O falso milagre

Sabemos que as praias precisam de ajuda, de areia, de limpeza, de recolha de lixo e de protecção. Não é possível iludirmo-nos que os areais são capazes de se proteger sozinhos.

É chocante ver ondas sujas a bater na areia preta da praia. As enxurradas encheram a ribeira de terra e a ribeira deitou-a no mar.

À medida que a maré enche a água vai ficando menos barrenta. Ao rebentar com força crescente sobre a areia fica-se com a impressão que o mar está a bater com água limpa na água suja, lavando a praia com raiva.

Vêm aí mais temporais mas os pescadores dizem que o mar consegue sempre limpar-se, que lhe bastam três dias para repor a cor verde e límpida da água.

Nunca sei se me estão a gozar. Dizem que as enxurradas, vindas das hortas saudáveis que dão para a ribeira, trazem minhocas deliciosas para os peixes. Pintam uma utopia em que a natureza se governa a ela própria e o mar sonha com o dia em que os seres humanos pararem de interferir com ele. "Pode ficar descansado", diz-me um deles, "o mar sabe o que faz".

Se o mar soubesse o que faz nós poderíamos continuar a fazer-lhe mal, seguros que repararia todos os danos? Não será esta mania dum mar omnipotente uma fantasia que autoriza a nossa destruição dele? Não será uma exortação a sacarmos e envenenarmos tudo o queremos porque o mar magicamente será capaz de repor todas as populações e arranjar antídotos para todos os venenos?

O mar não vemos. As praias, sim. Sabemos que as praias precisam de ajuda, de areia, de limpeza, de recolha de lixo e de protecção. Não é possível iludirmo-nos que os areais são capazes de se proteger sozinhos: há muito que muitas praias tinham desaparecido. Já o mar... coitado!

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