American Streaming Story: Netflix rouba Ryan Murphy, mais um autor de sucesso, à TV

Serviço de streaming terá as novas séries e filmes do responsável de American Horror Story, American Crime Story ou Glee. Ofensiva Netflix soma-se ao contrato com Shonda "Anatomia de Grey" Rhimes.

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Ryan Murphy DANNY MOLOSHOK/Reuters

O mercado de transferências televisivo continua a ser agitado pela ofensiva dos serviços de streaming e agora foi a vez do autor e produtor Ryan Murphy ser “roubado” da Fox para o Netflix. O responsável pelos franchises American Horror Story e American Crime Story segue na peugada de Shonda Rhimes, a poderosa responsável por Anatomia de Grey, também seduzida pelo Netflix nos últimos meses. O seu contrato valerá entre 200 e 240 milhões de euros e dá ao serviço de streaming todas as novas séries e filmes de Murphy.

De acordo com o comunicado da Netflix, divulgado ao final da tarde de terça-feira (hora de Los Angeles), o contrato tem a duração de cinco anos e começa já este ano, mais precisamente a 1 de Julho. Murphy é autor ou produtor de séries como a juvenil e musical Glee, do drama hedonista Nip/Tuck ou das marcas de horror ou crime real supracitadas que têm marcado os últimos anos de prolífica produção televisiva – televisão de nichos temáticos, os chamados géneros, ou com base no crime dos últimos 20 anos. “As séries de Ryan Murphy influenciaram o zeitgeist cultural global, reinventaram géneros e mudaram o rumo da história da televisão”, destaca na mesma nota Ted Sarandos, o presidente e responsável pelos conteúdos do Netflix.

Não escapa a Sarandos uma outra faceta do trabalho de Murphy. Activista LGBTQ, o produtor tem apostado na paridade e tem um programa que visa equilibrar a presença de mulheres, profissionais não-brancos ou LGBTQ nos seus projectos. Tema tão urgente no mesmo zeitgeist, esse espírito do tempo actualmente dominado pelo momento #MeToo mas também pelas causas de representação de minorias raciais, Murphy é também uma flor na lapela de uma empresa – não só é um profissional premiado com Emmys e Prémios Peabody como também se destaca a sua “dedicação incansável à excelência e ao dar voz aos sub-representados”, sublinha Sarandos.

O Netflix, que tem investido fortemente na produção de conteúdo original para construir a sua marca a par de ser um repositório de produtos dos incumbentes (os canais de televisão tradicionais, generalistas ou da TV por subscrição), continua assim a sua ofensiva com alguns dos autores e produtores mais cobiçados da indústria. A transição de espectadores da televisão convencional para a televisão online está em curso e segundo a Hollywood Reporter este não foi o único serviço de streaming a fazer uma oferta a Ryan Murphy. Nos últimos tempos, tanto a Apple quanto o Facebook entraram na corrida do streaming com produção própria e a Disney anunciou uma aplicação própria que em 2019 deve albergar os seus muitos conteúdos (que entretanto vai retirar do Netflix)

O produtor trabalhava até aqui com o canal FX, do grupo Fox – o mesmo aconteceu com Shonda Rimes e com a ABC, que pertence ao gigante Disney e que terá recebido 80 milhões de euros para migrar para o Netflix. A venda em curso da Fox à Disney, que aguarda o parecer da entidade reguladora norte-americana, significa que o grupo perde assim dois autores para o Netflix e, como assinala a Variety, é um “golpe” para a Disney depois de o seu presidente, Bob Iger, ter cortejado pessoalmente Murphy para as suas fileiras, por exemplo.

Porém, os franchises American Horror e American Crime não terminam aqui. O próprio Murphy diz que vai continuar a trabalhar com a Fox “nos nossos programas existentes”. American Crime Story, por exemplo, tem já planeada uma temporada dedicada ao furacão Katrina; nesta temporada estreou-se o procedural 9-1-1 na Fox e em breve surgirá Pose, sobre a cultura transgénero. A exclusividade destes novos contratos diz apenas respeito aos novos projectos a desenvolver. Ainda assim, o contrato só entra em vigor quando expirar o acordo de exclusividade de Murphy com a 20th Century Fox TV. Segundo o New York Times, que estima que o valor do contrato seja mesmo de 250 milhões de euros, este será um dos maiores e mais valiosos negócios alguma vez feito com um produtor de TV.

“Não me passa ao lado o aspecto histórico deste momento”, diz Murphy no mesmo comunicado do Netflix. “Sou um miúdo gay do Indiana que se mudou para Hollywood em 1989 com 55 dólares de poupanças no bolso, por isso o facto de os meus sonhos se terem cristalizado e tornado realidade de uma forma tão importante é algo que me emociona e me esmaga”, disse, prometendo continuar a apostar “nas mulheres, nas minorias e nos heróis e heroínas LGBTQ”.

Murphy é também argumentista em quase todas as suas séries e além do seu trabalho televisivo realizou para o cinema Comer, Orar, Amar (2010), com Julia Roberts, ou o telefilme premiado com um Emmy The Normal Heart (2014), para a HBO. 

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