Escolas “amigas das crianças” vão ter selo da Confap

Confederação das Associações de Pais quer distinguir as escolas mais “amigas das crianças”. Para isso, vai avaliar ideias inovadoras em áreas como o espaço de recreio, a alimentação, a segurança ou o envolvimento da família.

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Nuno Ferreira Santos

Até 23 de Março, as escolas com ideias e projectos inovadores em categorias como a segurança, espaços de recreio, alimentação e higiene, formação cívica, envolvimento da família e projectos extracurriculares, podem candidatar-se à iniciativa “Escola Amiga da Criança”. O projecto, promovido pela Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), tem como objectivo atribuir um selo de qualidade às escolas que se distingam nestes aspectos que ficam à margem dos “rankings habituais”, feitos sobretudo com base nas notas dos exames, diz a associação.

Todas as escolas portuguesas, públicas ou privadas, do ensino pré-escolar ao secundário, são convidadas a apresentar as suas ideias. Os directores das escolas, os professores e as associações de pais são os responsáveis pela submissão da candidatura. A 10 de Maio são conhecidas as escolas que vão ter o selo “Escola Amiga da Criança”, a 30 de Maio são apresentadas presencialmente as propostas para eleger o 1.º prémio e a 1 de Junho é conhecida a escola mais "amiga das crianças". A Confap diz que já recebeu mais de cem candidaturas.

Jorge Ascenção, presidente da Confap, explica que foi a “preocupação com um tempo feliz e bem passado [pelas crianças na escola]”, que motivou o arranque do projecto. A ideia partiu de Eduardo Sá, psicólogo e membro do júri. O psicólogo explica que queria “qualquer coisa com o mesmo tipo de lógica dos rankings, mas subversiva”. Que contribua “ainda mais” para a decisão dos pais sobre a escola que os filhos vão frequentar.

O presidente da Confap reforça que “é uma indicação às famílias de que aquela escola, independentemente do lugar que tem no ranking, é amiga da criança”. “Nós não queremos classificar escolas”, sublinha. Trata-se antes de “dar uma outra visão da importância do trabalho que a escola pode desenvolver”. Acima de tudo “as crianças têm de gostar da escola”.

A avaliação dos projectos será assegurada por uma comissão de avaliação composta por Jorge Ascenção, Eduardo Sá, Tiago Morais Sarmento, administrador executivo da Leya, Ariana Cosme, coordenadora do Observatório da Vida nas Escolas, Armando Leandro, ex-presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens, Isabel Stilwell, jornalista e escritora, José Matias Alves, coordenador do Serviço de Apoio à Melhoria da Educação da Universidade Católica, José Vítor Pedroso, director-geral da Direcção-geral da Educação, e Margarida Pinto Correia, directora de Inovação Social da EDP.

A escola vencedora recebe um prémio em livros no valor de cinco mil euros.

Escolas amigas? Nem todas

“Ainda há algum trabalho a fazer. As escolas procuram ser amigas das crianças, mas por esta ou aquela razão, muitas vezes não são”, lamenta Jorge Ascenção. “O que nós achamos é que é possível fazer um esforço, continuar a fazer diferente, temos de nos envolver todos. As escolas ainda não estão numa verdadeira sintonia com as famílias.”

Por sua vez, Eduardo Sá detalha que “o modelo [da escola] tem de ser repensado”. “Os miúdos têm cada vez menos tempo para serem crianças.” 

Para José Matias Alves, “é preciso que haja um movimento, uma dinâmica que reforce os laços com as crianças, porque há muitas crianças que estão em sofrimento nas escolas”. O docente da Universidade Católica, que também foi professor do ensino secundário, destaca que “é importante estar próximo das crianças, ouvi-las, reconhecer a sua singularidade e tratá-las como pessoas e não como números”.

“Felizmente, há bons exemplos” de escolas amigas, garante o professor da Católica. Mas “ainda há muito campo para lavrar para que as crianças não fiquem abandonadas a si mesmas, a desistir da escola e, sobretudo, de si próprias”.

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