Só a Irlanda parece ter armas para ameaçar o "tri" da Inglaterra

O pontapé de saída para a 124.ª edição do Torneio das Seis Nações é dado hoje. Ingleses são os favoritos e podem tornar-se nos primeiros a vencerem por três vezes consecutivas a competição neste século

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Em 23 jogos como seleccionador inglês, Eddie Jones perdeu apenas uma vez Reuters/ANDREW BOYERS

Inglaterra ou Irlanda? A história do Torneio das Seis Nações em râguebi, a segunda competição desportiva mais antiga da Europa, tem demonstrado que apostar no vencedor da prova é dar um tiro no escuro, mas neste ano, apesar da evolução da Escócia, os ingleses são os favoritos e os irlandeses a grande ameaça à selecção de Eddie Jones, que tentará conquistar o que ninguém conseguiu nos últimos 30 anos: vencer a prova por três vezes consecutivas.

Apesar do favoritismo do “XV da Rosa”, se a lógica prevalecer, o sucessor da Inglaterra, que venceu o torneio nos dois últimos anos, não será a Inglaterra. Com quatro vencedores diferentes entre 2008 e 2011 (Irlanda, França, Inglaterra e País de Gales), nos anos seguintes a prova foi ganha por galeses e irlandeses em duas edições consecutivas, mas a tradição manteve-se: desde que a Itália entrou na prova, em 2000, ainda ninguém conseguiu o “tri”. Agora, é a vez de os ingleses tentarem conquistar o que nenhum XV alcança desde 1988.

Desacreditada após o Mundial 2015, prova que organizou e da qual foi afastada na fase de grupos, a Inglaterra recuperou a auto-estima com Eddie Jones. Após um excelente trabalho no Japão, o australiano assumiu o comando dos ingleses em Novembro de 2015 e os resultados superaram as melhores expectativas. Em 23 jogos, Jones perdeu uma vez (contra a Irlanda) e venceu de forma inquestionável o Seis Nações nos últimos dois anos. Com uma equipa homogénea e Owen Farrell letal no jogo ao pé, a Inglaterra terá o primeiro grande teste a 24 de Fevereiro, em Edimburgo, frente à Escócia.

O “jogo do título” parece estar, no entanto, marcado para a última jornada, quando os ingleses receberem a Irlanda. Tendo como base dois dos clubes mais fortes da Europa (Munster e Leinster), os irlandeses têm mantido um alto nível de competência sob o comando do neozelandês Joe Schmidt e, apesar de algumas baixas importantes (Heaslip, O’Brien e Payne), chegarão ao torneio motivados por um mês de Novembro 100% vitorioso, durante o qual humilharam a África do Sul: 38-3. Com uma primeira-linha de qualidade (Furlong, Best e Healy), um “8” poderoso (CJ Stander) e um par de médios competente (Sexton e Murray), Schmidt terá um reforço importante: Bundee Aki. Nascido na Nova Zelândia, o centro estreou-se pela Irlanda em Novembro e formará uma dupla temível com Henshaw.

Em clara ascensão, a Escócia pode ser uma surpresa, mas parece ser prematuro para os escoceses ambicionarem, pela primeira vez neste século, o triunfo no torneio. Os test-matches de Novembro mostraram que a equipa de Gregor Townsend pode bater-se com os melhores — vitória frente à Austrália e derrota com a Nova Zelândia por cinco pontos —, mas o espírito combativo escocês apenas deverá chegar para subir mais um degrau: no ano passado, foram quartos classificados.

Tradicionalmente candidato, o País de Gales parece refém de uma enorme onda de lesões. Os galeses vão começar a prova sem Warburton, Jonathan Davies, Webb, Faletau, Dan Biggar e Dan Lydiate, o que limita as hipóteses da selecção orientada pelo neozelandês Warren Gatland.
A atravessar um momento conturbado, a França dificilmente conseguirá repetir o terceiro lugar do ano passado. Após um mês de Novembro desastroso — derrotas em casa com Nova Zelândia (duas vezes), África do Sul e empate com o Japão —, os franceses trocaram de treinador (Jacques Brunel substituiu Guy Novès), mas, mesmo com três jogos no Stade de France, apenas os mais optimistas colocarão uma equipa que continua à procura de um líder dentro do campo entre os candidatos.

Mais uma vez capitaneada pelo carismático Sergio Parisse, a Itália parece condenada ao último lugar. Com um calendário complicado, os “azzurri” tentarão, com o talento de jogadores como Canna e Castello, calar quem defende que, por mérito desportivo, o lugar dos italianos no torneio deveria ser da Geórgia.

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