itália.

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