Suécia rejuvenescida testa favoritismo teórico de Portugal

A selecção nacional defronta a sua congénere nórdica na Taça Davis.

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João Sousa Reuters/Geoff Burke

Portugal e Suécia estrearam-se na Taça Davis no mesmo ano, 1925, mas as semelhanças ficam-se por aí. Entre 1974 e 1998, os suecos dominaram o ténis mundial, conquistaram sete títulos na mais importante competição tenística por equipas e, através de Bjorn Borg, Stefan Edberg e Mats Wilander, somaram 25 troféus do Grand Slam; os melhores resultados dos portugueses na Taça Davis foram as presenças no play-off de acesso ao Grupo Mundial, em 1994 e no ano passado. O que explica que só neste fim-de-semana, as duas nações se defrontem pela primeira vez, em Estocolmo. Mas Portugal tem, nos próximos dois dias, a possibilidade de voltar à eliminatória de acesso à primeira divisão, caso vença a Suécia, que procura reencontrar a glória perdida.

Tudo começou com o fenómeno Borg: ao vencer o Torneio de Roland Garros em 1974, ao mesmo tempo que o ténis se tornava bastante mediático com o início das transmissões televisivas, o teenager sueco desencandeou uma explosão da modalidade na Suécia. Com a conquista de seis troféus em Roland Garros e cinco (consecutivos) em Wimbledon, Borg colocou o ténis no top da lista dos desportos mais populares do seu país, a par do hóquei no gelo e esqui. E muitas das crianças que começaram então a jogar ténis, acabaram por herdar esse legado.

Em Setembro de 1986, Wilander, Edberg, Joachim Nystrom e Mikhail Pernfors ocupavam as posições 2, 3, 9 e 10 do ranking mundial. Em 1996, os suecos ainda apresentavam dez representantes no "top-100", dos quais três jogadores no "top-20" – Thomas Enqvist (9.º), Stefan Edberg (14.º) e Magnus Gustafsson (17.º). Mas com o iniciar do novo século, os feitos do ténis sueco foram rareando e uma década mais tarde, apenas tinham três entre os 100 melhores: o jovem Soderling (25.º) e dois com mais de trinta anos: Jonas Bjorkman (54.º) e Thomas Johansson (71.º).

Pelo meio, Magnus Norman foi finalista em Roland Garros, em 2000, e atingiu o segundo lugar do ranking; Enqvist esteve na final do Open da Austrália em 1999 e ocupou o quarto lugar da tabela ATP e Thomas Johansson surpreendeu no início de 2002, ao triunfar na Austrália e alcançar o sétimo posto do ranking.

Mais recentemente, Soderling foi a excepção à regra: em 2009 quebrou a hegemonia de Rafael Nadal em Roland Garros, derrotando-o nos oitavos-de-final e só perdeu na final, frente a Roger Federer. No ano seguinte, repetiu a presença no derradeiro encontro do Grand Slam francês, após eliminar Federer nos quartos-de-final, mas Nadal vingou-se.

Numa recente entrevista, Soderling resumiu aquilo que é a opinião unânime: “A federação sueca tornou-se preguiçosa. Tal como outros desportos, o ténis evoluiu e melhorou, mas os treinadores na Suécia não melhoraram e os métodos de treino mantiveram-se os mesmos.”

A 17 de Julho de 2011, Soderling conquistou o 10.º título da carreira na Suécia, em Bastad. Poucos adivinhariam que seria também uma despedida; poucos dias mais tarde, foi-lhe diagnosticada uma monucleose e não voltou a competir. E, no final de 2012, o melhor sueco, Patrik Rosenholm, aparecia no 376.º lugar.

Mas algo mudou nos últimos anos, com a passagem de antigos jogadores a treinadores e hoje em dia surgem 27 suecos no ranking ATP, 16 dos quais com menos de 23 anos. Magnus Norman fundou a “Good to Great Tennis Academy” com os ex-tenistas Mikael Tillström e Nicklas Kulti. E foi criada uma Tennis University, onde os jovens podem conciliar estudos e treinos, sendo esta parte da responsabilidade da ReadyPlay Academy, de Stefan Edberg e Magnus Larsson.

O próprio Soderling é, desde Julho passado, o treinador do melhor tenista sueco da actualidade, Elias Ymer, de 21 anos e 133.º no ranking ATP. Será ele e o irmão Mikael (19 anos, 355.º) que terão a responsabilidade de defrontar, respectivamente, Gastão Elias (106.º) e João Sousa (70.º), no primeiro dia da eliminatória do Grupo I, a partir das 16 horas portuguesas. Completam a equipa anfitriã Markus Eriksson, de 28 anos e 298.º no ranking de singulares, e o veterano Andreas Siljestrom, de 36 anos e que surge classificado apenas em pares, no 133.º posto.

Na última eliminatória, foi Mikael Ymer a conquistar o decisivo terceiro ponto frente à Ucrânia, culminando a recuperação de 0-2. Aliás, a Suécia detém o recorde da Taça Davis ao vencer seis eliminatórias em que esteve em desvantagem por 0-2. E Borg ainda mantém outro recorde, com 33 encontros consecutivos sem perder, entre 1973 e 1980.

O court instalado no Kungaliga Tennishallen é muito rápido, ao gosto dos tenistas nórdicos. E o novo formato também favorece os suecos, com pouca experiência em encontros à melhor de cinco sets. Mas as novas regras ditam que as eliminatórias do Grupo I sejam realizadas em apenas dois dias, o que faz com que no sábado se tenha de jogar um par e dois singulares, obrigando a que os encontros tenham de ser disputados à melhor de três sets.

"O court está rápido, as bolas são um pouco diferentes do que estamos habituados. Provavelmente, a vantagem do ‘hardcourt’ é mais da Suécia. Jogámos muitas eliminatórias em casa e jogámos para aí 80% das eliminatórias em terra batida. Se estamos confortáveis em terra batida, a verdade é que temos jogadores versáteis", disse o capitão de Portugal, Nuno Marques, que conta ainda na equipa com Pedro Sousa (117.º) e João Domingues (198.º).

Filhos de pais etíopes, emigrados nos anos 80, os irmãos Ymer lideram a renovação do ténis sueco e até motivaram o regresso do circuito challenger ao país, em 2016, com um torneio em Jonkoping, após uma ausência de 20 anos. Da geração seguinte destaca-se já um nome: Leo Borg, filho mais novo do campeoníssimo Bjorn e actual 23.º no ranking europeu de sub-16.

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