Cordão humano contra exploração mineira na serra da Argemela

Protestos por causa de exploração de uma mina entre Fundão e Covilhã. "Estamos aqui para mostrar a nossa preocupação e para lembrarmos que temos de proteger a nossa Serra"

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População teme que mina destrua terras Paulo Pimenta

Centenas de pessoas juntaram-se hoje na localidade do Barco, na Covilhã, para protestar contra a exploração mineira na serra da Argemela, numa área que se estende também ao concelho do Fundão.

Na companhia de políticos de diferentes partidos, e entoando palavras de ordem como "Argemela é nossa e há de ser", os manifestantes formaram um cordão humano, reiteraram argumentos contra a extração de minério naquela zona e mostraram-se muito preocupados com os efeitos nocivos que serão sentidos no ambiente e na vida das populações se for aprovado o projecto que está em avaliação.

O processo para a concessão mineira de uma exploração nesta região foi iniciado em 2011, sendo que no início de 2017 foi publicado o pedido de atribuição de concessão por parte de uma empresa privada, o que foi contestado pela população, autarcas e diferentes partidos políticos.

"Estamos aqui para mostrar a nossa preocupação e para lembrarmos que temos de proteger a nossa Serra. Estamos a falar de uma exploração mineira a céu aberto, que estaria muito próxima de várias populações e que tem o Rio Zêzere à porta", referiu Maria do Carmo Mendes, uma das organizadoras do protesto.

Com a infância e juventude passadas no Barco, Maria do Carmo Mendes contou que estudou e trabalhou em Lisboa, mas assim que pôde regressous. Na escolha, teve em conta a qualidade de vida que poderia ter e que vê agora diz ver ameaçada por um projecto mineiro que considera que só contribuirá para a contaminação das águas, do solo e do ar, bem como para a destruição da fauna e da flora, do património histórico e da saúde das pessoas.

"Está em causa a destruição de cerca de 400 hectares da nossa serra", referiu, referindo-se a uma área que abrange os concelhos da Covilhã e do Fundão, no distrito de Castelo Branco.

Maria do Carmo Mendes explicou que aos 45 hectares previstos para a mina a céu aberto têm de se juntar as áreas previstas para três escombreiras de deposição de estéreis, uma lavaria e uma barragem de rejeitados.

Um cenário que Pedro Torres, outro dos manifestantes, não quer ter à porta de casa: "Não queremos poluição para a nossa terra e nós temos o direito de criar os nossos filhos sem estarmos sujeitos à poluição".

Com 26 anos, Joana Fernandes também se mobilizou para o cordão humano no Barco porque quer ajudar a defender a qualidade de vida da terra onde nasceu e porque não acredita que os postos de trabalho prometidos possam compensar as perdas que dá como certas.

Uma opinião partilhada pelo presidente da Junta de Freguesia do Barco, Luís Morais, que considera que a localidade vai perder mais do que ganhar. Aos prejuízos ambientais, junta os prejuízos ao nível do imobiliário e do turismo, garantindo que há investidores que estavam a comprar terrenos naquela localidade para projetos de turismo local e suspenderam tudo à espera de uma decisão relativa à concessão mineira.

Frisando que a freguesia do Barco fica a apenas 500 metros (em linha recta) do espaço para onde está projetada a mina, Luís Morais não tem dúvidas de que "a população vai sofrer as consequências de toda a poluição que será criada". "Vão usar três mil quilos de explosivos por dia, agora imaginem o que isto será todas as manhãs", afirmou.

Efeitos que também seriam sentidos em Silvares, no concelho do Fundão, que também está contra esta exploração, como frisou a presidente daquela freguesia, Cláudia Pereira.

O presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, garantiu que a autarquia está solidária com a população e que defenderá "intransigentemente" os seus interesses, mesmo que haja promessas da criação de riqueza e de postos de trabalho.

"Poderíamos ter aqui, eventualmente, 100 ou 200 postos de trabalho (...), mas isso compensa a perda de qualidade de vida, a contaminação das águas, a contaminação do ar, as explosões constantes que aqui vão existir?", questionou.

"Não queremos uma Minas da Panasqueira II", referiu, por seu turno, Carlos Jerónimo, adjunto do presidente da Câmara do Fundão.

Também marcaram presença deputados à Assembleia da República (Hortense Martins e João Marques, do PS, Manuel Frexes, do PSD, e Pedro Soares, do BE) e Miguel Martins, dirigente do Partido Ecologista "Os Verdes".

Em Abril do ano passado, numa resposta a questões apresentadas pelos deputados socialistas eleitos pelo círculo de Castelo Branco, o Governo garantiu que ouvirá "populações e as autarquias abrangidas antes de tomar qualquer decisão".

 

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