Sporting: um “leão” ferido que se tornou num animal perigoso

Há 15 dias, o clube de Alvalade começava a viver um dos períodos mais agitados da sua história com o presidente e os jogadores de futebol publicamente de costas voltadas. Duas semanas e quatro vitórias depois a palavra crise deixou de fazer sentido?

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Bruno de Carvalho tem tido uma gestão do Sporting polémica JOSÉ SENA GOULÃO

E se, no final da temporada, o Sporting conquistar a Taça de Portugal, derrotando o Desportivo das Aves na final do Jamor, juntando esse troféu à já ganha Taça da Liga? E se os “leões” vencerem os quatro jogos que lhes faltam disputar até ao final do campeonato, garantindo o segundo posto e a possibilidade de lutar por um lugar na Liga dos Campeões? E se, para além das quatro vitórias na Liga, os sportinguistas beneficiarem de duas inesperadas derrotas (ou três empates) do FC Porto, chegando a um título que lhes escapa há 15 anos? Todos estes cenários, uns mais realistas do que outros, passaram a estar no horizonte do Sporting. E tudo isto depois de duas das mais conturbadas semanas da história recente do clube.

As críticas públicas do presidente Bruno de Carvalho aos jogadores da equipa de futebol após a derrota com o Atlético de Madrid, em Espanha, na primeira mão dos quartos-de-final da Liga Europa, fizeram saltar a tampa de uma garrafa em que, percebeu-se depois, havia muita pressão acumulada. Os jogadores revoltaram-se, sócios pediram a demissão do líder “leonino”, membros dos órgãos sociais do clube fizeram o mesmo, as claques mandaram recados aos jogadores… Mas aquilo que poderia ter sido a queda num precipício foi antes um “toque a reunir”.

Como um animal ferido, o Sporting tornou-se perigoso e, desde esse desaire em Madrid, somou quatro vitórias, marcou oito golos e sofreu três. Afastou o FC Porto do seu caminho na Taça de Portugal, sendo agora favorito para vencer a prova o que, a confirmar-se, permitirá ao Sporting terminar a época com dois troféus (algo que já não sucede há dez anos, a primeira vez no consulado de Bruno de Carvalho). O triunfo de quarta-feira sobre os portistas fez ainda a equipa “leonina” bater o recorde de jogos em casa sem sofrer golos em competições nacionais, somando agora 13 as partidas sem ver Rui Patrício ir buscar a bola ao fundo da sua baliza. E se para ser campeão continua a não depender apenas de si, já a possibilidade de ser segundo e com isso conseguir uma vaga na Champions também passou a estar ao seu alcance após a tempestade que se instalou sobre Alvalade na sequência das palavras de Bruno de Carvalho.

Quer isto dizer que Bruno de Carvalho fez bem em apontar o dedo aos jogadores publicamente, espicaçando-os? Pode o presidente sportinguista vir a público dizer que, afinal, tinha razão em exigir mais aos atletas? Para Dias Ferreira, antigo dirigente “leonino” e um dos sócios que mais de perto acompanha a realidade sportinguista, Bruno de Carvalho não devia ter feito o que fez publicamente, mas admite que as suas palavras “podem ter reforçado a união dos jogadores”. No entanto, na sua opinião, “não foi isso o fundamental”. “Acho que mesmo sem as críticas a equipa faria o mesmo”, declarou.

Já Mário Saldanha, antigo presidente da Federação Portuguesa de Basquetebol, encara os últimos dias vividos em Alvalade de outra forma. “Os jogadores e a equipa técnica encheram-se de orgulho em relação aos enxovalhos de que foram alvo. Foi uma resposta ao serem chamados de mimados. E responderam da melhor forma possível”, começou por afirmar antes de acrescentar: “As coisas em termos de resultados desportivos melhoraram mas os problemas do Sporting não ficaram resolvidos porque se ganharam dois jogos. Há muita gente que se regula pelos resultados desportivos mas não sou desses. O problema continua latente e basta reparar que não se viu uma relação próxima entre os jogadores e o presidente.” É a ideia de “paz podre”, que Abrantes Mendes, em declarações à TSF, também defendeu e que, na sua opinião, só desaparecerá de Alvalade com um “pedido de desculpas”.

Já Hélder Amaral, deputado e outro sportinguista que acompanha a vida do Sporting com atenção, não se mostra particularmente impressionado com os resultados recentes dos “leões”. “São os mínimos olímpicos. Pelos vistos é possível fazer melhor”, acrescentou, dizendo que as críticas do presidente aos futebolistas não foram mais do que aquilo que ele já tinha feito aos atletas do hóquei, futsal ou andebol. Mas Hélder Amaral recusa a ideia de que foram elas as responsáveis pela melhoria dos resultados. “Isso seria redutor”, afirmou. “Apenas vieram pôr a nu uma série de problemas de profissionalismo e organização existentes no clube que estão a impedir o treinador e os jogadores de atingir os resultados expectáveis”.

Para já, os últimos 15 dias mostraram um “leão” que soube reagir ao ferimento que lhe surgiu na pele. O próximo mês servirá para perceber se, depois da cicatrização, surgirão ou não sequelas mais ou menos dolorosas.

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