A história da arquitectura de Coimbra tem uma nova casa

Protocolo permite criar o Arquivo de Arquitectura da Universidade de Coimbra. Processo de catalogação vai ser gradual.

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nelson garrido

Não são apenas documentos sobre a cidade de Coimbra que cabem no novo arquivo, mas estes constituem a sua maioria. Esta semana, o Departamento de Aquitectura (DARQ) da Universidade de Coimbra (UC) e o Centro de Documentação 25 de Abril (CD25A) assinaram um protocolo para criar o Arquivo de Arquitectura da UC (AAUC).

A necessidade surge da acumulação de material no DARQ. Embora esteja guardada, a documentação não se encontrava devidamente catalogada. No departamento há uma biblioteca, mas “não serve para guardar documentos deste tipo”, que inclui material original ou policopiado, explica o director José António Bandeirinha.

O AAUC poderá ser consultado no CD25A, no Colégio da Graça, na Rua da Sofia, que desde 2016 serve de casa ao centro. De acordo com o director do CD25A, Rui Bebiano, haverá várias fases de disponibilização deste acervo uma vez que o material “é imenso e inclui arquivos pessoais que são essenciais para a história da arquitectura portuguesa e do urbanismo de Coimbra”.

O responsável esclarece que o arquivo está ainda “numa fase de composição” e que o Centro de Documentação não tem “condições para tratar tudo de uma vez”. O trabalho de catalogação será gradual, sendo que a primeira fase passa por identificar os “núcleos em relação aos quais pode haver maior interesse”, em termos académicos ou de investigação. “A médio prazo esperamos proceder a um inventário total”, refere.

A maioria do espólio incide sobre Coimbra, apesar de haver trabalhos sobre outras geografias. No arquivo ficarão guardados trabalhos que ajudaram a moldar a cidade, como os de arquitectos como Carlos de Almeida, José Santiago Faria ou Étienne de Gröer.

O espólio de José Santiago Faria chegou através da filha, a professora Alice Santiago Faria, menciona o director do DARQ. Envolvido em várias intervenções no centro histórico e obras públicas das décadas de 1970 e 1980, Santiago Faria é também responsável pela intervenção de reabilitação e ampliação da Quinta dos Loios, que serve hoje de sede à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. O acervo de Santiago Faria inclui “uma parte considerável do espólio” de Étienne de Gröer.

O arquitecto que veio de França a convite de Duarte Pacheco foi o responsável por um plano geral de urbanização de Coimbra na década de 1940. “ É ele que propõe a ocupação do Vale do Calhabé [onde hoje está localizado o Estádio Cidade de Coimbra ], é ele que propõe a primeira ocupação da área da Solum” e é também da sua iniciativa que nasce a “concentração da área industrial na Pedrulha”, desenvolve Bandeirinha. E conclui: “Aquilo que é a cidade hoje é definido pelo plano do de Gröer”.

A influência do arquitecto faz-se ainda hoje notar no desenvolvimento da Baixa, zona para a qual elaborou vários propostas de abertura de um canal em direcção a Santa Cruz. A Câmara Municipal de Coimbra está a levar a cabo a construção da Via Central, que passará a ligar a avenida Fernão de Magalhães à Rua da Sofia, na linha do que tinha sido desenhado por de Gröer.

Carlos de Almeida desenhou a primeira fase de construção da urbanização da Relvinha, no âmbito do SAAL, o centro comercial Girassolum, para além de “um número muito considerável de habitações colectivas feitas ao longo das décadas de 1960 e 1970”, explica o director do DARQ. Acresce que tem ainda produção escrita sobre “questões relaccionadas com a teoria da cidade e até com a resistência ao fascismo”, completa Bandeirinha. “Portanto faz todo o sentido que este acervo esteja no CD25A”. <_o3a_p>

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