Depois do não, o sim: afinal, veteranos querem garraiada na Queima das Fitas de Coimbra

Direcção-Geral da Associação Académica de Coimbra garantiu que "vai levar a decisão democrática [do referendo] até às últimas consequências". Movimento Queima das Farpas diz que a decisão do conselho demonstra "a sua inadequação ao papel que deve representar hoje na Academia”

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Carla Carvalho Tomás

O Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra decidiu esta quarta-feira, 21 de Março, em reunião, que a garraiada permanece na Queima das Fitas de Coimbra, indo contra a decisão do referendo, onde 70,7% dos estudantes votaram pelo seu fim.

Apesar disso, a direcção-geral da Associação Académica de Coimbra garantiu que "fará cumprir intransigentemente a decisão democrática dos estudantes" e que a "vai levar até às últimas consequências".

A decisão do Conselho de Veteranos, em reunião, "foi a de que a garraiada vai continuar no programa da Queima das Fitas", disse à agência Lusa o dux veteranorum (líder do organismo), João Luís Jesus, referindo que estiveram presentes na votação 27 veteranos.

João Luís Jesus recusou-se a dizer se a decisão da manutenção da garraiada foi aprovada por unanimidade, considerando que "não interessa o número de votos. Interessa que as decisões são por maioria".

O dux do Conselho de Veteranos afirmou também que tem "considerações a fazer sobre esta decisão", mas que apenas na sexta-feira irá prestar declarações sobre a votação, após analisar a situação e reunir com a Comissão Organizadora da Queima das Fitas (COQF) e a direcção-geral da Associação Académica de Coimbra (AAC).

No referendo promovido a 13 de Março, com uma participação de 5638 estudantes, os alunos da Universidade de Coimbra decidiram acabar com a garraiada na Queima das Fitas.

À pergunta "Deve o evento garraiada continuar no programa oficial da Queima das Fitas?", 70,7% dos estudantes que participaram no referendo responderam "Não", 26,7% "Sim".

Na altura, o secretário-geral da COQF referiu que, após o resultado, o Conselho de Veteranos, que é um dos órgãos tutelares da Queima das Fitas e que rege as actividades tradicionais, teria a "palavra final".

Decisão é uma "afronta" à democracia

A associação académica de Coimbra disse que "não admite, em circunstância alguma, qualquer desrespeito pela vontade democrática dos estudantes " e classificou a decisão como uma "uma afronta directa" à "história colectiva" e "a cada um dos estudantes da Universidade de Coimbra".

A direcção-geral agendou ainda uma conferência de imprensa para 3 de Abril para esclarecer "as múltiplas questões de ordem financeira e programática que se têm suscitado quanto à presente e às anteriores edições" da Queima, bem como anunciar "publicamente as acções que levará a cabo para a reforma estrutural que se impõe".

Já o movimento Queima das Farpas disse, em comunicado enviado às redacções, que ao “desrespeitar a vontade de milhares de estudantes expressa em referendo”, o conselho teve “uma atitude autocrática sem precedentes na Academia”.  “Com esta atitude inqualificável, o Conselho de Veteranos demonstra a sua inadequação ao papel que deve representar hoje na Academia”, acusam.

Para o movimento, os veteranos usaram “uma posição de privilégio para fazer tábua rasa da vontade de 70,7% dos 5638 estudantes que votaram livre e democraticamente” e defendem que agora é altura de “desencadear os mecanismos que reponham a justiça e democracia”. No mesmo comunicado, apelam à direcção-geral da Associação Académica e à comissão organizadora da Queima das Fitas de Coimbra que “respeitem a vontade dos estudantes” expressa “num referendo exigido pelo Conselho de Veteranos que pretende agora ignorá-lo”.

Antes da reunião do Conselho de Veteranos, o dux tinha explicado à agência Lusa que iria levar à reunião a proposta de acabar com a garraiada, tal como decidido em referendo.

Questionado pela Lusa, o presidente da direção-geral da AAC, Alexandre Amado, afirmou que "a decisão, a confirmar-se, é surreal", garantindo que vai levar "a decisão democrática dos estudantes até às últimas consequências".

"Se os estudantes decidiram que não há garraiada, não há garraiada", vincou, referindo que pretende reunir com o dux "para perceber o que se passou".

A afluência às urnas para o referendo para a garraiada foi significativa, atendendo a que nas eleições para a direcção-geral da Associação Académica de Coimbra participaram quase oito mil estudantes em 2017 e menos de cinco mil em 2016.

Notícia actualizada às 13h com o comunicado do movimento Queima das Farpas.

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