Portugal renova talento e eleva intensidade com título europeu na mira

A selecção procura redimir-se esta noite da final perdida para a Espanha, em 2010. Desde esse ano, o número de praticantes federados até caiu, mas a modalidade tem dado passos rumo ao profissionalismo.

Foto
LUSA/IGOR KUPLJENIK

Chegou a hora do tudo ou nada. O momento que pode eternizar todo um percurso de evolução de uma modalidade que tem crescido em Portugal a um ritmo galopante. Esta noite, a partir das 19h45 (RTP), em Ljubljana, a selecção nacional de futsal tem nos pés a possibilidade de materializar as esperanças de toda uma geração de atletas. O epílogo do Campeonato da Europa de 2018 junta os dois protagonistas da final de 2010. Na altura, foi Espanha a sair por cima, mas de então para cá houve algo que mudou: o mundo rendeu-se a Ricardinho e o futsal nacional juntou ao talento o que lhe faltava, intensidade.

Há muito poucos pontos de contacto entre o trajecto de Portugal no torneio que hoje termina na Eslovénia e a caminhada rumo à final no Europeu da Hungria, há oito anos. Dessa convocatória, sobram três resistentes — o guarda-redes Bebé, o fixo João Matos e o ala Pedro Cary. E sobra a memória de um torneio recheado de improbabilidades e de dois choques frontais com uma realidade chamada selecção espanhola (derrotas por 1-6 e 2-4).

“Foi tudo atípico. Chegámos à final só com uma vitória, perdemos com a Espanha duas vezes, foi um percurso que nada tem que ver com o que estamos a fazer agora”, recorda Israel, internacional português que marcou presença na competição e que continua a perguntar-se o que teria acontecido se Ricardinho não tivesse falhado a prova por lesão. “Já naquela altura era, para mim, o melhor do mundo, mantinha um respeito tremendo junto dos adversários. Chegámos a comentar, entre nós, que se calhar as coisas poderiam ter sido diferentes.”

A verdade é que o fosso que então separava as duas selecções ibéricas se tornava mais evidente nos confrontos directos. E não era, nunca foi, no entender do ala português, hoje com 41 anos, uma questão de talento: “Nós qualidade temos, tremenda. Bem melhor do que qualquer selecção europeia. Colectivamente é que temos falhado. No meu tempo notava-se uma clara falta de intensidade nos jogos, agora não se nota tanto. E isso traduz-se no resultado final. Os espanhóis, no momento da verdade, não falhavam”, contextualiza, em conversa com o PÚBLICO.

PÚBLICO -
Aumentar

Desde então, muito mudou na paisagem do futsal nacional. Com o Sporting e o Benfica a reforçarem o investimento nos plantéis, gerando visibilidade adicional para a modalidade, com o crescimento das transmissões televisivas, com o aumento da afluência dos adeptos aos pavilhões e, mais recentemente, com o apoio expresso da máquina institucional da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), registou-se um salto qualitativo. A formação cada vez mais regular dos treinadores e a exportação de activos para campeonatos mais competitivos, permitindo aos jogadores uma exposição mais frequente a outros níveis de intensidade, fizeram o resto.

“O nosso campeonato, em relação ao espanhol, ao russo ou ao italiano, fica muito aquém. Estamos a falar de campeonatos totalmente profissionais, e o nosso não o é”, assinala Israel, que chegou a competir em Espanha e na China. “Mas melhorámos em todos os aspectos. Estamos a ser competitivos neste Europeu, quase todos os jogadores da selecção são agora profissionais e estamos mais preparados, até porque o próprio treino evoluiu, é diferente.”

Para uma modalidade que em 1990-91 tinha 1785 jogadores seniores federados e que hoje contabiliza, segundo dados da FPF, 6509 (e que atingiu um pico de 10.337 em 2003-04), o ritmo da evolução tem sido acelerado. E o mediatismo gerado em torno de Ricardinho, cinco vezes eleito como o melhor futsalista do mundo, ajuda a projectar um retrato altamente positivo do trabalho realizado em Portugal. “Os estrangeiros têm do português uma imagem de um jogador sério e comprometido. Têm um respeito muito grande por nós e a verdade é que nós encaixamos bem em qualquer lado”, descreve o actual ala do Futsal Azeméis, que tem no currículo nada menos do que cem internacionalizações.

A emergência de talentos como André Coelho (decisivo no recente embate das meias-finais, frente à Rússia) é apenas mais um indicador de que o viveiro português continua de boa saúde, contribuindo para a homogeneidade de uma selecção que conta com muita experiência (média superior a 29 anos entre os 14 convocados) e, acima de tudo, maturidade na abordagem ao jogo.

Tudo somado, Israel — que é abertamente contra a política de naturalizações que contamina várias selecções e que entende que desvirtua a competição — não hesita em considerar Portugal “favorito” para este tira-teimas com um adversário que sofreu bem mais do que tem sido hábito para atingir a final.

“Estamos fortes, concentrados e muito bem preparados. A Espanha vale por um todo, tem utilizado 10/11 jogadores, tem um muro na baliza. Mas acho que Portugal melhorou colectivamente, e depois... Ricardinho está bem acima de qualquer outro jogador. Acho que será desta vez”, vaticina o ala que apontou dois golos no único triunfo (3-2) de que a selecção nacional pode gabar-se diante da congénere espanhola.

Sugerir correcção
Comentar