Acha que o campeonato está renhido? Então olhe para a II Liga

Cinco equipas já ocuparam a liderança e o trono pode conhecer nesta quarta-feira o sexto dono. Equipas com história na I Liga estão na luta pelo regresso, e a grande diferença de receitas explica a aposta na subida. Mas também há coisas que podiam ser melhoradas, diz técnico com experiência na competição

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Jogadores do Arouca há um ano, antes da despromoção à II Liga Octávio Passos/Lusa

Com uma luta a três pelo título de campeão nacional, esta está a ser a edição da I Liga mais competitiva no presente século. Mas isso não é nada comparado com o que se vive na II Liga, onde há pelo menos sete equipas na disputa pelos dois lugares que dão direito à subida de divisão. Ao contrário do que aconteceu na época passada, em que as vagas ficaram rapidamente entregues – Portimonense e Desportivo das Aves terminaram com uma vantagem de 19 e 17 pontos, respectivamente, sobre o terceiro classificado – este ano o suspense vai durar até à última.

A II Liga já teve cinco líderes distintos esta temporada, e pode nesta quarta-feira ficar a conhecer o sexto – o Nacional da Madeira, que às 15h visita o Real Massamá num jogo em atraso da 27.ª jornada, pode alcançar o primeiro lugar (com os mesmos pontos do Penafiel mas vantagem no confronto directo) em caso de vitória.

“O normal é o que está a acontecer este ano, muita imprevisibilidade e muita competitividade. A II Liga vai ser disputada até ao último segundo”, previu Paulo Alves, treinador com larga experiência na competição, em conversa com o PÚBLICO. “No ano passado houve duas equipas muito acima do normal em termos de II Liga, tanto no investimento em jogadores, como na qualidade das equipas e dos seus treinadores. Muito cedo tomaram uma dianteira que as outras equipas não conseguiram recuperar”, acrescentou.

Para além de Nacional e Penafiel, estão ainda na luta Académica, Arouca, Santa Clara, Académico de Viseu e Leixões (a equipa de Matosinhos é oitava classificada, a sete pontos dos lugares de promoção). São todas equipas com experiência mais ou menos recente no principal escalão do futebol português – os viseenses são quem há mais tempo espera pelo regresso, após a despedida em 1988-89. “Essa experiência pode fazer a diferença, nomeadamente nos clubes mais recentemente despromovidos, que mantêm algum estatuto e jogadores que vieram da I Liga”, assinalou Paulo Alves.

Sem entrarem nas contas da subida de divisão (mas com potencial para baralhá-las), as equipas B vão actualmente competindo numa zona cinzenta. O Sporting já anunciou que vai extinguir a formação secundária para integrar o futuro campeonato sub-23, onde também estará o Sp. Braga – que no entanto não esclareceu qual o futuro da equipa B. “É preocupante não se saber o que vai ser o futuro”, frisou Paulo Alves: “Quais vão sair, quais vão continuar. Isso já devia estar definido, não devia ser tratado a meio do campeonato.”

“Não me choca as equipas B estarem na II Liga. A presença delas é benéfica, porque trazem competitividade e qualidade, e têm projectado muitos jovens”, salvaguardou o ex-internacional português. “Mas há regras que deviam ser acauteladas: há jogos em que equipas B apresentam determinada equipa, com jogadores da equipa A, e os jogadores andam para cima e para baixo. Numa semana pode apresentar uma equipa muito forte, e na outra com mais juniores e menos experiência. Isso poderá desvirtuar um pouco a competição. As regras nesse sentido deviam ser mais definidas”, sublinhou.

Há também a situação do Gil Vicente, com reintegração na I Liga agendada para 2019-20, na sequência do princípio de acordo assinado em Dezembro pelo clube e pelo Belenenses, que permitiu colocar um ponto final no “caso Mateus”, que durava há 12 anos. “Essa indefinição é difícil de gerir, desde logo para o Gil Vicente. O clube tem a situação definida para daqui a época e meia, mas como vai ser até lá?”, questionou Paulo Alves. “Quando eu ainda estava a treinar o Gil Vicente, surgiram notícias que diziam que os jogos poderiam não contar para a classificação. Disputar um campeonato sem pontos é uma situação que nunca se colocou”, acrescentou o técnico.

A aposta na subida faz-se também tendo em conta factores financeiros. Há uma clivagem considerável nas receitas que um clube recolhe na II Liga e aquelas com que os emblemas do primeiro escalão podem contar. “Embora esses assuntos não passem muito pelos treinadores, penso que em termos de direitos televisivos estamos a falar, nesta altura, na I Liga, à volta dos 2,5 ou 3 milhões de euros por época. Na II Liga tem vindo a melhorar, mas ainda andará à volta dos 500 mil euros por temporada”, explicou Paulo Alves, acrescentando: “É uma diferença abismal, o que explica a vontade que há de subir de divisão.”

A oito jornadas do fim, a emoção promete aumentar. A II Liga está neste momento com uma média superior a 2,5 golos por jogo, o que é melhor do que a média final da edição passada da competição (que foi disputada por 22 equipas, contra as 20 do formato actual). Com um total de 309.217 espectadores nos estádios, a média ronda os 1055 por partida. Mas os números escondem realidades muito distintas: segundo os dados da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, a Académica é o clube com melhor média de espectadores (3495), seguida pelo Famalicão (1844). No extremo oposto estão Sporting B (230) e Sp. Covilhã (331).

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